segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Apesar de tudo, continuar a falar de futebol

Cito este artigo de Luís Freitas Lobo no Expresso, por ele ser um analista que considero dos mais esclarecidos do futebol. Com ele costumo estar quase sempre de acordo. Não estou, desta vez. Porque me parece que o artigo vem num tempo deslocado e manifesta uma convicção que não partilho.
O tempo é um em que a equipa do Sporting pode começar a encetar um caminho de melhorias, agora que os reforços de Inverno começam a entrosar-se e que os elementos fundamentais que estavam lesionados estão a começar a ficar a postos. Assim se poderá começar a resolver o problema da "falta de capacidade individual dos jogadores em interpretar um sistema tático tão exigente como o desenhado desde o início por Paulo Bento".
A convicção que LFL manifesta de que se estará a anunciar "um fim de ciclo" não é partilhada por mim. Acho que o sistema só não tem resultado por falta de intérpretes asados (no que coincido com LFL). Com os intérpretes que têm a tal capacidade aptos, outro galo cantará.
Falar em "fim de ciclo" numa altura destas é destabilizador. Não contribui nada para a tão badalada tranquilidade no seio da equipa.
Cabe a esta fazer a prova de que eu é que tenho razão. Mas tem de ter a ajuda dos adeptos.

Objectivos

O Sporting lá venceu mais uma etapa desta fase que podemos chamar de "Objectivos B", objectivos, recorde-se, definidos reactivamente depois da nau ter andado à deriva durante largo tempo. Na quarta-feira espera-nos um novo desafio. Vamos ver como vai ser cumprido e esperemos que o Sporting esteja à altura dos seus pergaminhos.
Enquanto o Sporting luta por cumprir estes objectivos B, chegam notícias (já largamente divulgadas e discutidas nos meios de informação e em diversos blogs) de que os grandes clubes ingleses de futebol se preparam para "exportar" a Premier League. Não tenho dúvidas que este figurino vai pegar e que se irá mesmo espalhar. O futuro da bola adivinha-se diferente. Nada que não se pudesse, de resto, prever há muito.
Pelo que se pode desde já concluir, face a este novo figurino e numa observação preliminar, as reacções ir-se-ão por certo dividir. Os entusiastas do desporto espetáculo exultam com o novo cenário. Os adeptos actuais dos clubes que se preparam para entrar nesta nova era do futebol espetáculo olham para tudo isto incrédulos e interrogam-se.
Mas, a nave move-se, indiferente...
Esta tentativa de transformar o futebol numa coisa tipo NBA ou NHL e a sua exportação já vêm de longe. A entrada dos grandes capitalistas americanos no futebol inglês e da consequente "empresarialização" do futebol devem ter acelerado o processo. Podemos esperar que se a história futura da bola for por aqui haverá uma reacção noutros países com Ligas fortes e clubes de primeiro plano. Que estarão já, certamente, a fazer as suas contas e a planear já o seu futuro.
Podemos imaginar facilmente duas consequências de tudo isto.
Os clubes ingleses irão, por um lado, ganhar decerto muitos novos adeptos em Singapura, nos Estados Unidos, no Japão, etc. O futebol vai ganhar um novo ímpeto. A fasquia vai-se elevar, os orçamentos, as remunerações dos jogadores, os valores das receitas vão saltar para níveis que utrapassarão muito aqueles que já hoje nos fazem abrir os olhos de espanto. Não parece suscitar dúvidas a ninguém que o futebol vai entrar generalizadamente numa nova era feita de fidelidades geradas em grandes operações de marketing. O novo "adepto" que se está forjar é um adepto de plástico, superficial e volúvel, de uma fidelidade volátil que se (co)moverá ao sabor das promoções...
Os adeptos tradicionais, por seu lado, não podem deixar de olhar para tudo isto com alguma ansiedade. O que vai querer dizer "ser adepto" de um clube daqui a uns anos? Com base em que valores se vai alicerçar esta nova relação entre os adeptos e os novos "clubes-espetáculo"? O que vai ser dos adeptos dos clubes da "velha guarda"? Como se irão integrar nesta nova ordem do futebol espetáculo?
Adivinha-se facilmente vários tipos possíveis de reacção. Uns entrarão sem grandes hesitações nessa nova ordem. Mas, outros optarão por "descer" juntando-se a clubes mais pequenos, ou escolhendo novas formas de organização que se vão multiplicar (novos clubes forjados na dissidência dos antigos clubes, organizações de adeptos fora do âmbito dos clubes, etc.) Outros, ainda, desistirão simplesmente da bola. Uma coisa me parece certa: ninguém vai poder abster-se de tomar uma atitude.
Face a tudo isto temos de colocar a pergunta inevitável: o que vai ser do Sporting no quadro desta nova realidade que parece incontornável? Que futuro para o Sporting? Como está o Sporting a preparar-se para as mudanças que aí vêm? Que trunfos tem o Sporting nesta nova ordem clubística que se antecipa? E quais são, sobretudo, as suas fragilidades? Que modificações irá esta nova ordem introduzir numa instituição como o Sporting? De que forma se reflecte tudo isto no presente e de que forma se irá reflectir no futuro da organização do Clube? Conseguem os Sportinguistas vislumbrar alguma estratégia para lidar com tudo isto? Estarão os Sportinguistas conscientes destas novas realidades que aí vêm?
Enquanto se prepara para cumprir mais uma etapa desta fase "Objectivos B" (desportivos e de gestão), que se espera que seja ultrapassada com êxito, e se diverte à procura do bufo, o Sporting está confrontado com um desafio para o qual me parece não estar de todo preparado. Estarão os Sportinguistas conscientes da inevitabilidade de estabelecer, de forma sustentada e com alcance verdadeiro, uns "Objectivos A" para o Clube?
Que cenário para o futuro do SCP do século XXI?