quinta-feira, 3 de agosto de 2006

A subversão da concorrência (1)

Voltemos ao tema da poluição no futebol português.
Para tanto façamos um pouco de história.
A hegemonia do futebol nacional foi, até meados dos anos 70, disputada entre Sporting e SLB. Até que apareceu a figura, de dimensão histórica a nível nacional (pelo menos), de Eusébio. O Sporting perdeu a capacidade de disputar a hegemonia no futebol português quando se deixou comer no assunto Eusébio. SLB transformou uma circunstancial e leiteirosa vitória europeia numa efectiva importância como equipa de nível europeu graças a Eusébio. Beneficiou também do facto (político) de Salazar, percebendo a importância do fenómeno, ter impedido a saída do ídolo para o estrangeiro. O facto de não ter podido realizar esse negócio, em vez de diminuir as capacidades do SLB facilitou a sua imposição como clube dominante de todo o panorama desportivo português durante mais de uma década, ademais porque beneficiava de todas as bênçãos possíveis por parte dos poderes. Foi também nessa época que solidificou a sua base de apoio de adeptos, de cuja inércia ainda hoje beneficia. Mas a idade não perdoa e Eusébio e seus pares deram lugar a executantes de qualidade muito inferior e o poder político totalitário deu lugar a uma democracia formal. Tal implicou um esforço, por parte do SLB, de reforço da influência que já detinha sobre os meandros da arbitragem.
Tudo correu bem até ao advento da dupla Pinto da Costa/José Maria Pedroto à frente dos destinos do FCP. Beneficiando do enfraquecimento desportivo e de influência sobre o poder do SLB, PC/JMP traçaram a sua estratégia de assalto à hegemonia no futebol português com base em parâmetros como:
- Esforço de construção de uma equipa forte em termos desportivos, com agressividade em matéria de contratações, assim enfraquecendo os rivais, sobretudo o Sporting;
- Para isto precisava de dinheiro e obteve-o junto do empresariado e, sobretudo, do poder político local, ao arvorar a bandeira da luta do “norte”, formiga trabalhadora e criadora de riqueza, contra o “sul”, leviana cigarra beneficiária dessa riqueza;
- Last but not least, o domínio dos órgãos que detinham o poder sobre a arbitragem através da colocação de gente da sua “confiança” nos cargos de topo. Para isto souberam aproveitar-se dos regulamentos que atribuíam o poder de voto às Associações de forma proporcional às equipas da jurisdição destas colocadas nas divisões principais do futebol; ora como a maioria das equipas da primeira divisão era do norte do País e o “combate” era situado entre o “norte” e o “sul”, com um pequeno esforço de distribuição (mitigada) de benesses, a coisa resolvia-se.
A tradução prática disto foi a deslocação do combate pela hegemonia do futebol português de SLB/SCP para FCP/SLB, com eventual, mas contínua vai já para duas décadas, vantagem para o FCP.
Depois de um momento inicial em que o Sporting assumiu parte das mágoas decorrentes da afirmação hegemónica dum intruso, os lampiões nunca mais foram gente, antes se afirmando por oposição ao FCP, com a raiva que têm de as suas vitórias só passarem no Canal Memória.
Entretanto, permanentemente arredado da disputa pelos lugares de topo do poder do futebol, o Sporting ficou também arredado da luta pela hegemonia. Isto porque a disputa permaneceu no terreno da batota nas arbitragens em que o Sporting, seja porque não quis ou porque não conseguiu, não entrou.
Mas tinha de entrar? Não, não tinha de entrar; tinha era de conseguir afirmar-se de uma maneira autónoma no futebol nacional. Coisa que, até hoje, não conseguiu, a não ser circunstancialmente.
É aqui que entronca a importância das presentes eleições para a Liga.

(continua)

Ainda a gestão de talentos

Já agora, ainda a propósito da mentira que é a gestão de talentos do Sporting que o Raúl vem referindo, vejam aqui mais esta nota curiosa que nos é dada a conhecer pelo nosso colega Sangue Leonino.
Grande gestão e grande fábrica de talentos... Enquanto metem no "show-room" um novo talento para ir enganando o pagode, os outros saem pela porta do cavalo. Entretanto, vamos importando material de segunda categoria e alguns, mesmo com defeito. Já se viu o que mudou com esta direcção neste domínio...
Não é um problema específico do futebol, claro. A valorização do "produto" português, nem com mil Michael Porters vai lá! Na área do futebol as negociatas, os arranjinhos, a ganância, a leviandade e os tiros no pé sobrelevam tudo aquilo que de positivo possa ser feito!! E então no Sporting, nem é preciso falar...!!!!!
Esta questão dos "talentos" e da sua gestão não passa, como fica amplamente ilustrado por estes recentes comentários, de um enorme cliché.
Deixem-me só ainda recordar aqui, a este propósito, que esta era uma das pedras de toque do projecto Roquette. O grande feiticeiro da "nova gestão" do Sporting, não só não conseguiu impôr quaisquer mudanças na cultura do Clube neste domínio, como escancarou as portas para que este entrasse num novo período de uma nunca antes vista, descomunal, despudorada e inaceitável rebaldaria. Basta recordar as figurinhas que passaram pelo Sporting, nesta área, durante este consulado... And the beat goes on!!

