sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Serão os adeptos?

Quem comigo vai à bola sabe que odeio os assobios e as vaias à nossa equipa. Aliás pior que isso é ter que levar com umas melgas que raramente vão ao estádio (ou que, por outras palavras, felizmente é raro ficarem atrás de mim) e que passam o jogo a murmurar impropérios. Bolas que são irritantes. Mais ainda quando após 30 ou 40 minutos os, nas suas bocas, piores jogadores do mundo marcam. É vê-los a louvar a sabedoria de tudo e de todos.
Temo que a questão PB é pior que estes fait divers, porque me parecem situações internas e orquestradas que levam o mais santo dos Paulos ao desespero, quanto mais o nosso PB.
É engraçado que o comentário do jornal do Darryl Jenks à actuação do Celsinho seja: “Chegou, viu e não convenceu (ou não venceu, não me recordo)”...
A Bola de hoje diz que PB está sozinho e nós sabemos que é bem verdade que 2 anos em Portugal desgastam, que muitas vezes o trabalho de um treinador é injustamente avaliado e que apoio público da direcção... é pior que deserto. Parece-me que a questão é muito mais de falta de apoio interno. Assobios justos ou injustos são pequeno-almoço dos técnicos, ossos do ofício direi.
Até porque geralmente temos tendência para esquecer que PB é uma pessoa e que por muito que necessite de melhorar a comunicação, e eu acho que necessita, já demonstrou que é directo e justo no que diz (é claro que há episódios como o de Stoy onde a coisa não funcionou), que tem margem de progressão ao nível técnico e táctico e que tal como nos deve começar a pensar que o discurso da gestão rigorosa só tem servido para lhe justificar as compras no lidl onde ninguém conhece as marcas e por vezes saem coisas razoáveis.
Meus caros Raul e Master, na minha opinião não são os adeptos que preocupam PB. O que o preocupa é este “rigor” leonino onde os números nunca batem certo e servem, sempre para justificar a limpeza da “marca” para que alguém fique com o oiro, qual empresa pública em fase de privatização.

Apelo aos adeptos

O vulgar adepto, o mesmo que assobia o treinador, é muito volúvel. Se o Sporting começar a ganhar jogos sucessivamente, daqui até ao fim da época, depressa o treinador passará de besta a bestial e de nabo a génio, mesmo que meta o Puro e o Pontus de início.
Nós, editores de blogues, além de adeptos como os outros, somos, à nossa mais ou menos modesta medida, fazedores de opinião. Temos, pois, responsabilidades acrescidas, pois parte dos assobios ou aplausos futuros dependem da influência que as nossas análises tenham sobre os adeptos. E, por desejarmos as vitórias do nosso clube, é nosso dever, penso eu, no conturbado período que vivemos, contribuir para a serenidade e a tão falada tranquilidade do grupo de trabalho da equipa de futebol.
E penso não estar a ser demasiado optimista se disser que é ainda bem possível, para não dizer provável, que o resto da época nos venha a trazer bastantes alegrias. Os sinais estão aí:
- Recomeçámos a ganhar jogos;
- Entraram dois reforços para a equipa (apropriados quanto às funções em campo, mas desconhecidos quanto ao valor);
- Alguns dos jogadores contratados no início desta época (Izmailov, Vucevic, mesmo Celsinho) começam a mostrar um maior entrosamento com os outros;
- Alguns dos lesionados começam a ficar disponíveis, nomeadamente Pedro Silva e Derlei;
- O tempo de vacas magras permitiu afirmações inesperadas de jogadores em funções que não lhes pareciam adequadas, mas onde podem ajudar a colmatar insuficiências da equipa; casos de Pereirinha a defesa direito e de Vucevic como segundo ponta-de-lança.
É, pois, a pior altura para se pôr em causa a competência do treinador.
Este, dentro das capacidades que possui, tem sido um exemplar servidor do clube que lhe paga. Eu, se fosse treinador do Sporting e olhasse para o banco em certos jogos em que é preciso alterar a equipa para ver se ela rende mais, era capaz de deitar as mãos à cabeça. Coisa que Paulo Bento não faz. Não se queixa do plantel que lhe deram (ele terá alguma responsabilidade nas escolhas, mas não a principal, dadas as limitações financeiras e o facto de não ser ele a fazer as contratações), nem das sucessivas lesões que o limitaram.
O que acontece é que, neste mundo cão que é o do futebol, arcar-se como ele arca com as limitações de qualidade dos jogadores, defendendo-os sempre que são postos em causa, acaba por se virar contra ele. Ele paga, pois, pela sua frontalidade, por defender os elementos do seu grupo de trabalho. Em suma, por ser um homem de carácter.
O problema está no imediatismo pouco inteligente duma parte dos adeptos (é só uma parte mas, sendo ruidosa, tende a fazer mossa) que, sequiosos de vitórias, se atiram ao treinador quando estas tardam, porque ele é o alvo mais fácil, assim se entretendo a dar sucessivos tiros nos pés.
Esses adeptos, nestas alturas em que vêem o campeonato com asas, esquecem as fraquezas do plantel, ainda por cima debilitado por lesões sucessivas, e o facto de que Paulo Bento já superou duas crises em épocas anteriores. E que, como digo atrás, estão-se a incrementar as condições para que o faça pela terceira vez em épocas consecutivas.
Não! No Sporting as questões não se limitam à competência do treinador. Elas mergulham fundo na política dos dirigentes, que, por condicionarem todos os actos de “gestão” aos interesses da banca, sacrificam tudo ao abatimento do passivo (duvidando-se que, mesmo quanto a isto, as atitudes tomadas sejam as que melhor servem os interesses do Sporting), com prejuízo do investimento no "negócio" principal do clube: o futebol.

