quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Sporting-Dínamo de Kiev: reflexões

Não devemos embandeirar em arco com a vitória sobre o Dínamo. Este tem uma equipa longe de ser forte (é pior do que o Shakhtar, que jogou com os lamps) e, como disse Paulo Bento, tivemos alguma sorte.
Não se pode dizer que tenhamos feito um bom jogo. Como muito bem notam alguns comentadores deste blogue, o ataque continuou a mostrar-se muito pouco eficaz, o que, entre outras coisas, é atestado pelo facto de os golos terem sido marcados por defesas. A teimosia de PB no uso de Djaló só se compreende por PB não confiar em Purovic. Como eu também não confio: é um jogador pouco habilidoso, cuja única mais-valia poderá consistir no jogo de cabeça. E mesmo neste… tenho-o visto a perder muitas bolas que lhe são dirigidas, contra defesas que, podendo ser mais baixos, são mais decididos a fazer-se às bolas. Quanto a Djaló, começa a ser preocupante que ele não dê aquele pequeno passo que lhe falta para ser um bom jogador: não consegue definir bem os lances – no último passe, na última finta, no remate, no cruzamento. Sendo assim, e ainda por cima sem ter a mesma acutilância de Liedson quanto ao jogo defensivo no ataque, não sei se alguma vez irá lá…
Bom, mas isto são pechas sabidas e já antes analisadas. A novidade neste jogo contra o Dínamo veio duma zona do campo em que as coisas até costumam correr bem: o meio-campo. A maior carência veio de, quem havia de dizer, Miguel Veloso. Assustado pelo adversário, quiçá deslumbrado pelo facto de se sentir visto por meia Europa do futebol, Veloso mostrou-se hesitante e medroso. O que fez que se encostasse demasiado aos centrais, deixando a descoberto a sua normal zona de actuação à frente da defesa (e, marginalmente, contribuindo até para uma maior desorganização do sector defensivo). Isto teve consequências, por seu turno, no rendimento dos seus companheiros de sector. Moutinho, com a habitual generosidade, correu que nem um doido por todo o campo, tentando disfarçar a fraca cobertura daquela zona do campo. O rendimento de Romagnolli foi uma sombra do que tem sido, pois, perdido o seu normal espaço de actuação, ele recuou também no terreno e não teve jogo para fazer as suas costumeiras incursões em tabelinhas até à área adversária. Este facto veio, por sua vez, influir negativamente na prestação dos atacantes.
Não estou com isto a querer crucificar Veloso, um dos grandes valores desta equipa, mas a chamar a atenção não só para a sua inexperiência como, principalmente, para o pernicioso que pode constituir o excesso de vedetismo.
Bem esteve Paulo Bento no escalamento dos jogadores (por exemplo, insistindo, apesar das falhas que tem vindo a ter, em Stojcovic, o que permitiu a este realizar uma boa exibição) e, sobretudo, no discurso que deve ter tido no intervalo, pois a equipa veio do balneário com outra atitude em termos de disciplina e corrigiu o seu posicionamento em campo. E também esteve bem nas substituições (embora um pouco tardias) e no discurso após o jogo, em que reconheceu a sorte que tivemos, pois não só marcámos o segundo golo numa altura em que não tínhamos o controle do jogo, como podíamos ter sofrido mais golos. Também se mostrou “satisfeito com o resultado e muito satisfeito com a forma como os jogadores se batem em campo.”
O melhor de tudo isto, o que há que exaltar, é de facto o espírito de grupo, a capacidade de luta e, sobretudo, a actuação como equipa. Neste ponto, como aliás já se tinha provado na Luz e hoje se confirmou, o Sporting está a anos-luz dos lamps.