quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Eu, treinador de bancada, me confesso

Como eu compreendo Paulo Bento, tendo de servir a estratégia de quem lhe paga, resignado a ter de contar com o que há, em matéria de jogadores…! É com esta compreensão, e porque a vida continua apesar das asneiras dos dirigentes no que respeita aos reforços, que também eu continuo a tentar fazer a análise da equipa, no sentido de aproveitar a matéria humana existente da melhor maneira possível.
Paulo Bento é adepto do princípio de que as equipas se constroem de trás para a frente: fundamental é consolidar a defesa e partir daí para a edificação da equipa. Este princípio conseguiu ele implementar no Sporting. De facto a defesa do Sporting tem sido o sector mais estável da equipa, mau grado todos os altos e baixos que esta tem atravessado; na primeira Liga só o Porto tem menos golos sofridos (9, para 10 nossos).
Um dos responsáveis é o guarda-redes Ricardo; como Master Lizard escreveu, “é o melhor português nesta posição”. Se quiserem saber porquê vejam a minha análise aqui.
Mas muito do relativo êxito defensivo se deve à estabilidade dos dois centrais. Tonel ‘pegou de estaca’, entende-se bem com Polga e é útil nas bolas paradas e cruzamentos, em que consegue muitas jogadas de perigo e alguns golos. Polga está a fazer a sua melhor época desde que está no Sporting, melhorou muito o seu jogo posicional e corrigiu a sua tendência para fazer faltas estúpidas (no jogo com o Boavista, em que na minha opinião foi o melhor elemento do Sporting, fez 7 recuperações, 16 cortes, 2 passes em profundidade e apenas 1 falta).
Além do bom jogo dos centrais, o referido êxito deve-se também à consistência que confere o bom jogo posicional e a experiência de Caneira. Um índice da importância que ele tem na consistência defensiva da equipa mede-se pelos golos que a mesma sofre com ele em campo – 7 em 1250’ – e sem ele – 11 em 950’. Só o outro lateral, nos últimos jogos Tello, continua a demonstrar grande falta de jeito para defender, cometendo disparates próprios de quem não é talhado para o lugar. Querendo vê-lo na equipa, quero-o o mais longe possível da nossa área, para ver se evitamos precipitações parvas do género do penalty que ele cometeu (e do ‘quase penalty’ sobre Linz): no vértice esquerdo do meio-campo, pois. Deste modo Caneira voltaria ao lado esquerdo da defesa e entraria Abel para a direita da defesa. Apesar de ter sido uma mais-valia na segunda parte da época passada, Abel não tem sido escolha do treinador. É das opções que mais me custam a compreender e gostava que PB lhe desse oportunidade de jogar alguns jogos seguidos; ele sobe com a-propósito e centra razoavelmente. E como o Sporting precisa de laterais que subam!
A questão do médio defensivo já aqui a analisei, recaindo a minha escolha em Miguel Veloso, pois ele é o jogador que, nesta posição, tem o jogo mais alegre e disponibilidade para integrar acções atacantes embora PB afirme que o seu lugar “natural” é a central.
Nani, apesar de continuar a ter a tendência de querer resolver tudo sozinho, tem vindo a melhorar. Carlos Martins, de 24 anos, é um bom exemplo para Nani, de 20: ser capaz de jogar muito bem e ter talento não chega para ser futebolista de alto nível. Quaresma, bem orientado por Adriaanse e agora por Jesualdo, progrediu imenso nos últimos anos, e o facto de ter começado a jogar para o colectivo não o fez perder (antes potenciou) a sua personalidade e talento como jogador de excepção. Como a Cristiano Ronaldo (que Ferguson na época passada nem sempre punha a jogar apesar de saber que ele lhe podia resolver os jogos) também a Nani, quanto a mim dum modo geral bem ‘gerido’ por PB, tem feito bem não ser sempre titular. É o nosso melhor elemento para o vértice direito do losango do meio-campo. Para o vértice esquerdo penso que, presentemente, o melhor jogador que temos é Tello. Este tem vindo a fazer a melhor época desde que está no Sporting, de longe. Não é jogador para fazer grandes infiltrações na área ou para a linha de fundo; mas é excelente a fazer cruzamentos de trás para a frente, como o que pôs a bola com precisão na cabeça de Liedson para o nosso golo contra o Boavista. E remata bem de fora da área, por vezes.
Para estabilização do jogo da equipa e aquisição de rotinas impõe-se a continuidade do posicionamento de Moutinho no vértice superior do losango (médio-centro), prescindindo de Romagnoli (que continua a não justificar a contratação). Sobre Moutinho já escrevi o suficiente aqui e aqui; algum do menor rendimento da equipa reside na baixa de forma deste excelente jogador (no jogo com o Boavista jogou em esforço, com complicações gastro-intestinais).
Quanto ao ataque, estou farto de Buenos e Alecs. Apesar de continuar a demonstrar ainda imaturidade, justifica-se a aposta em Djaló ao lado de Liedson, quanto mais não seja para lhe ir dando experiência, ele que é uma das esperanças do Sporting para o futuro próximo. Sendo um jogador muito veloz, tem também aquela alegria de jogar que é própria dos jovens que querem triunfar. Quanto a Liedson, a sua prestação é sempre útil, já que, mesmo quando rende menos, é sempre um elemento que funciona bem na pressão atacante, um dos princípios de jogo deste Sporting, recuperando a bola ou obrigando os adversários a errar. Mas o desempenho ofensivo não tem sido o melhor esta época, embora venha a melhorar, pois já marca golos. O seu rendimento em termos ofensivos depende muito da quantidade de jogo que lhe chega e da maneira como este lhe chega. Mas, quanto a mim, não tem a ver com o facto de o modelo de jogo implementado por PB (aliás na sequência dos anteriores treinadores) o obrigar por vezes a derivar para as zonas laterais do terreno. Este, sendo um dos mecanismos do modelo adoptado por PB, é também o modo natural de Liedson jogar.
É esta a minha equipa.

