terça-feira, 10 de outubro de 2006

João Moutinho


Depois da excelente vitória da selecção de sub-21 contra a Rússia, fácil é embandeirar em arco sobre tão grande proeza.
Sempre estive convencido da nossa superioridade, mesmo após a derrota por números expressivos no primeiro jogo.
Mas o que quero realçar são as enormes demonstrações de vontade, suor, empenho, sacrifício e, porque não, classe que os jogadores portugueses demonstraram. Estou convencido de que foram estes predicados postos em campo pelos jogadores, todos eles, que ganharam a eliminatória.
Toda a orquestra está de parabéns. Mas tem de ser realçado o maestro. E o maestro foi, nos dois jogos, João Moutinho.
Ele não só foi o melhor nos dois jogos contra a Rússia, como foi simultaneamente maestro, solista e carregador de piano.
No primeiro jogo, em que perdemos, remou contra a maré, foi o melhor português, foi um gigante. Por razões tácticas, um ou os dois avançados descaíam para as alas e ele foi encarregado de penetrar na área pelo meio. Foi assim que fez o (magnífico) passe para o golo de Portugal, mandou uma bola à trave e ganhou bolas no jogo aéreo (ele que é um pequenitates).
Esteve, nos dois jogos, muito bem, não só táctica, física e tecnicamente, como também do ponto de vista da disponibilidade e entrega ao jogo.
Ele sabe o sítio exacto do campo em que é preciso estar, sabe o perfeito tempo de fazer o passe curto, o passe longo, a finta, a corrida, a progressão, a ajuda defensiva, a marcação dos cantos e dos livres, o nervo e a serenidade.
Isto é tanto mais de realçar quanto muitas vezes se desculpam exibições menos conseguidas dos jogadores com a chamada falta de motivação; porque é final de época, porque o jogo era a feijões, porque há indefinição quanto à renovação do contrato, sei lá que mais... Ora quem mais que Moutinho se podia queixar de falta de motivação, quando teria mais que legítimas expectativas de ser convocado para os A e foi jogar nos sub-21?
Moutinho provou, mais uma vez, a sua enorme maturidade, grande categoria técnica e superlativa qualidade humana.
A bola gosta de jogadores como Moutinho. Eu também!