sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A difícil arte de estar calado

Ora ai está!
O folhetim Scolari já mete o Presidente da República e tudo! Cavaco Silva declara-se triste. Vem juntar a voz a Pedro Silva Pereira e Laurentino Dias que, todos eles, derramam palavras severas sobre o selecionador nacional.
Tudo isto daria vontade de rir, não fora estarmos afinal perante uma tragédia em potência.
A selecção nacional de futebol não é nenhuma direcção geral, nenhuma secretaria de estado ou ministério. Não vemos pelo menos nenhum programa de contenção de despesas à sua volta... O assunto que está em discussão não é nenhum assunto de estado, não envolve nenhuma medida política, não tem efeitos na mecânica da justiça. Trata-se apenas de um caso em que um tipo dá uma latada noutro.
Se fosse justificar-se-ia o comentário a tão alto nível. Não sendo, tudo isto começa a cheirar a farsa perigosa. O Presidente da República e os membros do Governo estão a deitar gasolina para uma fogueira que era melhor que fosse apagada. Quem é o responsável se o fogo atear mesmo?
A menos que...
A menos que o cargo de Scolari seja encarado como se de um director geral ou de um secretário de estado se tratasse. E então, se assim é, alguém do governo tem de ser responsabilizado pela sua contratação e por esta imagem que tudo isto gerou. Alguém nas esferas mais altas do poder tem de prestar contas perante o povo português e explicar que programa foi traçado para a instituição futebol, que resultados se espera alcançar e que medidas estão previstas no caso dos objectivos não serem atingidos. Em nome do povo portugês alguém tem de vir explicar que altos desígnios nacionais estão aqui em jogo para que os mais altos dignitários políticos se venham manifestar de forma tão veemente. E alguém tem de agir com outra determinação e não ficar à espera para ver.
Ou será...
Ou será que afinal estamos perante aquilo que venho aqui escrevendo desde há alguns dias: esta gente está-se marimbando para o desporto e não tem uma ideia que se veja sobre desporto, mas não perde ocasião para nele se encavalitar sempre que a ocasião se revela mais propícia.
Se o que vimos é apenas um jogo da bola deixem o futebol em paz e ocumpem-se de assuntos mais importantes. Se o que vimos transcende o mero jogo da bola expliquem-nos qual é o grande desígnio que está aqui em debate e qual o significado político que se extrai de tudo isto porque assim a gente não se entende.
Também se pode tratar, é certo, apenas do exercício incompetente da difícil arte de estar calado...