terça-feira, 20 de maio de 2008

Os estados de alma do presidente do Sporting

Soares Franco falou hoje nos níveis de ansiedade que experimentou este ano (não o disse assim, mas era o que ele queria dizer...). A ansiedade terá sido muita. Mas, não foi certamente menor que a nossa. O senhor presidente trata da forma habitual os sentimentos dos Sportinguistas. A vítima é ele. A ansiedade que conta é a dele, a nossa que se lixe! Ora, o presidente foi eleito para assumir responsabilidades que envolvem, entre outras coisas, gerir estados de alma. Os seus e dos seus eleitores.
E afinal de que se poderá ele queixar? Os deslizes são, em última análise, da sua responsabilidade. A franca falta de ambição e o consequente estado de conformismo que imprimiu ao Clube tiveram como contrapartida uma equipa apática, que jogou para os mínimos e, como tal, ia-se lixando. Quando a equipa se instalou no quinto lugar, foi poupado aos lenços e lençóis, apupos e insultos com que outros que ocuparam o seu lugar, em situações por vezes bem mais favoráveis, foram exuberantemente brindados. A folga de que gozou terá, quiçá, ditado mesmo a possibilidade de recuperação que a equipa teve. Ninguém sabe, claro. Ninguém viveu o suficiente para saber como seria se não tivesse sido apeado antes do tempo. Mas ninguém como Soares Franco teve uma segunda oportunidade como esta.
De que se queixa então?
Talvez o presidente do Sporting não saiba, mas é nesta total incapacidade para criar empatia com os Sportinguistas que reside o seu pecado capital. A ansiedade de um presidente perante o desaire do seu projecto deve ser a ansiedade de todos os associados, se esses associados estiverem com ele. Se Filipe Soares Franco fosse o Sporting, os Sportinguistas estariam cega e incondicionalmente com Filipe Soares Franco, assim como estão cega e incondicionalmente com o Sporting. Mas, nós sabemos que Soares Franco não é o Sporting. Daí que não se consiga muito bem entender os contornos desta sua ansiedade.
Todos nós experimentamos estados de alma por vezes bem dolorosos pelo Sporting. Não é prerrogativa de presidente. Os nossos, a gente sabe a que são devidos. Os do presidente, terá de ser ele a explicar...


PS- As declarações do presidente do Sporting incluiram ainda uma alusão ao congresso, referido como uma oportunidade para traçar um "rumo" para o Sporting... Terei ouvido mal? Então querem ver que o Sporting afinal não tem rumo?!

Uma equipa e um clube entre aspas

João Moutinho, numa intervenção daquelas junto aos balneários do Estádio Nacional, em directo para a televisão, falou no domingo de "más-línguas, entre aspas" referindo-se aos que criticaram a equipa ao longo da época. Deixou escapar outra coisa também, ao acrescentar, candidamente, que ganhámos a Taça de Portugal e a Supertaça e que nos qualificámos para a entrada directa na Liga dos Campeões, mas, acrescentou, "é certo que queríamos mais". A perninha não chegou para o passo...
Bom, ó João Moutinho, o meu amigo não vai ter oportunidade de ler isto (agora que estará certamente concentrado nos trabalhos da Selecção, que serão com toda a certeza importantes para si, mas talvez alguém lhe possa transmitir o recado...) e a gente perdoa-lhe porque gosta de si (várias vezes o elogiei aqui), mas você não abuse porque a paciência, como dizemos no cabeçalho deste blogue, há muito que se esgotou...
É tempo agora para eu me deixar de "momentos de poesia" e dizer, finalmente, o que me foi e o que me vai na alma. João Moutinho deu o mote: somos más línguas entre aspas, mas descobrimos, graças ao seu lapsus linguae, que os jogadores também queriam "mais". Ou seja, no fim de contas, a coisa não foi tão boa assim... Com aspas ou sem aspas!
Aquilo a que assistimos este ano no Sporting é algo que vai figurar no quadro dos momentos mais negros do Clube e da equipa, desde há muitos anos! Não tenhamos ilusões ou dúvidas a esse respeito.
No que toca à equipa, vimo-la ter momentos de puro surrealismo, vimo-la ser capaz de uma inconstância desesperante, ouvimos os olés (foram várias vezes este ano!!) e eu pergunto, aqui para nós que ninguém nos ouve: o que teria sido esta ponta final se não fossem as más línguas, entre aspas, a que o Moutinho se referiu... À falta de lenços brancos, esperas e outros pormenores habituais, a que os jogadores e equipa técnica foram estranhamente poupados (este "estranhamente" vem carregado com uma tonelada de trotil...), eu pergunto qual teria sido o desenlace final desta temporada se não tivessem sido os Sportinguistas mais activos e mais inconformados (ora aqui tem você João Moutinho uma definição para a sua expressão "más-línguas, entre aspas...") a lembrar esta gente quem somos e de que raça é feita este Clube!
Por mais lustre que os jogadores, treinador e presidente do Sporting queiram puxar aos magros e pirosos platinados dos escassos êxitos alcançados, por mais cambalhotas retóricas que dêem, por mais poeira que nos tentem deitar para os olhos, por mais que nos queiram engraxar, o divórcio e a guerra estão instalados no SCP e as bombardas vão começar a soar, mais dia menos dia. É tudo uma questão de tempo... Não se irão sem uma guerra sem quartel!!
Mas, uma coisa é certa: tivemos, muitos de nós, muitos! de ir buscar aos cantos mais imperscrutáveis dos mais recônditos e escondidos baús do nosso Sportinguismo, ânimo para aguentar certos momentos desta época verdadeiramente miserável que nos proporcionaram. E muitos ficaram pelo caminho, desgastados. Nunca o divórcio, a apatia e a debandada foram tão grandes nas fileiras do Sportinguismo.
Divórcio, apatia e debandada que são, aliás, a par de um carneirismo sem explicação, as armas com as quais os responsáveis têm jogado e jogam desde que tomaram as rédeas do poder, para irem fazendo do Sporting o que bem entendem, transformando este grande Clube num fantasma de si próprio, num miserável vestígio arquelógico do que foi o grande Clube.
Moutinho só se esqueceu que é o Sporting que não passa hoje de uma equipa e de um clube entre aspas.