domingo, 6 de maio de 2007

A solidez possível

foto daqui
A nossa equipa é uma equipa de putos, deficientemente enquadrados por jogadores mais experientes, devido ao facto de as contratações da época terem sido feitas com os pés (e com os bolsos de alguns, também).
Alguns sportinguistas vociferavam, aqui há coisa de um mês, que tínhamos uma equipa e um treinador sem categoria e que o melhor era não nos distrairmos da única coisa que podíamos conquistar (a Taça). Esses mesmos, esquecendo os argumentos de "há bocadinho", que o conjunto é demasiado jovem e não está enquadrado por jogadores experientes, etc., agora acham que era trigo limpo lutar pelo título. E tonitruam indignados que no jogo contra o Benfica devíamos ter ido para cima deles ‘que nem uns tarzões’ (como dizia o Caiado).
Confesso que, também eu, fiquei um pouco frustrado com a falta de ambição, face à evidente superioridade leonina até meio da primeira parte desse jogo; e toda a gente pensou que podíamos ter ganho com alguma facilidade. Depois, mais sereno, reflecti em que Paulo Bento é que conhece o potencial dos jogadores que tem. E, quanto a mim, tem agido bem, de um modo geral; ultimamente muito bem.
Nos últimos jogos o Sporting tem, de facto, vindo a ser uma equipa muito consistente. A personalidade do treinador tem vindo a ser bem traduzida na maneira como as coisas correm em campo. O Sporting entra “à Leão” e consegue resultados nos primeiros minutos. Continua mais um tempo a jogar bem, repito, a jogar bem, a espaços muito bem, e solidifica o resultado. Depois descansa sobre o mesmo e gere o esforço durante o resto do tempo, o que frustra um pouco os adeptos, que gostariam de ver a equipa jogar bem o tempo todo.
A excepção (parcial embora, já que tentámos fazer o mesmo durante o primeiro tempo) foi, pois, o jogo contra o Benfica, por essa equipa ser mais da nossa igualha e meter mais medo. Acho que a opção, tomada a meio do jogo, de jogar para o segundo lugar foi do Paulo Bento. Houve até um jogador (Caneira) que, em entrevista após o jogo, manifestou discordância em relação a essa opção. Ele achava que havia potencial na equipa para lutar pela vitória. Confiando embora na inteligência de Caneira e na influência que ele parece ter na equipa, confio mais no Paulo Bento. Ainda me lembro dum jogo entre o Brasil e a Itália no Mundial de 82: o Brasil (de Zico, Júnior, Sócrates, Falcão), a melhor equipa do mundo nesse tempo, atirou-se com autoconfiança para cima do adversário, mesmo depois de estar a ganhar. Foi o que a cínica Itália quis ouvir: ganhou 3-2 e foi campeã do mundo.
Escrevo logo a seguir ao jogo com o Setúbal, em que a nossa exibição foi, em determinados períodos, brilhante. Bem sei: é uma das equipas mais fracas da primeira liga, mas também a Naval levou de nós quatro secos e o Benfica só lhe ganhou, em casa, à tanja e com vaca.
Há que reconhecer, portanto, os méritos do treinador Paulo Bento, que tem mantido a cabeça fria e a capacidade de fazer o grupo dar a volta por cima em momentos de crise – no ano passado e agora. E tem também conseguido gerir o esforço da equipa.
Arriscava eu, em post anterior, “que nesta fase final da época a equipa parece ter ganho uma capacidade mental que até agora aparecia por vezes, outras vezes não”. Considerava depois um facto, “que ao longo da época tanto os jogadores como o próprio treinador ganharam uma experiência que talvez se possa agora traduzir em resultados”.
Como se diz no póquer, pago para ver.