sábado, 2 de fevereiro de 2008

Sobre o respeito

Pela observação que faço do que dizem os adeptos por aí fora (incluindo aqui nos blogs) há uma tipologia clara que caracteriza as posições dos Sportinguistas face ao momento mais agitado que se vive.
Uns criticam a organização actual do Sporting, questionam em primeiro lugar a linha de gestão que tem sido seguida de há 12 anos a esta parte, põem em causa as suas estratégias ou a falta delas, e chamam a atenção para o estado lastimoso em que, na sua opinião, caiu a instituição.
Outros criticam os críticos, porque acham que a defesa do Sporting é um valor sacrossanto e a crítica só induz a criação de mais problemas. O problema do Sporting está, na opinião destes, nos que imaginam haver problemas.
Há os que pensam que há de facto problemas, mas acham também que ao questionar o actual status quo se está a contribuir para uma indesejada escalada desses problemas. Há outros que pensam que se os problemas não forem tratados, qualquer dia não haverá problemas com a instituição, porque não haverá instituição. Há também quem pense que tudo está bem e que estamos a caminho de um mundo a verde e branco.
Haverá uma percentagem de exagero em todas estas posições. Haverá também uma percentagem de razão em todas estas opiniões. E é certo que todas estas posições têm intenções, argumentações e defensores legítimos.
Ambos, no entanto, dão ipso facto como adquirido que há crise (para uns no Clube, para outros nos adeptos do Clube). Seja quem for o autor da crise (interno ou externo), o certo é que todos estamos de acordo: há crise!
Sou adepto da unidade e portanto se esta discussão é factor de desunião entre os Sportinguistas temos todos de fazer um esforço para nos entendermos e para chamarmos os mesmos nomes às coisas. Temos obrigação de encontrar um terreno comum de discussão. E o pior que pode acontecer ao Sporting, aquilo que poderá levar à sua extinção tal como o imaginamos hoje, é ignorarmos os problemas e virarmo-nos uns contra os outros ou sermos indiferentes a tudo isto.
Há, seguramente, uma crise: de unidade. E essa crise de unidade tem cláusla única causa a falta de respeito.
Se outras razões não existissem, o facto de estarmos todos envolvidos nestas trocas de pontos de vista, por vezes acaloradas, prova que há modos diferentes de encarar a situação do Sporting e que estes diferentes pontos de vista necessitam de clarificação. Mas, por uma questão de respeito e de solidariedade clubística os que pensam de maneira diferente têm de fazer um esforço para tentar perceber os argumentos dos outros, reflectir sobre os seus pontos de vista e contra-argumentar de forma que não agrave as divisões que hoje manifestamente se começam a esboçar. Quem não concorda comigo não me pode insultar e ignorar os meus pontos de vista. Tem de me combater no terreno onde eu estou a jogar, que é o terreno das ideias e o terreno do amor ao Clube. Eu tento fazer o mesmo. Por mim tenho ideia que o Sporting atravessa um período conturbado, que esta situação não é de hoje e está a colocar em perigo o Clube que todos amamos, ou dizemos que amamos. Por mim, vejo que há muita gente que se afastou e continua a afastar do Sporting porque a instituição deixou de respeitar os valores que atraiu essa gente ao Clube. Acho que muitos subestimam tudo isto.
Mas, quando afirmo tudo isto e o faço em nome do amor que tenho ao Sporting, tenho que necessariamente dizer que substituir Sporting por Sportinguistas, porque são eles o símbolo e o veículo dos valores do Sporting.
O Sporting é uma instituição feita por pessoas. Os seus valores, a sua história, os seus pergaminhos são valores relativos a pessoas, não são valores abstractos. Amar o Clube é amar, antes de tudo, as pessoas que o formam solidarizar-se com elas, ir ao encontro delas. Pelo respeito que todos nos devemos uns aos outros, temos de nos unir, temos de nos ouvir e temos de reflectir sobre os diversos olhares que avaliam o que é o Sporting hoje. Não é aceitável que eu porque acho que há crise insulte alguém que pensa de forma contrária, nem é de todo aceitável que alguém que pensa que o Sporting está a viver no melhor dos mundos me venha dar lições de moral Sportinguista e me insulte a mim. Temos todos direito aos nossos pontos de vista e todos deveríamos fazer um exercício sério de conciliação desses diferentes modos de ver o Clube. Este exercício é uma exigência democrática e é um imperativo de inteligência. O modo de promover o debate não é o insulto.
O Sporting tem, por seu lado, de encontrar mecanismos que assegurem a discussão destes assuntos. As crises vêm da indiferença. O Sporting tem de reflectir as grandes aspirações dos Sportinguistas. Os Sportinguistas têm de se sentir refletidos no Clube. O Sporting não é a SAD, nem sequer é a direcção. O Sporting são os Sportinguistas. A SAD ou a direcção são ferramentas do poder Sportinguista. São instrumentos do Sporting. Simbolizam o todo Sportinguista. Não são o Sporting! O Sporting não se esgota na direcção e muito menos na SAD... O Sporting tem de ser dos Sportinguistas. Não é dos procuradores ou dos gestores da massa falida. HÁ MAIS SPORTING PARA ALÉM DA DIRECÇÃO!

Sejam os leitores partidários de um ou de outro dos pontos de vista que citei inicialmente, uma coisa podem ter a certeza: nunca como hoje houve um perigo tão real de desagregação do Sporting Clube de Portugal. Ninguém neste momento promove a unidade Sportinguista. O Sportinguismo é um valor em queda livre que ninguém nutre nem preserva. Há dias um conhecido comentador Sportinguista chamava a atenção para a assistência ao jogo do Porto. Exultava com aquilo que classificou de presença maciça. Não se iludam com assistências! No estádio de Alvalade para um jogo com o Porto deveriam estar mais de 50.000, não 30.000. E dos 30.000 que lá estiveram muitos o fizeram porque apoiam o Clube, mas também apoiam mudanças no Clube. Porém, neste momento são já mais os indiferentes.
Está nas mãos de cada um de nós evitar a desagregação do Clube ou a sua morte por falta de matéria-prima, i.e., Sportinguistas. O Sporting, ao contrário do que muitos possam pensar, não é uma realidade intemporal e abstracta. O Sporting é o que nós decidirmos que o Sporting é. Se quisermos um Sporting de todos, aberto, nobre, inteiro isso só pode ser obra colectiva e solidária. Infelizmente, eu vejo sinais de clivagem. E tenho a certeza absoluta que muitos dos meus leitores me darão razão.
Evitemos pois a clivagem.
E respeitinho! Porque, como se dizia antigamente, respeitinho é uma coisa muito bonita!