sábado, 12 de janeiro de 2008

Mercenarização não é profissionalização: fim à SAD!

Defendi desde há muito tempo, e continuo a defender, que a SAD devia acabar. Não sei quais são as implicações jurídicas de uma tal medida, nem tenho contas mágicas feitas sobre o prejuízo que a SAD terá causado ao Clube. Mas, os resultados e a desadequação da solução SAD aos fins que todos ambicionávamos parecem evidentes, como evidente parece que a SAD foi um mau negócio para o Sporting.
Antevejo uma plêiade de leitores, daqueles mais sérios e pós-modernos, a esboçarem um sorriso trocista depois de lerem esta minha observação --se calhar entre eles estarão muitos que atacaram a ideia da SAD anteriormente com unhas e dentes...-- mas é esta a minha firme convicção.
E afirmo portanto com toda a força: maldita a hora em que nos tornámos SADISTAS!
Que grandes argumentos foram apresentados para a criação da SAD?
Em primeiro lugar, a transparência e lisura de procedimentos de gestão. Não creio que seja necessária uma SAD para isto. Bastava haver um Sporting melhor e mais seriamente gerido. Para chegar onde chegámos bastava continuar a rebaldaria.
Depois, claro, vem o argumento dos investimentos e da criação de capital de que o Sporting precisava. Ora, o capital apareceu, sim senhor, à custa dos bancos e dos trouxas dos sócios, como eu, que foram engatados e se precipitaram a comprar "lugares especiais” no novo estádio.
O Sporting nunca foi um "investimento" atractivo para ninguém fora do universo leonino. E nunca será porque para o tornar atractivo ao universo não leonino, o Sporting teria justamente de destruir o universo leonino e com isso perder-se-ia a indentidade "Sporting". O Sporting daria então lugar a um Sporting marca branca, um Sporting genérico. Não estamos livres de que nos aconteça isto, contudo... E de certa forma já acontece, porque em matéria de “sportinguismo” o Clube já conheceu melhores dias... Mas, estão certamente a ver o absurdo de tudo isto se a fórmula por hipótese vingasse.
Flexibilidade comercial, foi outro dos argumentos apresentados. Negócios à fartazana, empresas, holdings, participadas e outras preciosidades do género. Este argumento pegou até que o próprio mentor do projecto veio dizer que as diversas vertentes comerciais projectadas não eram apropriadas a uma estrutura voltada para o futebol e se passou tudo a patacos como é conhecido... Incrível, mas verdadeiro, este salto mortal irá certamente ficar para a história do capitalismo e dos capitalistas portugueses!
O célebre argumento da "bola na trave" bateu, ele próprio, na trave e fez ricochete logo que a bola bateu pela primeira vez na trave, na primeira crise de resultados pós-projecto... Hoje o argumento da “bola na trave” está morto e enterrado pelos seus próprios autores. Não abona absolutamente nada em favor do jeito para os negócios e do talento para gerir o Sporting que os grandes feiticeiros da finança “sportinguistas” alardeavam, mas eles teimam em fazer-nos crer que sim...
No geral, o projecto Roquette desfez-se em fumo e sobra dele hoje, apesar das aparências, ou com a ajuda delas, uma manifesta atmosfera de profunda decadência.
De facto, no concreto o que é que nos restou desta pífia incursão capitalista, desta aventura verdadeiramente SADica em que nos meteram?
Em primeiro lugar, o maior defice de que há memória. Em termos absolutos e em termos comparativos, não pedimos meças a ninguém: o Sporting caminha com larga vantagem à frente dos clubes portugueses mais encalacrados. Gestão para o Sporting não significa hoje trabalhar com o orçamento mais baixo dos três grandes, mas abater o défice mais alto! Esta é que é a realidade.
Em segundo lugar, uma desresponsabilização total, questão que podemos resumir no seguinte argumentário: o Clube ambiciona naturalmente resultados, consentâneos com os seus pergaminhos, mas a SAD não deixa fazer investimentos! Ah, mas a SAD não tem resultados, então a culpa é do Clube que dá prejuízo. E vice- versa, conforme as conveniências...
Em terceiro lugar, um Sporting entregue na prática a lampiões, andrades e quejandos, com impunidade total e licença para matar! Pelas malfeitorias que vemos fazer aos próprios auto-proclamados "sportinguistas" que por lá têm passado imaginamos as malfeitorias que os que assumidamente o não são farão.
Em quarto lugar, uma SAD que se usa do Clube (ou seja, dos seus sócios e do seu património material e histórico), mas que não serve o Clube!
Em quinto lugar, uma empresa que não teria qualquer viablilidade sem o Clube e sem os sócios, mas que age como se estes não existissem.
Em sexto lugar, uma SAD que não é uma instituição normal de mercado, mas antes uma aberração, uma perversão, um tumor gerido por homúnculos travestidos em gestores, mercenários que brincam com os valores, os sentimentos e o dinheiro dos sócios.
Por tudo isto, a SAD tem de ter um fim e por tudo isto temos de encontrar uma nova fórmula organizativa para o SCP. Uma fórmula que reflita o que o Clube é hoje e o que para ele projectamos para amanhã. Podemos estudar modelos de referência, podemos idealizar o nosso próprio modelo, e uma coisa é possível assegurar: SAD não é fatalidade e SAD não serve!
O debate está lançado e podemos estar certos que, ou acordamos para esta realidade e nos organizamos para definirmos o que queremos, criando, nomeadamente, uma nova fórmula organizativa, que dê um novo rumo ao Sporting --mas um Sporting para os sócios e com os sócios--, ou os pesadelos como este que estamos mais uma vez vivendo ir-se-ão repetir.
Se assim for cá nos encontraremos então, certamente, na próxima curva à espera da próxima derrapagem.