terça-feira, 29 de maio de 2007

Paulo Bento, uma lufada de ar fresco

Paulo Bento participou no programa Trio de Ataque desta noite, na RTPN. Confirmou aquilo que tenho sempre aqui vindo a defender: estamos perante um treinador que excede as expectativas que se possam ter criado à sua volta.
Abordou com pragmatismo o tópico da formação do plantel, não fugiu às questões sobre problemas disciplinares, falou com segurança dos aspectos técnicos.
Quanto à formação do plantel para a nova época, e em resposta à questão que lhe foi colocada sobre a continuidade de Romagnoli, remeteu para as dificuldades financeiras que o Sporting vive, para dizer que desejaria a continuidade do jogador, mas que a decisão depende não apenas dele, mas da capacidade do clube para pagar o seu passe. Aqui ficou assumida a compreensão que PB tem da situação que o clube vive e dos consequentes condicionamentos para a formação do plantel. PB serve o clube que lhe paga e, como diz A Causa Foi Modificada num seu post, “acima de tudo, não se queixa. Não se queixa e não arranja problemas a ninguém”.
Excepto a quem lhe arranja problemas a ele (disciplinares, entenda-se). Foi duro quando falou de Carlos Martins e taxativo quando disse que pode muito bem viver sem ele. É destas posições firmes que vive a disciplina no seio de grupos como os dos balneários do futebol.
Mas talvez tenha sido a vertente técnica aquela em que ele melhor se expressou aliás confirmando muito do que tenho aqui vindo a publicar sobre a equipa. Ficou-se a perceber como é difícil fazer uma equipa com um meio-campo em que os jogadores têm 20 anos de média de idades, sobretudo quando falharam rotundamente as contratações de jogadores mais maduros para os enquadrar (e aqui referiu-se, cuidadosa mas significativamente ao caso de Paredes, dizendo embora que conta com ele para a próxima época, assim insinuando que os problemas que ele teve foram circunstanciais; espero que sim, mas de pé atrás). E lá se teve de fazer o enquadramento com a prata da casa: Ricardo, Polga e Caneira, sobretudo, mas também Liedson. A emergência destes jogadores como referências da equipa (os 3 da defesa fizeram a sua melhor época de sempre no Sporting), alicerçando a maturação dos mais jovens, foi fundamental para o crescendo da equipa na parte final da época. Isso a par da melhoria de Tello (durante toda a época, também a sua melhor) e Romagnoli (este só na segunda volta e quando, como muito bem referiu PB, começou a participar com mais entrega no jogo defensivo da equipa) e do reaparecimento de Abel (o porquê da sua menor utilização no início da época foi das poucas coisas que ficou por explicar).
Farto das danças e andanças de treinadores no Sporting (nos outros clubes também, que isto é síndrome do futebol português), bem desejaria eu que este, finalmente, tivesse vindo para ficar por muitos anos. Mas ele, esperto e pragmático, vai dizendo que neste momento existe empatia entre ele, os jogadores e a massa associativa, mas que tem os pés bem assentes na terra e que essa empatia se pode desfazer de um momento para o outro, pelo que se recusa a traçar projectos a longo prazo quanto à sua continuidade à frente da equipa.
Face a treinadores tristes e hesitantes, que nada trouxeram de novo ao futebol português, sem dúvida que a chegada de Paulo Bento aos grandes é uma lufada de ar fresco.

Ninguém lhe Liga

O presidente da LPFP apresentou ontem um novo rol de intenções para a época 2007-2008. E disse que com elas o "futebol português está a dar passos no caminho da credibilização." Seguramente que o deputado Hermínio Loureiro diz isto porque estará convencido, ou alguém o convenceu, que a actividade da Liga risca e que esta credibilização se consegue antes de a Liga se tornar, ela própria, um organismo credível.
Mas, falta tudo para atingir esse estatuto. A começar pelo próprio presidente. Já aqui há tempos expressei no KL a ideia de que não é possível ter uma pessoa com o perfil do deputado Hermínio Loureiro à frente de um organismo como a LPFP e esperar que, por milagre, as portas da credibilização do futebol se abram! Antes de mais, teria sido, pois, necessário que tivéssemos uma escolha acima de qualquer suspeita para dirigir este orgão. As nossas suspeitas começam a justificar-se quando observamos que não se verificou o afastamento do seu seio dos figurões que roubaram toda a credibilidade ao futebol. E a desconfiança adensa-se definitivamente quando verificamos que não foram imediatamente aplicados os mecanismos regulamentares competentes relativamente aos diversos agentes desportivos envolvidos com a justiça.
Com um arranque destes, a intenção expressa pelo presidente da LPFP de devolver credibilidade ao futebol português só nos pode dar vontade de rir...
Bem pode o deputado Loureiro anunciar estas medidas piedosas como a compra de rádio-microfones para os árbitros, ou campanhas para atrair mulheres e jovens aos estádios. Enquanto as pessoas que deixaram o futebol chegar ao ponto a que chegou se mantiverem dentro deste universo, nunca o comum dos mortais vai acreditar que o futebol se pode transformar, nem se vai aproximar de um estádio.
Será ingénuo ou matreiro, mas, a verdade é que ninguém pode levar a sério o Loureiro.