quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Tendências

Surgiu recentemente uma "tendência" entre alguns adeptos e comentadores do universo Sportinguistas que é a de atribuir àqueles que se atrevem a exprimir uma opinião crítica sobre a actual situação do Clube o epíteto de defensores da "política da terra queimada."
Vi-a usada recentemente por um jornalista e por um leitor do KL. Não sei se há aqui um nexo de causalidade, mas há pelo menos uma coincidência temporal. Será, portanto, uma via que se desenha.
Como estes chavões, usados por vezes sem sentido, têm tendência para se espalhar como o fogo no restolho (ainda o tema da labareda...) vale a pena tentar analisar a razão do uso desta expressão.
De entre os casos conhecidos, há um cuja "vítima" foi o blog nosso vizinho Leão da Estrela. Trata-se claramente de um "recadista" e portanto a coisa explica-se. Noutro caso, sucedido aqui no KL, um leitor envia-nos um comentário para a nossa caixa de correio onde, entre outras coisas, me acusa de ser partidário do fósforo.
Ora, esta opinião absurda e infundada, embora legítima e que eu aliás levo a sério, preocupa-me.
Nunca na história do KL alguém poderá detectar qualquer tendência para outra coisa que não seja defender o Sporting com unhas e dentes! Ninguém nos poderá acusar de querer outra coisa para o Clube senão querer torná-lo o mais sublime do Universo. A nossa paixão pelo Sporting não tem limites e não pede meças a ninguém!
Mas, eu não sou parvo, nem ando distraido... Nem, como já referi aqui noutras circunstâncias, confundo sportinguismo (assim, com letra pequena) com Sporting.
E penso. Penso muito nestas coisas e vou achando útil transmitir os produtos destas minhas reflexões aos meus correlegionários e discutir com eles a justeza destas reflexões. E ouço e discuto as suas.
Aqui no KL somos todos bastante informais e por vezes o tom das nossas apreciações e a forma de nos expressarmos pode ser mais ou menos levezinha. Mas, tenham uma certeza: só nos move o Sporting!
Gostaria de poder dizer isso de alguns escribas que todos podemos ler por aí. E gostaria de poder dizer isso da direcção que conduz os destinos do Sporting e de muita gente que gravita em torno do Clube. Mas, não posso.
Percebo, pois, certas reacções oficiais à crítica. Mas, confrange que Sportinguistas anónimos, banais como eu, se envolvam de forma tão assanhada na defesa do indefensável status quo do Clube. Pergunto-me porquê...
O cronista do Público Rui Tavares publica hoje uma crónica, sob o título "Não pergunte", a propósito da questão dos salários dos gestores. Nela refere, a determinado passo: "todos temos a impressão errada de que a maioria da opinião publicada em Portugal é conservadora. Infelizmente, é pior do que isso: limita-se a ser uma reacção instintiva de protecção do status quo."
Não é só a opinião publicada. Frequentemente a opinião dos cidadãos em geral limita-se a "ser uma reacção instintiva de protecção do status quo." E a opinião Sportinguista também padece por vezes desse mal.
Por que raio de carga de água surge esta teoria da "terra queimada" entre adeptos Sportinguistas? Se reconhecem que a terra está queimada digam: quem a "queimou"? Quem tem o poder? Quem chega aos media? Quem anda nas bocas do mundo? Quem faz asneira e se escuda nos "boletineiros" do costume para a adoçar ou apagar? Quem organiza campanhas, quem compõe a imagem, quem compra consciências? Quem entra, quem sai, quem assina os cheques? Não sou eu, seguramente.
Ingénuo será aquele que pensar que eu ou qualquer outro bloguista temos o poder de atear fogo. Ingénuo ou mal formado.
O que temos nas mãos, é verdade, é o poder de contrapor aos boletineiros, aos cirurgiões de "face lift", ou aos organizadores de campanhas uma outra verdade. Que pode ser inconveniente.
Há uma grande diferença entre mim e um qualquer membro da direcção actual do Sporting, guardadas as devidas distâncias. O que eu penso digo-o aqui de caras. E os leitores confrontam-me com as minhas próprias omissões e incoerências ou aplaudem-me (felizmente é mais esse o caso...). Mas, não tenho o poder de queimar o que quer que seja.
Quem pode confrontar os responsáveis Sportinguistas actuais com os seus actos? Onde está a democracia Sportinguista? E quem tem o poder do fogo?
Ainda assim devo confessar que, como referi a um outro leitor do KL que questionou algumas das minhas posições, prefiro mil vezes o confronto de ideias do que a indiferença. É com ela que o status quo conta...
Mas, queimado, meus senhores, só o leite creme.

