terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A casa está a arder

O post anterior motivou um comentário do Raul, meu caríssimo companheiro destas lides bloguísticas, e eu creio que o assunto merece ser passado aqui para a primeira página do KL. Deste modo se abre a discussão sobre o tema.
A direcção do Sporting não tem condições para continuar a exercer o seu mandato. De um ponto de vista objectivo, todos os pressupostos em que assentou a eleição da direcção de Filipe Soares Franco estão por cumprir e é isto que está na génese da presente crise. Este incumprimento demonstra uma incapacidade inultrapassável para honrar o pacto que foi estabelecido com os sócios. De um ponto de vista subjectivo, nem quero sequer imaginar quais as consequências que terá mais um resultado negativo da equipa de futebol e os efeitos nefastos de uma crise daí resultante, passada já para o patamar da turbulência popular.
O bom senso aconselha a que esta crise seja estancada já, antes que tome proporções que ninguém deseja e que ninguém consiga controlar.
Na minha opinião a direcção deverá renunciar ao mandato. A direcção pode ficar em funções até à proclamação dos novos corpos gerentes, ou então o Presidente da AG poderá, conforme estabelece o artigo 42º dos Estatutos, "nomear uma comissão de gestão ou uma comissão de fiscalização, ou ambas (...) para exercerem as funções que cabem ao Conselho Directivo e ao Conselho Fiscal e Disciplinar", conforme o caso. Nada a recear, portanto: os Estatutos têm, muito justamente, horror ao vazio!
Há dois aspectos daqui decorrentes que deverão ser tidos em conta.
Em primeiro lugar uma eventual demissão tem de ser acompanhada pela promoção de um amplo debate interno sobre o modelo que queremos para o Sporting Clube de Portugal. Somos nós que pagamos, somos nós que temos de decidir o que queremos para o nosso Clube. E somos nós que temos de arcar com as consequências. Não são os bancos, os mecenas, as figuras carismáticas ou quaisquer dos autodenominados e abomináveis "notáveis". Deste debate interno surgirão certamente as soluções para o futuro do Clube. Se os Sportinguistas se demitissem de encontrar vias para ultrapassar os problemas seria então normal que os legítimos representantes do Clube procedessem da maneira que entendessem para fazer face ao futuro. Mas, até lá é preciso criar condições para que os sócios se pronunciem sobre o que querem para o Clube. Dar voz aos sócios e promover a sua participação é uma exigência que temos de fazer e condição sine qua non para qualquer solução futura. Não podemos abdicar nunca de fazer ouvir a nossa voz sobre o que entendemos necessário para o Sporting e devemos exijir que nos seja dada. Se não forem proporcionados mecanismos de particpação dos Sportinguistas no debate sobre o Clube qualquer solução futura será uma farsa e estará desacreditada à partida. Não quero dizer com isto que todos os Sportinguistas participem, mas têm de ser garantidas condições amplas para uma genuina e ampla participação. É uma exigência!
Em segundo lugar, não é dispiciendo que a renúncia do mandato do Conselho Directivo se faça dentro das normas estatutárias do Clube, ou fora delas e fora do controlo dos orgãos competentes.
Há tempos reclamei aqui, a bem da dignidade de todos os intervenientes e a bem do Clube, a demissão da actual direcção. Esperemos que esta demissão não se venha a processar apenas após termos de passar pelo habitual calvário dos lenços brancos, dos coros de insultos, das esperas, etc. É que o Sporting, um Clube que já está bastante fragilizado, não vai aguentar muito mais cenas deste tipo sem entrar em colapso geral e irreversível.
É claro que o caos instalado e o sentimento profundamente negativo hoje sentido pela generalidade dos Sportinguistas não eram imprevisíveis. Previa-se tudo isto aliás desde há dois anos... Mas, é agora que a crise está completa e abertamente instalada e é agora que temos de lhe fazer face. Não podemos adiar medidas sob nenhum pretexto e temos de nos assumir agora, não logo.
A casa está a arder e não podemos esperar pela constituição de um corpo de bombeiros, pela elaboração de um manual de combate a incendios, ou pela nomeação de um comandante para dirigir o combate ao fogo.

