sábado, 23 de junho de 2007

Os milhões da Superliga

O relatório da Deloitte sobre o estado do futebol português (reportado à época 2005-2006) é claro: o prejuízo resultante da actividade desta "indústria" é brutal. Uns meros 524,2 milhões de euros! Um valor que roça o valor do Activo Líquido que é de de 560,1 milhões de euros. Há mesmo 7 clubes que apresentam "passivos superiores ao valor dos seus activos líquidos contabilísticos."
As conclusões do relatório não constituem exactamente novidade. Qualquer observador atento da paisagem futebolística portuguesa poderia antecipar as conclusões da Deloitte. O mérito do relatório --profusamente publicitado pela imprensa de hoje-- reside na quantificação do "estrago". Particularmente alarmantes são os dados relativos à diminuição de receitas, ao aumento do endividamento e à diminuição do valor dos capitais próprios dos clubes.
Nos números da Deloitte espelha-se a rebaldaria que tem sido a orientação estratégica dos clubes, dos seus organismos representativos e das autoridades públicas. E, embora não sejam explicitados, lemos nas entrelinhas deste relatório os nomes dos responsáveis por este estado de coisas.
Os três clubes principais da Liga maior são responsáveis por uma percentagem muito significativa dos valores apurados. Sublinha-se o prejuízo corrente recorde do FCP. Relativamente ao Sporting, registe-se o crónico, inadmissível e triste terceiro lugar relativamente a aspectos fundamentais como o volume de receitas, o número de sócios ou as assistências aos jogos. Pelos vistos, a disponibilidade financeira exigida aos sócios e adeptos do Sporting afinal não chega... Assinale-se, contudo, com nota francamente positiva a diminuição de custos e prejuízos correntes.
Na apresentação do relatório da Deloitte, o Secretário de Estado do Desporto disse, apesar das evidências, que "as contas não são fáceis de fazer, não são sequer ainda rigorosamente reais. Há algumas realidades escondidas." Como sempre, neste país de brandos costumes, a realidade não é real e, ainda por cima, anda escondida...
Podemos assim facilmente antever como, apesar do aviso sério que tudo isto constitui e da dificuldade que todos aparentam ter em fazer contas, lidar com o real e inverter o curso dos acontecimentos, como vai ser o relatório de 2006-2007. E o de 2007-2008!