sábado, 18 de março de 2006

Quem ganhou a AG?

Os anunciados candidatos, vêm hoje, com semblante de vitória, anunciar o seu regozijo por os sócios do Sporting não terem deixado passar a proposta de venda de património apresentada pelo Conselho Directivo. Coitados! Ainda não perceberam o que, de facto, aconteceu...
E do que aconteceu o principal prejudicado é o Sporting.
Porque, para começar, qualquer que seja o Conselho Directivo que venha a ser eleito, encontre as contas como encontrar, pelo menos nos próximos tempos – isto é, enquanto os sócios se lembrarem do que acabaram de decidir – não se vai poder tocar no património. Ora, sendo certo que FSF carregou de sombras negras o quadro financeiro do clube, estou cá desconfiado de que não vai ser fácil pagar salários e outras despesas correntes se não houver uma entrada extraordinária de fundos. "Estarás tu, herege, a insinuar que o interino FSF tinha razão em querer alienar património?", dir-me-ão. Ora, só o que se deve da construção das infra-estruturas, como agora ficámos a saber inteiramente financiadas por capitais alheios, obriga ao pagamento de juros anuais de mais de 13M€. E, pelo que li nos jornais – e apesar das vendas das jóias da nossa coroa, algumas delas a abrilhantarem os plantéis dos nossos principais rivais – só em prejuízos acumulados nos últimos 10 anos já vamos em 112 milhões!
Mas o mais grave não é isto. É que já os jornais começam a insinuar que FSF (se não for ele há-de ser alguém que garanta a continuidade) se apresta a candidatar-se. Ele, actual representante dos "gestores" que nos andaram a "enterrar o tostão" durante o último decénio! Pois é, ainda ninguém reparou que, apesar de derrotada, a actual Direcção teve 64% dos votos!
Nas circunstâncias em que a coisa correu, isto é, tendo-se aceitado as regras do jogo traçadas para esta Assembleia, a Direcção saía sempre a ganhar. Como, de facto, saiu. Agora vai capitalizar os sessenta e tal por cento que são os seus eleitores. Os totós dos protocandidatos não perceberam que o que tinham a fazer era recusar aquela metodologia de debate e decisão. O que deveriam ter proposto era que o debate fosse realizado em sede eleitoral e que a decisão sobre a alienação de património fosse protelada para depois das eleições.
Nós tínhamos uma moção preparada para ser apresentada durante a Assembleia que propunha concretamente:
Adiar a decisão sobre a questão em apreço nesta Assembleia para depois das próximas eleições para os Corpos Gerentes do Sporting Clube de Portugal.
Com a falta de prática que temos da maneira como é possível correrem as coisas numa AG, inscrevemo-nos para falar e, nessa altura, apresentar a moção. Qual não é o nosso espanto quando, estrategicamente a seguir a uma intervenção de FSF, o Presidente da Mesa revelou que tinha uma moção que ia no sentido de se proceder imediatamente à votação. Já cansados e prevendo que não iriam ser melhor esclarecidos por mais intervenções, os sócios quiseram votar de imediato.
Chegados a este ponto votámos obviamente contra. Mas tudo isto foi uma falácia porque não só nós, mas todos os descontentes que ali estavam – e as intervenções destes foram bastante claras quanto a isto – votámos, não contra o projecto de alienação, mas contra o Conselho Directivo.
Porque se houve mérito que este desgraçado processo teve foi o de nos revelar o buraco em que as gestões dos últimos 10 anos nos meteram. E que não estamos sozinhos nas nossas preocupações; intervieram vários associados jovens, com um discurso vigoroso, informado e consciente. Mas é improvável que se consiga poder suficiente para contrariar esta espécie de polvo que se alapou aos cargos dirigentes do clube.
Querem que vos diga a verdade, sem subterfúgios? Então lá vai: o que vamos ter a seguir é mais do mesmo.
A esperançazinha é que apareçam as tais alternativas credíveis.

AG III

Nos dois posts anteriores detive-me sobre duas questões que esta AG veio colocar a nú:
1- Não há uma cultura democrática no Sporting.
2- Existem valores perenes no SCP que de alguma foram transmitidos às gerações mais novas e nos deixam optimistas em relação ao futuro. Se... a herança lá chegar.
Neste terceiro post gostava de falar na questão de fundo desta Assembleia: a destituição da geração Roquette.
A situação financeira do Sporting é problemática --como o presidente cessante do Clube tentou demonstrar com copiosa soma de dados-- desde há muito. Sucessivas direcções concentraram-se na sua resolução ou acabaram agravando-a. O Projecto Roquette surgiu como uma das mais aliciantes tentativas para a resolução deste crónico problema que foi possível construir. O Projecto Roquette falhou. O que os sócios fizeram ontem foi gritar, alto e bom som, isso mesmo: o Projecto Roquette falhou. Não há mais tentativas, nem mais condescendência com os seus promotores!
Outra coisa que ficou clara do resultado da votação de ontem foi o facto de os sócios não temerem, apesar das contínuas ameaças sobre o espantalho do vazio de poder, a aparente ausência de alternativas. Este facto é importante porque o horror ao vazio de poder tem pairado constantemente sobre as escolhas eleitorais dos Sportinguistas. O vazio de poder é o factor que tem substituido o debate democrático, ético e esclarecedor.
Em grande parte porque os mesmos que abanam o espantalho do vazio de poder têm, eles próprios, horror à discussão e à participação democrática. (Neste sentido, as sessões convocadas por FSF podem bem ser classificadas como "sessões de convencimento" como um sócio referiu, e neste sentido também é mesmo fundamental discutir aberrações como a forma de condução da AG de ontem, ou a macacada da "AG" de 23/2...).
Noutra medida, e em resultado também desta posição autocrática, porque tem existido uma incapacidade para entender e promover o papel das novas gerações de Sportinguistas nos destinos do Clube. Apenas os dirigentes do presente se perfilam como alternativa. O futuro não chega aos calcanhares do presente. A não ser mascarado de claque.
Muito do que, no fundo, se passou nos últimos dez anos no SCP passou por isto: crónico desprezo pelos sócios e incapacidade de incorporar novo sangue nas fileiras dirigentes. O resto é conhecido e foi amplamente discutido por todo o lado.
Resultado de tudo isto: voltámos a falhar e estamos na estaca zero. Precisamos de um novo "Projecto".
Mas, o que ontem ficou claramente expresso na votação foi: "estes não!" Que sobre isto não restem dúvidas!!
Venham então os próximos!
Em próximo episódio tentarei falar sobre programas possíveis.

