segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Freitas desamparou a loja

Ao contrário do que vem aqui insistentemente preconizando Master Lizard, não sou, em relação aos dirigentes do Sporting, adepto do "vão-se embora, desamparem a loja". Pergunto: "e depois?" Ao que me poderão responder: "depois logo se vê", na presunção de que aparecerá alguém. Como se aparecer alguém, mesmo se isso fosse certo (que não é), fosse o suficiente.
Sou inequivocamente, como o somos todos aqui no KL, da oposição à actual direcção leonina, cujo rosto é o seu presidente Filipe Soares Franco. Mas, não concordando com a sua política no geral, concordo com alguns aspectos desta (mesmo em relação a estes - por exemplo, a venda do património não desportivo - opondo-me firmemente ao modo como estão sendo implementados). Quer dizer, não é por ser contra que perco a capacidade de avaliação dos actos concretos. Como tenho aqui dito, até as más direcções têm aspectos em que acertam. E têm sectores que são bem geridos (por exemplo, e tanto quanto se sabe, o sector de formação). Isto é, não faço o exercício mecânico-simplista do tipo: a direcção é uma merda, logo tudo o que vem dali é merda.
E, sobretudo, sempre tenho afirmado que para haver mudança de direcção tem de haver previamente alguém credível como candidato aos lugares. Não sou adepto do "logo se vê".
Vem isto a propósito da demissão de Carlos Freitas. Alguns embandeirarão em arco e dirão "até que enfim!", reacção a que também eu sou tentado. No entanto digo que, ao mesmo tempo que fico contente fico apreensivo.
Fico contente porque, conheço a fama que Freitas tem (ou tinha, com as anteriores direcções) de gastador. Diziam-me: "ele, se pode comprar por 1.000 compra por 1.500 ou 2.000". Agora, e foi uma das coisas que mudou com a actual direcção, há contenção de despesas e já não se pode comprar caro. É preciso muito mais habilidade e conhecimento do mercado para se comprar jogadores de jeito por pouco dinheiro. É preciso haver uma prospecção feita em condições, com técnicos competentes a fazer observações de pelo menos 3 jogos completos de um jogador previamente referenciado, além das observações de jogos completos em vídeo (e não cassetes com os melhores momentos do "craque", coisa em que os "empresários" são exímios, mas só engole quem quer).
Freitas não demonstrou esta habilidade.
No que respeita a esta época, o sector técnico do futebol definiu correctamente as prioridades: um defesa esquerdo, um central, um avançado lutador e bom a defender, um outro avançado alto para alturas do jogo em que se tenha de fazer futebol directo, enfim, dois médios, um direito e um esquerdo, com capacidade para fazer as alas, assim criando a possibilidade de uma alternativa ao 4x4x2 com losango.
Definidas (bem definidas) as prioridades, havia que se desdobrar em contactos e observações. E escolher bem. Foi aqui que a porca torceu o rabo, foi aqui que algo falhou.
Além de não termos tido sorte (lesões de Derlei, que estava a provar bem ao lado de Liedson, e de Pedro Silva, em quem se mantinham esperanças como adaptado ao lado esquerdo), não houve competência (muito menos génio) nas escolhas; sobretudo no que respeita a Purovic e a Had. Nenhum destes tem categoria para jogar no Sporting.
A saída de Freitas constitui, pois, uma daquelas excepções ao que é costume na sociedade portuguesa em geral e, em particular, no Sporting: a culpa morre solteira, isto é, a falta de competência não é punida.
A Freitas aconteceu, pois, aquilo que devia ser normal: os resultados foram maus? então adeus, ó vai-te embora; desampara a loja!
Agora o caso deixa-me apreensivo: é que é preciso reforçar a equipa no decurso deste mês!
Será que existe alguém competente, honesto, com espírito de serviço ao clube, com conhecimento dos dossiês, experiente, aí disponível? É que se trata de um cargo de grande responsabilidade e de exigência de competência.
Uma jogada de génio, de serviço ao clube, perdido embora o campeonato, pode salvar-nos a época.
E génio e serviço do clube não é o forte destes dirigentes que temos.