A Hidra

A Hidra de Lerna, saberão os leitores destas coisas da Mitologia, era um monstro criado por Hera para pôr à prova Héracles. Tinha várias cabeças e para a abater Héracles teve que as cortar rapidamente e usar um estratagema para impedir que elas voltassem a crescer de novo.
Também no Sporting se instalou desde há muito uma Hidra. Uma Hidra com muitas cabeças. Os Sportinguistas têm cortado uma ou outra cabeça, mas não tendo usado um estratagema adequado, como fez Héracles à sua Hidra, as cabeças voltam a crescer e este monstro estúpido, feio e medonho volta a tomar conta de tudo.
Há para aí gente a reclamar a cabeça de Paulo Bento. O próprio Paulo Bento já pôs a cabeça a jeito. Ora, o monstro que foi criado para nos pôr, a nós Sportinguistas, à prova tem mais cabeças para além da de Paulo Bento. E, não tenhamos ilusões, todas elas têm de ser abatidas e neutralizadas para que a Hidra não renasça. Há cabeças pequeninas e há cabeçorras disformes. Há cabeças que estão aqui e cabeças que vigiam à distância. Há cabeças para todos os gostos.
Mas há cabeças óbvias! A começar pela cabeça do presidente Filipe Soares Franco. Ele é --e é preciso que os Sportinguistas compreendam isto com clareza, de uma vez por todas-- o primeiro responsável por toda a situação que o Sporting está a viver. É ele que oficialmente assina os cheques e é ele que estatutariamente tem a responsabilidade primeira por todo o descalabro que está a acontecer.
Foi ele que quis abandonar o Sporting e que voltou depois, insistindo numa candidatura que iria salvar o Clube. Está-se a ver que salvação nos caiu no regaço...
Salvemo-nos nós, mas dele!
Mas, a cabeça de Soares Franco não chega! E é muito importante também que os Sportinguistas percebam isto. Com a sua cabeça terão de ser cortadas também as cabeças dos seus companheiros de lista, subalternos, amanuenses e colaboradores que por eles lá foram entretanto metidos. Se não fizermos isto, tal como as cabeças da Hidra, esta gente vai renascer e voltar a colocar o SCP em situação de crise na primeira oportunidade que se lhes deparar.
Pelo que se percebe (estas coisas são sempre tratadas com grande mistério, numa altura em que se exige total esclarecimento) já há por aí umas cabeças a tentarem renascer antes mesmo de serem cortadas. Já se perfilam "alternativas" e "soluções"...
Ora TODAS AS CABEÇAS desta Hidra são parte do problema e têm por isso de ser cortadas.
TODAS!!
Não há cabeças boas e cabeças más. Há cabeças responsáveis. Todas têm a sua quota parte no que está suceder. Temos de saber distinguir as cabeças da Hidra e temos que estar atentos às cabeças que a Hidra esconde. Não há cabeças brancas...
E temos de ter tolerância zero para com as manobras que esta Hidra pode estar a tramar. Há aí cabeças a tentarem fugir ao castigo, apresentando-se aos olhos dos Sportinguistas com uma aura de virtude que não têm e mostrando-se como reserva virtuosa quando, de facto, o tempo e as acções mostraram que não passam de uma reserva viciosa.
A actual direcção tem que nos vir prestar contas sobre toda a situação que o Sporting está a viver. Exigem-se esclarecimentos! Urgentes. Exige-se transparência e exige-se o primado do Sporting Clube de Portugal sobre tudo o resto!
Mas, independentemente dos esclarecimentos que possam vir a ser prestados e que nos são totalmente devidos, não há outra solução para o Sporting: a Hidra tem de ser abatida.
É a Hidra que constitui o problema!