O bom e o mau no Projecto Roquette (1)

Venho notando uma tendência em alguns dos sportinguistas mais enragés de fazerem uma espécie de flash-back em que quase se mostram nostálgicos dos tempos anteriores à “dinastia” Roquette, como se as desgraças do Sporting tivessem começado então.
Ora, por mais deméritos que tenha (e tem alguns) o chamado Projecto Roquette, dificilmente poderemos dizer que foi com ele que começou a desgraça do Sporting. Atribuamos o seu a seu dono.
Quando Roquette encetou a sua participação na gestão do Sporting, é preciso dizê-lo, fruto de sucessivas “gestões” pato-bravísticas, o clube estava de rastos. Para mim, e para a maioria dos sportinguistas, Roquette constituiu a esperança de uma mudança de rumo do clube, no caminho de uma grandeza patrimonial e duma independência financeira que este não tinha. No papel, o Projecto Roquette parecia bom e fui um dos que, confesso, nele acreditou. Em traços gerais consistia o Projecto Roquette em, por um lado, dotar o clube de infraestruturas (estádio moderno e centro de treinos, que veio a tomar a forma de Academia) que permitissem o desenvolvimento da actividade de eleição do clube, nas suas vertentes desportiva e de negócio. Por outro lado, de um grupo empresarial que estendesse os negócios a outros sectores de actividade, cujos lucros permitiriam que o negócio central (o futebol) não ficasse dependente da “bola na trave”. Isto, como projecto, repito, soou-me bem, na altura.

O que correu mal:
- Os capitais próprios do Sporting (oriundos da constituição da SAD, pela subscrição das respectivas acções) não chegavam nem para a cova dum dente, pelo que se teve de fazer toda a obra com recurso a um montante elevadíssimo de capitais alheios, o que está ainda a custar um balúrdio anual em juros;
- Ao que me dizem, o facto de a construção de estádio e Academia terem sido feitos em regime de administração directa, veio a onerar custos de forma assustadora; ora, havendo um protagonista comum aos dois acontecimentos, é legítimo suspeitarmos que tal se tenha devido a motivos semelhantes aos que fizeram a EXPO98 perder uns milhões de contos com o negócio dos barcos-hotéis;
- Ao cheiro de mais uns milhares de euros, os dirigentes resolveram aumentar a capacidade do estádio em cerca de 10.000 lugares (a comparticipação do Estado era em função do número de lugares dos estádios) o que implicou o sacrifício do pavilhão que era para ocupar o espaço onde, como recurso, se resolveu construir o Alvaláxia;
- O Alvaláxia foi então concebido como fun centre e o seu sucesso dependia do negócio imobiliário a fazer com os terrenos do antigo estádio, pois seriam estes que trariam habitantes e movimento àquela zona. Como se sabe, ainda está para ser decidido este assunto, que envolve o Sporting o Metro e a Câmara de Lisboa e o terreno é, de há uns quatro anos a esta parte, um ermo, no qual até dá medo passar à noite. Nestas condições o Alvaláxia tornou-se num enorme flop financeiro, o Sporting nunca usou os lugares a mais do estádio e ficou sem pavilhão;
- O facto de o Sporting não possuir pavilhão próprio potenciou os prejuízos das actividades chamadas amadoras, o que tem vindo a contribuir para os prejuízos gerais do clube, além de diminuir a capacidade de obter títulos;
- As tais empresas que se constituíram para gerar lucros adicionais aos do futebol (para não se depender da “bola na trave”) foram um outro autêntico flop; não porque a ideia fosse má, mas porque a sua implementação foi tenebrosa. O seu objecto era estranho à “vocação” do clube e quem as “geriu” deve ter-se preocupado com tudo menos com os interesses do Sporting; gastaram-se rios de dinheiro em burocracias e em ordenados, em prejuízo de todos (menos dos que embolsaram esses ordenados);
- O resultado de todos estes factores, somado a uma gestão feita com os pés, traduziu-se em prejuízos de uns 100 milhões de euros durante os primeiros 10 anos da gestão dos tempos Roquette até à eleição da presente direcção (durante a gestão da qual, manda a verdade que se diga, houve alguns lucros).

Em próximos posts tentarei abordar as componentes positivas do Projecto Roquette e a desigualdade de tratamento dos três grandes por parte dos poderes públicos, até chegar ao actual estado de coisas. Por último, tentarei falar na parte sempre mais esquecida, mas que é a mais importante disto tudo: nós, os adeptos.