sexta-feira, 7 de abril de 2006

Provincianismos

Bem sei, é lá com eles...
Mas não deixa de me meter um bocado de impressão o provincianismo patrioteiro da maioria dos "comentadores", "analistas" e repórteres da nossa praça.
Não estou a falar nas calinadas em matéria de português nem na indigência dos comentários, que isso dava uma enciclopédia da asneira.
Estou a referir-me àquela pregação de moral que pretende obrigar as pessoas a torcer por determinado clube, porque é português e quem não o fizer não tem o patriotismo em dia.
Ora eu, não sendo daqueles que acham que "de Espanha nem bom vento nem bom casamento", confesso, o meu clube de Espanha é o Barça. Portanto, como é natural, torci por esta equipa no jogo da passada 4.ª-feira. Ganhei.
Mas também tenho de confessar que, neste aspecto, sou da velha cepa; daqueles que, jogue aquele clube (de que agora não me ocorre o nome, mas que tem o campo ao pé do CC Colombo) com quem jogar, eu não consigo torcer por ele.
Depois da primeira mão um dos comentários mais ouvidos foi que um tal Ricardo Rocha "secou" o craque Ronaldinho. E logo o entrevistaram e ele disse que o Ronaldinho até lhe tinha vindo dar os parabéns pela exibição e que tinha ficado muito contente por ter sido elogiado pelo melhor jogador do mundo. Esta gesta foi levada até ao jogo da segunda mão, sempre sendo motivo dos maiores encómios. Passou quase despercebido, ou eles, entusiasmados pelo facto de um português ter cometido tão grande feito, não repararam (ou o "patriotismo" foi tão forte que os cegou), que afinal o Ronaldinho deu os parabéns ao Rocha por ele ter sido leal na disputa que mantiveram e não por ter sido assim tão eficaz na cobertura. O que aconteceu, de facto, é que o Rocha fez das tripas coração para cumprir a tarefa de "cobrir" o Ronaldinho o que só lhe ficou bem, mas o craque (sem ter feito um grande jogo, talvez poupando-se para outras ocasiões de maior exigência) fez mesmo assim 3 ou 4 assistências para golo em que a bola só não entrou por incompetência dos protagonistas no último toque.
Mas o mais incrível estava para acontecer. Depois do jogo da 2.ª mão, os tais "comentadores" e repórteres, secundados aliás pelos dirigentes do clube perdedor, foram insistindo na afirmação de que na cabina o ambiente era de "satisfação pelo dever cumprido" e, assim aliviados, iam dando palmadinhas nas costas dos entrevistados.
Deu-me um baque! Não querem lá ver que eu não tosquei bem o que se passou e os gajos passaram a eliminatória? Pois se eles cumpriram o dever...
Ou então o dever deles era apenas perder por poucos e voltámos ao tempo das vitórias morais...

No Sporting que eu quero, não há lugar para "satisfação pelo dever cumprido" quando se perde. Não podemos ir na cantiga lamechas do tipo "eles são tão bons que se perdermos por poucos saímos de cabeça erguida". Se os outros foram melhores, o que temos de fazer é dar-lhes os parabéns e melhorar para ganharmos na vez seguinte.