sábado, 31 de maio de 2008

Ainda os ecos da AG: quando as ideias são repetidas até se tornarem verdades...

Como ensinava esse grande arauto da democracia chamado Goebbels, "uma mentira repetida muitas vezes transforma-se em verdade." A tática parece estar a ser aplicada pelo Conselho Directivo do Sporting que descobriu ter tido uma "expressiva vitória" na AG do passado dia 28. Havia, como se sabe, três propostas em cima da mesa (já não estou a colocar em causa o facto de ser um proposta tripla, ou três propostas separadas...). Duas delas não teriam, alegadamente, de ir a votos, ou seja, a votação era, na sua lógica e nesse caso, indiferente. Uma terceira, essa sim, teria forçosamente de passar pela AG, e foi, justamente, essa terceira que foi derrotada.
Daqui a direcção conclui que houve uma "expressiva vitória". Nem vitória, nem expressiva. A AG de dia 28 pp foi um expressivo nada.
Já nem quero somar a tudo isto o facto de a "expressiva vitória" ter sido obtida num universo de apenas 1200 sócios, que em valores absolutos terão votado em percentagens sensivelmente iguais a favor e contra. Ou seja: não fora o esquema, estutariamente legítimo é certo, mas aberrante no plano da prática democratica, de "um sócio - 25 (vinte cinco!) votos", não fora, também e sobretudo, o caos instalado no funcionamento da Assembleia, que não permitiu um claro esclarecimento dos argumentos que estavam em jogo, e se calhar a "expressiva vitória" ter-se-ia transformado, quiçá, numa noite de expressiva azia para as hostes directivas. Vi alguns sócios, certamente com dúvidas, revelando consciência e escrúpulo, que ouviram religiosamente todas as intervenções até ao fim antes de irem votar. Imagino que o debate feito em circunstâncias normais, e em resultado de uma condução normal da AG, poderia ter contribuído para um maior esclarecimento de muitos e teria sido mais "limpo"...
Corressem as coisas de forma minimamente aceitável no plano da democraticidade de processos e Soares Franco talvez nem uma vitória de Pirro tivesse obtido... Assim, uma coisa é certa e dificilmente contestável: é impossível negar que a democraticidade destes conclaves deixa muito, muito a desejar. Exige-se no futuro uma maior equidade e transparência de processos.
Não quero ser mauzinho, mas deixo a pergunta, perfeitamente legítima no meu entender: quem fiscaliza as contagens de votos nas AG's do Sporting? Quem verifica as urnas? Os "serviços"? Mas, quem são eles?
Quer-me parecer que um dia ainda vamos ter de pedir "observadores" das NU para virem fiscalizar as votações do Sporting...

Falando de factos expressivos, o que podemos dizer seguramente é que esta AG teve uma participação muito mais organizada, aguerrida e esclarecida da oposição. Foi bastante expressiva a sua participação. Podemos também falar de uma expressiva dificuldade em convencer a oposição e os sócios com dúvidas. E podemos também rematar chamando a atenção para a expressiva evidência de que desta oposição a direcção não se conseguiu, nem se vai conseguir livrar tão facilmente quanto se calhar supunha.

Uma palavra ainda para uma outra ideia falsa, que de repetida até pode parecer verdade. Refiro-me à ideia de que a AG foi bem conduzida e o Presidente da Mesa tomou as decisões acertadas no momento certo. Como foi notório para qualquer sócio que tenha estado atento ao que se passou (há sempre aqueles que não estão ali para apreciar as evidências...), o Presidente da Mesa da AG errou de forma escadalosa quando aceitou a sugestão de Dias Ferreira, criando um precedente vergonhoso, errou ao não impôr um regulamento claro desde o início para os tempos das intervenções, mostrando afinal um total desrespeito pelos sócios, aliás patente na forma como interveio roubando tempo desnecessário aos trabalhos, e errou, finalmente, quando deixou que no final decorressem, simultaneamente, duas AGs: uma com oradores inscritos a falar e outra com sócios a votar. Significativamente, estas duas AGs "paralelas" decorriam em pólos opostos da sala...

Já agora, e uma vez que o dr. Rogério Alves se mostra tão preocupado em introduzir a figura do referendo nos Estatutos, sugiro-lhe que agilize o processo de elaboração dessa proposta e procure levá-la já à AG extraordinária que irá decorrer em breve. Se não o fizer temo que quando a proposta chegar a uma AG para ser finalmente votada, já as matérias sobre as quais importaria ouvir a voz do tal número significativo de Sportinguistas se tenham esgotado e as decisões finais caibam então somente à SAD e o projecto possa ir para a pia. Ou seja, a conversa do Presidente da Mesa da AG pode não passar de uma intenção pia...