quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Nova Liga, velha Liga

Num post recente exprimi a minha apreensão pelas palavras dos novos dirigentes desta "nova" Liga na sua tomada de posse, que me pareciam prenunciar a vitória, ou a derrota anunciada de um deles dentro de pouco tempo. Mas, o que a "nova" Liga parece desde já indiciar, certamente também, é a tentativa de criar uma nova era de promiscuidade entre o poder político e o mundo do futebol. Mais requintada e mais subtil, mas igualmente triste e sinistra.
Oxalá me engane, dizia eu nesse post, e repito-o agora...
Hermínio Loureiro, deputado do PSD e ex-secretário de Estado da Juventude e Desporto de um governo PSD, recorde-se, trocou o estatuto de vice-presidente da bancada parlamentar social-democrata pelo de presidente de uma liga de desporto profissional, embora mantenha o lugar de deputado. No mesmo momento, o líder do seu partido anuncia a apresentação de propostas de lei de combate à corrupção desportiva, enquanto uma nota do Ministério da Justiça sublinha a concordância entre o PSD e o Governo quanto à necessidade de promover uma revisão da legislação sobre comportamento anti-desportivo.
O recente pacto sobre a justiça entre o PS e o PSD deixou, como é sabido, de lado a questão da corrupção, mas a corrupção desportiva parece merecer consenso...
Temos, de um lado, um líder da bancada parlamentar de um partido da oposição "sacrificado" no altar do futebol; vemos, do outro, uma clara e inequívoca comunhão de esforços entre as duas forças políticas dominantes no país em matéria de futebol; tudo aponta para que os despojos deste sacrifício venham ser partilhados por essas forças políticas, que estão na origem desta iniciativa; por outro lado ainda, verifica-se com mágoa que a iniciativa da regulação do futebol está entregue a políticos, com os diversos agentes do futebol a ver passar o comboio, revelando indiferença, quiça conluio, ou pelo menos, uma total e condenável falta de poder de iniciativa.
O que se pode concluir de tudo isto? Em primeiro lugar, que num país que glorifica por todo o lado o desporto rei, é à iniciativa política que se poderá vir a ficar a dever a regulação que o desporto rei não conseguiu produzir por si. Em segundo, que um país onde se denunciou com gritos de indignação as ligações perigosas entre o mundo da política e do futebol, está agora na iminência de ver uma submissão total, oficial e firmada em papel timbrado do Estado do futebol à política. Em terceiro e último, que forças políticas que cantam constantemente ossanas à iniciativa privada tentam "estatizar" totalmente (leia-se "partidarizar") a "indústria" do futebol doméstico, produzindo uma verdadeira "lei de condicionamento industrial" travestido de operação de limpeza.
A "nova" Liga é a velha Liga com mais sagacidade. A menos que a "velha" Liga ainda não tenha dito a última palavra. E tudo fique na mesma.
Em todo o caso, o futebol está feito ao bife!
Oxalá me engane...

Venenos 4

É uma associação primária, é verdade, mas sempre pensei em salsichas quando ouvia falar no nome do árbitro Isidoro. O homem não era para mim um árbitro, era um enchido. Nunca conseguia por isso vê-lo como um árbitro legítimo, com cursos, insígnias da FIFA, calçado Adidas e todas aquelas coisas que dão legitimidade e conferem autoridade a um árbitro. Havia aquele nome. E havia, por isso, qualquer coisa que, à partida, não colava, conferindo-lhe uma aura de salsicheiro e retirando-lhe qualquer resquício de credibilidade. Mesmo que a sua reputação fosse imaculada, como a virgindade da minha tia Maurícia, um árbitro chamado Isidoro não podia suscitar qualquer respeito.
Aqui há pouco tempo ficámos a saber que o senhor Pinto da Costa terá falado ao senhor Pinto de Sousa no nome de Isidoro. Desta conversa de Pintos resultou uma tarefa para o árbitro Isidoro: ele iria apitar a final da Taça de Portugal de 2003. Nesse mesmo ano Isidoro, o cantor, gravou o seu primeiro CD intitulado "Memórias". No ano seguinte gravou "Laços de Amor", celebrando certamente memórias de um outro C.D.. Agora o ex-artista do apito brinda-nos com um novo trabalho chamado, apropriadamente, "Sesta na Bancada". Para adormecer, portanto. Isidoro vira cantor de protesto e reclama justiça para os árbitros, gritando com ar alucinado "Tem de mudar! Tem de mudar! No juiz tens de confiar!"
Como árbitro, a credibilidade de Isidoro caminhava pelas ruas da amargura. Como cantor de protesto a credibilidade deste artista reduz-se dramaticamente a uma mera salsicha de cocktail.