Tudo isto pelo receio que tenho da memória dos adeptos; assim como uma sucessão de vitórias faz esquecer os eventuais erros, uma única derrota (no próximo Domingo, contra o Belenenses) pode deitar toda uma época por terra.
Eu tenho vindo a fazer o que acho que, como sportinguista, é meu dever, alertando para que não façamos o jogo dos nossos adversários, ao lançarmos o odioso da situação menos boa sobre quem é seguramente o menos responsável pelo que de mau nos vem sucedendo; sobre quem vem, à sua maneira, defendendo o seu grupo de trabalho e tem sido por tal penalizado em vez de louvado: o nosso treinador, Paulo Bento.
Estamos em fase de saída da crise desportiva. Fase em que é, mais do que nunca, da maior importância a união dos adeptos em torno da equipa de futebol. Sejamos pacientes, pois tudo indica que a tendência é para melhorar.
VIVA O SPORTING!

Reflexões, assobios e reacções em cadeia

Já aqui há bastante tempo (nos primórdios do KL) mantive uma viva troca de comentários com alguém (já não me recordo quem) sobre a questão dos insultos e dos assobios em Alvalade. Matéria que constitui o "pão nosso" deste Sporting desde há anos e que está novamente na ordem "de cada dia", como se sabe.
A questão é, no fundo simples: os insultos, assobios e impropérios lançados contra jogadores, técnicos ou dirigentes são coisas inaceitáveis à luz dos princípios de boa educação. Ponto final. Mas, volta não volta, lá vêm eles. São uma realidade, tão inevitável como os impostos... Neste Sporting do "paga e cala" não se vislumbram grandes alternativas para mandar mensagens simples...
E o que fazem os guardiões dos bons princípios? Escolhem ignorá-los, remetem-nos para a categoria dos epifenómenos e zurzem os seus autores.
Contudo, as pias intenções dos guardiões dos bons princípios não evitam o recrudescimento regular destes actos. Que intepretação dão então os pios? São manifestações de má educação e devem ser criticadas. Eles criticam. E os fenómenos acabam? Não! Voltam na primeira oportunidade.
E é isto! Andamos nesta "pescadinha" sem conseguir resolver o problema, nem explicá-lo sequer.
O ciclo tem, porém, forçosamente de ser quebrado.
Desta feita o feliz contemplado foi Paulo Bento. Esperar-se-ia que fosse o Clube, os seus responsáveis ou os seus membros a debater o assunto e a tentar uma resposta. Mas, não. É Paulo Bento, um funcionário do Clube, que nem sequer é do Sporting, a fazer luz sobre o assunto e a fornecer-nos matéria de reflexão.
Diz ele que há uma espécie de saturação, quer da parte dos adeptos em relação ao treinador, quer, se calhar, do treinador em relação aos adeptos.
A constatação destes factos é uma das coisaas mais interressantes que aconteceu no Sporting dos últimos anos e a análise dos mecanismos deste fenómeno contém dados muito positivos e lições a tirar.
