quarta-feira, 6 de junho de 2007

Estereótipos

Mão amiga fez-me chegar este link para um video do Youtube com um sketch do Herman José sobre famílias disfuncionais do Sporting e de um outro clube, de cujo nome não me consigo lembrar neste momento. Não sei exactamente de que programa se trata, nem quando terá sido transmitido.
Neste sketch o humorista tenta recriar a figura do adepto típico do Sporting e do tal outro clube. O enredo, em si, é semelhante em ambos os casos: um pai de família chega a casa depois de um jogo do respectivo clube e a família aguarda-o para jantar. No caso do retrato do adepto do tal outro clube vemos um tipo boçal, vestido com um fato de treino, bronco, bêbado, violento, que bate na mulher e nos filhos e destrói a casa depois de uma derrota. A casa, por sua vez, está pintada de vermelho e os símbolos do clube são evidentes por todo o lado. No caso do adepto do Sporting, é gente "bem", que se trata por "você", o adepto está vestido com um pulôver verde, tem modos "finos", as roupas da mulher e dos filhos são da moda, não há símbolos evidentes do clube à vista. Em destaque apenas um discreta foto do Visconde de Alvalade. O ambiente "sportinguista" é fino, mas estranhamente mmm... escasso!
Estas coisas valem o que valem, evidentemente e estereótipos são isso mesmo, mas creio que há leituras que se podem fazer deste sketch que me interessam sob o ponto de vista do Sporting.
Ao "sportinguista" falta agressividade e sobram maneirismos no tratamento. É notória a ausência de símbolos do clube na casa e o mais destacado é o do Visconde. Tudo é superficial. As relações inter-familiares são distantes.
O outro adepto é, em tudo, o oposto deste.
Trata-se de uma caricatura, naturalmente, mas como todas as caricaturas terá traços correctos e encerrará uma visão que a sociedade tem destes dois clubes.
Quem se identificará com esta versão "benzóca" do Sporting? Faço um esforço de memória e tento rever os momentos em que o Sporting veio para a rua comemorar as últimas vitórias nos campeonatos, as grandes jornadas de confraternização sportinguista nas finais das Taça de Portugal, o ambiente à volta do estádio nos dias (raros) em que os jogos se realizam em horário decente. Tento lembrar-me do modo como os meus parceiros Sportinguistas se comportam em relação ao seu Clube, que símbolos ostentam, como se comportam. Nada disto corresponde ao retrato traçado por Heman José, no que respeita ao Sporting.
O Sporting que conheço é um clube nacional, popular, cujos membros se distinguem, na generalidade, por uma uma elevada postura moral e civil. Os Sportinguistas distinguem-se, de facto, mas porque são melhores que os outros. Conheço poucos Sportinguistas que não tenham um qualquer traço de elevação de carácter. Não conheço Sportinguistas, sejam agricultores, operários, empresários, estudantes, velhos, novos, homens, mulheres, que se reclamem do Sporting para parecer bem. Mas, conheço uma enorme quantidade que é do Sporting porque é gente de bem!
Lembrei-me ao ver este video das palavras do presidente do Sporting na última AG realizada no Pavilhão Atlântico. Dizia ele que para ser do Sporting é preciso ter disponibilidade financeira. Se calhar, foram esses sportinguistas, que aparentam ter essa disponibilidade económica para aguentar o sorvedouro que é ser adepto do Sporting, descaracterizados e armadões, que na realidade se interessam pelo Clube dia sim, dia não, e que deixaram chegar o SCP à triste situação de agremiação de segunda categoria, falida e devedora. Mas, adivinho que, esses, se devem ter rido com a piadinha do Herman e que se sentem identificados com o boneco...
Estas coisas, repito, valem o que valem, mas eu, por mim, sinto-me incomodado.