Futuro

1 – A.G.

Não me parece que o fundamental seja discutir a direcção da assembleia. Há demasiados grupos no Sporting para que saibamos quem foi fazendo as diferentes manobras de gestão da assembleia. A mesa (a direcção, verdadeiramente) fez a sua, mas foi do grupo FSF que saíram os apupos em momentos que queríamos ouvir? Não sei. Houve quem soubesse estar no lugar certo à hora certa no que diz respeito a inscrições… falaram todas as facções concorrentes à direcção, apesar de não terem verdadeiramente podido dizer tudo, mas quem tem o poder exerce-o….
Nós, que somos novatos no assunto, não falámos mas o que queríamos dizer foi dito. Hoje após alguma reflexão tenho algumas dúvidas sobre se não deveríamos ter feito uma proposta de pedir à direcção para que a sua proposta garantisse que seria a futura direcção a vender se tal achasse necessário e se isso fizesse parte do seu programa eleitoral.
Porque me parece óbvio que a situação é grave e que se fechamos as portas aos bancos podemos ficar pior que o belenenses.
Mas perante a provável impossibilidade de expor as nossas opiniões fico contente com os resultados

2- Futuro

Agora há que fazer surgir alternativas credíveis, que até podem passar pela venda, mas que terão que passar necessariamente por um esclarecimento dos motivos que nos trouxeram até aqui.
O clube está estrangulado financeiramente e quem aparecer terá que ser claro nas propostas que faz para começar a por as contas na ordem.
Penso que garantir uma candidatura credível se sobrepõe à procura dos culpados, mas não a pode esquecer.

Porque o futuro do Sporting não depende dos culpados mas das soluções

AG II

Uma primeira nota acerca da substância da AG. Fiquei francamente impressionado com o teor de duas ou três intervenções de sócios mais novos. Para quem temia que o Sporting estivesse esgotado e à beira de perder a sua mística e os seus valores, acho que essas intervenções deixaram claro que o futuro do Clube está em boas mãos.
Intervenções corajosas, articuladas, que tocaram no centro mesmo das questões que estavam em debate na AG. E doeram! Ficámos privados de ouvir outras intervenções que se adivinhavam igualmente importantes e estavam a gerar também compreensível expectativa. Mas enfim, nada disto surpreende na verdade...
Um agradecimento ao senhor Presidente da Assembleia Geral do Sporting, doutor Miguel Galvão Telles, por ter ajudado de forma tão inspirada a um maior esclarecimento de todos os Sportinguistas.
Bem haja!

AG I

Obrigado por uma das maiores tentativas de golpada numa AG de que há memória, dr. Miguel Galvão Telles.
E obrigado aos estimados sócios que se prestaram a esta manobra. Em especial àquela sócia que vai ao relvado entregar ou receber qualquer coisa das mãos do dr. Filipe Soares Franco, semana sim, semana não...
Ao fim de 100 anos é natural que a reunião do Orgão Máximo do Sporting Clube de Portugal decorra na perfeição.
A última já tinha sido um exemplo de visão, de competência, de consideração pelos sócios e de escrupuloso respeito pelos preceitos democráticos.
Por isso, obrigado ainda ao dr. Miguel Galvão Telles pela forma serena, autoritária e eficaz como conduziu a AG. Um primor! Um exemplo! Então aquela fase da votação vai ter de fazer parte, no futuro, dos compêndios sobre esta matéria.
Uma palavra ainda para o método de votação. Um verdadeiro achado, também certamente ideia de um dos génios que se sentam à mesa da Assembleia Geral...
A votação era secreta e fazia-se por voto em urna. Havia dois cartões. Dispúnhamos de um verde e de outro laranja. Ambos tinham um quadradinho para assinalar o voto contra, a favor ou a abstenção. Depois tínhamos urnas onde poderíamos introduzir os votos. Mas... descoberta, das descobertas!, para um voto secreto tínhamos uma urna que dizia "A FAVOR" e outra que dizia "CONTRA". Mais além, havia urnas para a "ABSTENÇÃO". O secretismo da votação ficava deste modo assegurado. É o conhecido método de "urna no ar"!!
Mas --longe de nós querer exibir aqui algum sentimento de desconfiança--, todos nos interrogámos, quando verificámos a forma isenta e exemplar como os trabalhos foram sendo conduzidos e com a experiência radical que tivémos no dia 23/2, sobre quem teria assegurado que as urnas não continham já alguns votos (já previamente preenchidos para facilitar as operações...) e quem faria a contagem.
Depois de tudo isto temi o pior.
Ninguém nos explicou, entretanto, para que servia aquele cartão laranja.
Temi o pior...