segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

A arbitragem do jogo contra o Belenenses


Sou daqueles que não gostam de justificar os insucessos com os erros de arbitragem. Por exemplo, dou valor ao Paulo Bento por nunca usar este tipo de desculpas (ao contrário do incensado pela sua correcção Fernando Santos, a quem, já esta época, vimos estalar o verniz).
É um facto, até um pouco reconhecido por alguns dos nossos adversários, que houve um tempo em que ao Sporting era impossível ganhar o campeonato, porque tudo estava controlado pelos poderes das sombras. Não creio que isso aconteça de forma tão sistemática hoje em dia. Mas, circunstancialmente…
Vem isto a propósito da arbitragem do jogo com o Belenenses. Claro que não foi por causa da arbitragem, mas por incapacidade própria, que o Sporting perdeu dois pontos.
Mas a arbitragem teve vários enganos, por azar (?) todos contra o Sporting. E a comunicação social não lhes faz qualquer menção, antes considera boa, de um modo geral, a actuação da equipa de arbitragem.
Vejamos os erros que consegui identificar:

  • Aos 12m agarrão e puxão do braço de Alecsandro na meia-lua, mesmo à entrada da grande área, fazendo-o cair. Seria livre perigoso e nada foi assinalado.
  • Entrada de pé em riste sobre Moutinho, atingindo-o e magoando-o, perto da área sobre o lado direito do Sporting (em excelente posição para Rony); merecia amarelo, mas nem falta foi marcada.
  • Várias faltas marcadas indevidamente aos jogadores do Sporting, na primeira e na segunda partes.
  • Falta, amarelo a Polga e livre perigoso contra o Sporting perto do fim do jogo; na repetição da TV vê-se que Polga nem sequer tocou no adversário.
  • Os jogadores do Sporting deixaram-se cair muitas vezes no fora-de-jogo, mas alguns deles foram muito duvidosos, e pelo menos um deles mal tirado: o de um passe que dá cabeceamento de Tonel; o único jogador que está fora-de-jogo está deslocado para a direita do ataque e não tem interferência na jogada.

Nani ficou de “castigo” por baixar a aplicação

A propósito e em correcção do último escrito aqui publicado, cito “O Jogo”:

«Nani ficou de “castigo” por baixar a aplicação
O afastamento de Nani do jogo com o Belenenses não teve relação directa com o incidente por ele protagonizado com Custódio no treino de sexta-feira. O camisola 18 terá tido uma entrada mais dura sobre o capitão, depois de ter sofrido um toque – de Liedson – no joelho, mas em ambas as situações não houve lugar a actos de indisciplina, ou qualquer acção mais veemente por parte da equipa técnica. O facto de o médio criativo ter ficado de fora dos eleitos de Paulo Bento, pela primeira vez desde que o técnico assumiu o comando, está mais relacionado com alguns desvios em relação aquilo que, em Alvalade, se entende como padrão exigível para que quaisquer jogadores possam funcionar como opções para a competição. O trabalho semanal funciona como antecâmara da competição, e, neste sentido, Paulo Bento é "intransigente na defesa dos interesses do grupo de trabalho". »