Cantar as Janeiras

Fechou a trinta e um de Janeiro o chamado mercado de transferências de inverno. O Sporting, como é sabido, aos costumes disse nada. Mais grave do que isso, perante a gritante falta de soluções e a clara ineficácia revelada pelo modelo desportivo proposto pela equipa directiva e implementada pela equipa técnica, o presidente vem dizer no site do Clube que o problema é de escolha.
Ora, como fica amplamente demonstrado pelo revelador post anterior, não há escolha.
O canto das Janeiras no Sporting parece afinal ser um canto do cisne...
A estratégia desta direcção revelou-se --no seguimento do que se tem aliás verificado com as estratégias seguidas sucessivamente por esta linha dinástica, que tomou conta do Sporting desde há cerca de 12 anos-- um fracasso TOTAL! Em toda a linha.
Não conseguiram objectivamente resolver nenhum problema do Clube, quer estejamos a falar no plano da conjuntura, quer no estrutural. Pelo contrário: todos os problemas, actuais e passados do Sporting se agravaram nestes últimos 12 anos. E no caso particular da presente direcção a situação é mais grave porque não há, nem vai haver um brilharete qualquer desportivo para disfarçar... O que se fez, e que alguns chamam "êxito", foi minorar os efeitos da carga de porrada que temos levado desde há 12 anos, em resultado de um projecto mal enjorcado e pior implementado que deixa o Sporting à beira de extinção.
Tudo isto vem colocar na ordem do dia a questão, que ainda não vi debatida, da eficácia da solução SAD para resolver os crónicos problemas do Sporting. Quando a SAD nos foi proposta, as vozes que se levantaram contra esta solução não se revelaram suficientes (ou falaram de forma demasiado tímida...) para travar a implementação deste erro brutal. Erro que nos custou mais de dez anos de atraso na resolução dos problemas do Clube.
A solução SAD revelou-se um falhanço total, incapaz de dar resposta aos reais problemas do Clube. Mais grave: permitiu a instalação nos centros de decisão do Clube de gente que nada tem a ver com os ideais do Sporting e até de gente que não tem nada a ver com o Sporting.
O problema reside pois na SAD. Que tem de ser extinta para dar lugar a um Sporting CLUBE de Portugal renovado, saneado e asseado.
Não serão nunca os accionistas da SAD que poderão resolver os problemas do Sporting. Muito menos os seus credores. O Sporting é uma associação de ideais, constituida por sócios com ideais. E é esta gente, são estes sócios do Sporting, os únicos (sublinho, os únicos!) que podem, legitimamente, protagonizar a mudança de rumo e a correcção dos erros passados e actuais.
Temos, pois, de lutar pelo resgate e devolução do Clube aos seus legítimos proprietários, pelo fim deste monumental logro que é a SAD e por um novo Sporting, na linha das suas origens.