Enquanto os pios preferem ignorar o assunto ou atribuir culpas aos suspeitos do costume, Paulo Bento chama as coisas pelo nome e de um golpe só fornece-nos os dados para perceber tudo isto: o grau de insatisfação é claro e patente, há um status quo que teima em não se alterar e não é manifestamente satisfatório. O descontentamente é o caldo de cultura em que vive o Sporting desde há anos (PB, ele próprio, junta até dados estatísticos para que os mais incautos não se esqueçam...). Ora, PB faz parte desse status quo, e não há outros mecanismos para expressar de forma aceitável o descontentamento, nem da parte dos adeptos, nem da parte dele, Paulo Bento, vis-a-vis o sistema que está montado.
E o que fez ele? Devolveu o assobio e o insulto à procedência. Ninguém jamais fez isto no Sporting.
Esta troca de mimos quer dizer, por mais voltas que lhe queiram dar, que há uma estrutura intermédia que devia funcionar entre o técnico e os adeptos que não está a funcionar. PB inteligentemente pressente a armadilha e sabe que deste confronto só poderá sair derrotado e, portanto, redirecciona as culpas para quem de direito. E quem de direito reage da forma mais básica e óbvia: vem mais uma vez afirmar o seu o apoio a PB. Quantas vezes precisa a direcção de manifestar esse apoio? E porque precisa a direcção de expressar esse apoio?
Estas sucessivas juras de amor não devem comover muito um treinador que sabe o papel que desempenha nesta embrulhada, mas que dá neste momento sinais fortíssimos de que não está disposto a aguentar essa situação por muito mais tempo. Ele aliás teve o cuidado de se precaver logo desde o início dizendo que nunca exigirá nada ao Clube, no caso de enventual desvinculação. Sairá, se tiver de sair por iniciativa própria, cheio de moral! E, ou acautela o futuro, ou a sua carreira como treinador ficará seriamente comprometida.
A direcção, que parece apanhada de surpresa com tudo isto, apressa-se a fazer-lhe discursos laudatórios, mas a decisão já deve estar tomada e PB não vai querer sair por baixo e em baixa do Sporting. Não estou a ver PB a submeter-se ao vexame dos lenços brancos (ainda não aparecereram, já repararam?) que podem rebentar a qualquer momento, nem o tenho por chantagista...
Cito as palavras do Raul no seu post anterior, relativamente à subsituição de Farnerud, quando pergunta "No entanto, olhem para o banco do Sporting e digam-me lá quem é que punham a jogar?" Mas, se é com isto que PB conta e se a matéria prima de que dispõe é o que é, que resultados pode ele almejar? E se não atingir os resultados esperados de quem é a culpa? Dele?!
Ele sabe, melhor do que ninguém, que uma subsitituição de treinador nesta altura "seria desastrosa", como refere ainda o Raul. Mas, quem tem, de facto, culpa do eventual desastre? E se ele não tiver sucesso estará disposto a arcar com as consequências?
Para o grupo musical "Os Alegres do Assobio", que actua em Alvalade quando é preciso, não haverá dúvida.
E o PB vai-se sujeitar a isso? E o coro vai meter o assobio no saco? E quando (se) Paulo Bento bater com a porta quem será, ou quem serão as próximas vítimas?
O dado novo e relevante é este: já não é, nem a direcção, nem os adeptos que dominam a agenda "Treinador" neste momento. Estamos todos suspensos à espera do desenrolar dos próximos capítulos...