O meio-campo e a disciplina

Volto a dizer que uma das virtudes que reconheço à gestão de Paulo Bento é ter transformado uma equipa com graves problemas disciplinares, numa equipa disciplinada. É claro que não há unanimidade; até é bom que haja pluralismo, desde que não haja dúvidas sobre quem é que tem a última palavra. E também é natural que possa haver actos individuais de indisciplina.
É o que parece ter acontecido com Nani: ao que se diz, ter-se-á desentendido com Custódio, sendo este, como se sabe, o capitão de equipa.
Recorde-se aqui o que PB disse sobre Nani na entrevista de fundo de há uns meses a “O Jogo”:
«… é bom que aprenda a saber conviver com situações de sucesso. Mas para este menor rendimento que ele tem demonstrado há alguns culpados: em primeiro lugar eu, porque se calhar coloquei-o a jogar vezes demais; em segundo lugar ele, porque não está a aproveitar todas essas oportunidades da melhor maneira; e depois, se calhar, quem o rodeia, muitas vezes quem lhe possa dar demasiadas coisas para quem alcançou tão pouco. Isso torna-se perigoso para um rapaz de 20 anos. Ver notas 7 e 8 só por fazer um golo torna-se perigoso para um jogador…»
Pois, se calhar PB pôs Nani a jogar vezes de mais. E desta vez resolveu pô-lo na ordem e não o convocou.
Pelo contrário, passado o seu período de quarentena, PB resolveu-se a meter Carlos Martins nas opções iniciais. As consequências foram altamente penalizantes para a equipa: ao mau jogo de CM (como o tem feito ultimamente, a fazer um jogo à parte) somou-se o primeiro dia não de Moutinho ao fim de oitenta e tal jogos seguidos a titular, e o Sporting ficou sem ninguém que pegasse no jogo durante toda a primeira parte. A equipa “sentiu” que não podia contar com a sua linha média e os centrais começaram a despejar bolas por cima dessa linha, directamente para os avançados. Ou melhor, para Liedson, porque Alecsandro não existiu e Djaló entrou mal no jogo e o seu processo de afirmação está a ser lento.
Quem critica estas opções não pensa na composição subjectiva do “balneário”.
O futebol de top é um negócio de alto risco. A sua matéria-prima são jovens (no caso do Sporting, muitos são mesmo muito jovens), a quem, pela sua expertise são pagos salários muito acima do comum, e à volta dos quais se movimentam, por via da fama e do dinheiro que têm, tentações de todas as ordens, muitas incompatíveis com as exigências da profissão.
É bem certo que tem havido alguns progressos no que respeita ao grau de iliteracia dos jogadores de futebol. E também neste, como noutros casos, não se pode generalizar. Mas, falando dos de topo, vejo o futebolista padrão como um tipo cuja meninice se passou em ambientes próximos da pobreza e que, acedendo a uma pipa de massa mensal no fim da adolescência, procura afirmar a sua rebeldia, a sua diferença, através da afirmação do poder de compra adquirido. A coisa traduz-se nos penteados à futebolista, no uso de roupa (no dia a dia, casualwear, tipo esfarrapada, mas com design D&G; em ocasiões especiais a camisa YSL e o fato Armani sem bandas) comprada directamente nas passagens de moda e adereços de marca: o Breitling, ou o Rolex, o discreto brinco de platina com pedra preciosa, os Reyban. Cada vez que sai à rua um futebolista de topo leva no corpo o equivalente a um ano de salário médio e desloca-se numa bomba de valor equivalente a quase toda uma vida de trabalho paga ao salário mínimo. É à volta disto e da playstation que se centram os seus interesses quotidianos.
Um treinador que tem de conviver com estes seus subordinados, a maior parte dos quais com ordenados muito superiores ao seu, tem de impor uma disciplina rígida. E não pode manter uma relação de proximidade afectiva; tem de guardar distância. Assim se justificam as afirmações de Paulo Bento no final da partida com o Belenenses, sobre a ausência de Nani da lista de convocados:
«O que digo é que elogiamos demasiado os jogadores, ou pelo menos alguns jogadores que ainda fizeram pouco. Têm de fazer mais. Jamais vou pôr os interesses individuais de alguém à frente dos interesses da equipa. Os interesses da equipa foram salvaguardados ao não convocar o Nani.»
Por outro lado, sobre Carlos Martins, afirma: «As conversas que devo ter, tenho-as no lugar certo e no momento adequado, sobre coisas que logicamente não podem acontecer».
Em resumo, quanto à questão da gestão disciplinar estou com Paulo Bento.
P.S.: quanto à má prestação da equipa contra o Belenenses, ela não encontra justificação apenas na arriscada dependência dos jovens; há também a considerar a mediocridade dos “reforços” deste ano (também Farnerud e Alecsandro nada contribuíram para o bom jogo da equipa). Sobre isto tenho eu suficientemente escrito, verberando a qualidade das contratações feitas e pugnando por soluções. Que parece não estarem a ser tratadas durante esta reabertura do mercado…