O negócio dos talentos 3

Ainda a propósito dos novos talentos do futebol leonino cito, com a devida vénia, o blog dias de uma princesa -- um bem-vindo perfume feminino a dar cor a estas coisas da bola!... -- (ele mesmo citando Mais Futebol):

Quem é Yannick Djaló?

Yannick Djaló nasceu na Guiné-Bissau no dia 5 de Maio de 1986 e veio para Portugal aos sete anos. Começou a mostrar-se no futebol de salão, ao serviço do Forte da Casa e rapidamente chegou à Associação Desportiva da Estação (ADE), clube da Covilhã que se dedica exclusivamente aos escalões de formação. A sua qualidade não passou despercebida e o Sporting garantiu a sua contratação por um valor a rondar os 500 contos. Antes, foi oferecido ao Benfica pelos dirigentes da ADE, mas os encarnados recusaram por terem muitos estrangeiros.
No Sporting cresceu como jogador, nunca deixando os estudos de parte. Djaló tirou um curso técnico-profissional de informática, por exigência dos responsáveis do clube. Aos 16 anos foi chamado por Laszlo Boloni para um amigável de final de época. Apostou uma grade de coca-cola com o treinador romeno e ganhou, marcando um golo nesse desafio.
Mais tarde, fez parte da equipa campeã nacional de juniores com Paulo Bento como treinador. Na última temporada esteve emprestado ao Casa Pia, onde fez 16 golos. Durante esse período nunca deixou de se deslocar à Academia do Sporting, em Alcochete, onde cumpriu um programa específico de musculação. Aos 20 anos, este internacional sub-20 por Portugal integra pela primeira vez o plantel principal do Sporting, apesar de já ter feito, por uma vez, o estágio de pré-temporada, então com José Peseiro à frente dos «leões».

O negócio dos talentos 2

A propósito do que aqui escrevemos sobre os novos talentos do Sporting e a necessidade de os “rentabilizar” eis duas citações da bloguítica generalista de coração leonino.
A primeira é da autoria de FAL e está no Corta-Fitas:

Três secos
A vitória de ontem do Sporting sobre outro clube da segunda circular merece alguma atenção. Primeiro, 3-0 já é uma goleada. Depois, impressiona porque a equipa treinada por Paulo Bento tem pouco mais de uma semana de trabalho nas pernas e já joga a sério.
Sobre a nova estrela, Yannick Djaló, que foi a figura do jogo, recomenda-se juízo. Espera-se que possa evoluir em Alvalade como João Moutinho ou Nani e que não seja uma explosão para vender no fim do ano ao desbarato, como aconteceu com Cristiano Ronaldo, Quaresma e um jogador que parece ter chegado a capitão do clube ontem goleado. Deixem Yannick jogar com a alegria e a sabedoria que já deu para ver que tem e aí ele passará de diamante em bruto a jogador a sério. Caso contrário, se o elevarmos ao Olimpo cedo demais, não passará de um Litos, um Mário Jorge, um Dani ou outros casos mais recentes de grandes jogadores que não crescem à altura de um Figo ou um Pedro Barbosa. Sobre este último recaem, aliás, grandes responsabilidades na condução da equipa de jovens talentos, a partir do seu novo cargo de director do departamento de futebol. Com falta de referências e com a braçadeira entregue a promessas como Custódio ou Moutinho (para além de Ricardo), é em Barbosa que os miúdos vão buscar o que precisam de saber. Deles, de Liedson e de contratações como Paredes, Farnerud ou "El Loco" se fará o grande Sporting 2006-2007!


Estoutra (Carlos Leone, no Esplanar), sendo pessimista e injusta ao chamar nomes ao melhor guarda-redes português, manifesta as mesmas preocupações que nós quanto ao destino dos miúdos formados na nossa Academia:

Prognóstico reservado
Gostava de partilhar o entusiasmo do FAL no Corta-Fitas, mas não consigo. Lá continua o Rei dos Frangos com o seu lugar cativo, o Caneira por resolver e um novo inadaptado ao futebol europeu para chegar, o Deivid a atrofiar e El Loco como alternativa ao Liedson. Os miúdos? Quase sem excepção, transferidos ainda em formação, para mal deles e por tuta e meia (cláusulas de rescisão, nem vê-las...). O Guadiana e o seu troféu são passatempos.CL