terça-feira, 10 de junho de 2008

Quem são os culpados, quem são?

O Dia de Portugal ocorre este ano durante o Euro 2008. No meio deste fervor patriótico, potenciado pelo acontecimento desportivo, ao ouvir as notícias, ao saber quem são alguns dos medalhados deste ano, olhando para este Portugal que hoje comemora "o seu dia" ocorre-me pensar com tristeza na total falta de ambição que domina actualmente o futebol doméstico.
Um dos mistérios, para mim, mais insondáveis do futebol de cá do burgo é esta esquizofrenia que nos projecta, por um lado e no plano da selecção, para a mais alta roda desportiva, mas que nos mantém, por outro lado, no plano dos clubes, na mais servil e total mediocridade. Neste estado semi vegetativo e da mais reles subserviência.
Revelamos esta paixão quase doentia pelo "clube de todos nós", mas depois satisfazemo-nos com o facto de sermos fornecedores de mão de obra para o futebol da alta roda. Contentamo-nos em "industrializar" um processo de condenação dos jovens produtos da nossa formação à emigração certa, e por cá vamos mantendo o futebol doméstico nos mínimos, entre "apitos" e outros escândalos. A selecção consegue arregimentar milhares para "empurrar" o autocarro e encher os estádios onde a dita selecção treina (!), enquanto os clubes vão assistindo ao seu próprio declínio em lume brando, com estádios desertificados e em crescente degradação, embrulhados em sarilhos de que só agora começamos a distinguir os verdadeiros contornos.
O que impede afinal o futebol interno de ter a pujança, a dimensão e o estatuto de que gozam os jovens talentos que exportamos às pazadas? O que impede o futebol dos clubes de alcançar os mesmos patamares que desejamos, com justificada expectativa, para a selecção? Afinal até são os clubes portugueses que alimentam, de modo directo ou indirecto, a tal "força de campeões".
Pergunta retórica: então se não é a falta de ambição (a selecção quer chegar o mais alto possível), se não é o nivelamento por baixo (a selecção está ao nível das mais cotadas), se não são os atletas, se não é a falta de adeptos, que os há, pelos vistos, disponíveis aos milhares, quem é que afinal condenou o futebol português a este estatuto vil que hoje vive...? E em quem é que os sócios dos clubes votam? E que projectos merecem o voto dos sócios?