quarta-feira, 23 de abril de 2008

Não há "clientes" Sporting

A nova Associação de Adeptos Sportinguistas é uma iniciativa importante que me mereceu (e merece!) aplauso incondicional. Merece também alguma reflexão adicional.
Esta Associação não vai, naturalmente, contar com a minha filiação, embora a recomende e o vá continuar a fazer. Não por qualquer divergência de fundo com os propósitos conhecidos, expressos nos seus princípios fundadores (*), mas porque misturar sócios e adeptos do Sporting nesta organização pode ser contraproducente, pode desvirtuar o seu desiderato e afectar a sua capacidade de intervenção.
Os adeptos do Sporting constituem seguramente a maioria do universo Sportinguista. O seu relacionamento com o Clube e o relacionamento do Clube com eles tem especificidades próprias e suscita problemas exclusivos que merecem e carecem de tratamento particular.
O surgimento desta Associação constitui assim uma excelente forma de lhes dar resposta.
O tratamento das especificidades do estatuto de adepto (há que lutar pela criação do estatuto do adepto!) encontra aqui o seu instrumento privilegiado.
Outra coisa é o estatuto de sócio, definido claramente no Estatutos do Clube. Concordo que sócios e adeptos se terão de juntar para resolver alguns dos problemas que os afectam. Mas institucional e formalmente estes estatutos são diferentes, têm consequências diferentes e precisam de ferramentas específicas para lidar com os seus problemas próprios.
Não está de todo em causa o grau de Sportinguismo dos adeptos e dos sócios do Sporting. Conheço muitos adeptos cujo Sportinguismo não hesito nem por um momento em classificar como exemplar, assim como conheço sócios cujo "sportinguismo" os devia levar às galeras, sem apelo nem agravo... Em certa medida, o papel do adepto é até mais ingrato do que o do sócio. Se a direcção nem aos sócios dá crédito, quanto mais aos adeptos!
Mas, antevejo com o aparecimento desta Associação uma nova era para o Sporting, porque existe agora um interlocutor forte que terá por trás de si a força de um grupo de gente que os responsáveis leoninos conhecem bem, que usam quando lhes convém, mas em relação ao qual se estão efectivamente marimbando. Pagam e nem sequer bufam porque não têm (tinham!) local para o fazer.
Por este lado, portanto, os AAS estão de parabéns.
O que não podemos admitir neste universo constituído por adeptos e sócios é o conceito peregrino do "cliente Sporting" que já vi por aí recentemente. Se algum dia o Sporting ficar reduzido à "clientela" esse será o dia em que o Clube morrerá defintivamente.
Todos nós temos de conviver no estádio com os adeptos dos outros clubes que nos visitam e temos de os suportar. Mas, digo-vos que prefiro mil vezes um adepto ferrenho de outro clube sentado ao meu lado, a um "cliente" de ocasião do meu Clube, amorfo e volúvel, que não espera mais do que ser "bem servido". Mal de nós, Sportinguistas, se algum dia tivermos de gritar "A Deco não manda aqui!"


(*) Concordo em particular com a ideia de proporcionar um elo de ligação ao Clube e com o propósito adicional de, ao fazê-lo, poder trazer para esta interacção antigos sócios que já não frequentam o universo Sportinguista. É um assunto ao qual, como sabem, eu sou particularmente sensível e que já abordei neste espaço por diversas vezes e é uma ideia importantíssima.