terça-feira, 4 de outubro de 2005

O futuro passa por algo novo

Post escrito com uma mão e com uma gémea de 15 dias ao colo; a Rita.
Vamos lá a por a escrita em dia...
Sempre estive ao lado do treinador e fiz questão de elogiar o Jr por ter resistido à tentação de ficar calado (como eu) enquanto uma horda de energúmenos profere impropérios contra o treinador e o Homem José Peseiro.
Não pretendo contudo branquear as suas responsabilidades.
Dá-me náuseas ver um estádio tratar pior o seu treinador do que trata o coiso sabrosa ou o Mantretas ou o Luisoto.
Repugna-me ver os arruaceiros mimados das claques a gritar por um Pinilla como se ele fosse algum fora-de-série que só estava no banco por embirração do técnico; como se ele fosse o Maradona chileno, como se ele não fosse apenas mais um desajeitado que acerta um ou dois jogos por ano.
Como me revolta ver os jogadores a queimarem deliberadamente o treinador, como nós no liceu queimávamos mais um stôr ao menor sinal de debilidade.
Mas tudo isto não anula uma verdade insofismável: o Treinador é o responsável.
Será vítima de algumas circunstâncias mas tem que ser responsabilizado.
Os professores afirmam sempre que não têm responsabilidades no insucesso ou no abandono escolar; os médicos asseguram sempre que não têm culpa nenhuma nos milhares de doentes em lista de espera; os magistrados afiançam sempre que não são arguidos na vergonha das dezenas de milhares de prescrições que ocorrem anualmente.
Todos eles se refugiam num contrato vitalício que lhes protege a incompetência, e escudam-se frequentemente em queixas sobre modelos organizativos pelos quais não são responsáveis, ou deficiências nas infra-estruturas (como se todos os problemas se resolvessem com uns baldes de cimento, umas talochas e uns tipos a assentar tijolo).
Mas Peseiro não lhes pode seguir o caminho. Não tem um contrato blindado, não se pode queixar da falta de apoio da SAD e dispõe das melhores infra-estruturas do País (Centro de Estágio e Estádio).
Se os jogadores o estão a queimar é porque necessariamente houve falhas na disciplina; se os jogadores parecem pouco motivados é porque o treinador não os motiva o suficiente.
O Treinador é o Líder. Se a equipa falha, há necessariamente falha de liderança.
O que se vai fazer com Peseiro será uma injustiça depois do que nos deu na época do ano passado. Mas todos os despedimentos de treinadores são por definição injustos porque se culpabiliza apenas um individuo por um fracasso que também é coletivo e que também tem outros responsáveis que vão seguir impunes. Mas é esse o preço a pagar por todos os treinadores; são trapezistas sem rede.
O sonho de carreira de Peseiro acabou. Em Portugal nenhum “grande” o quererá e não criou estatuto para o futebol da alta competição na Europa. Restam-lhe as opções dos clubes secundários da Super Liga ou os clubes ou seleções de futebol emergente. A primeira hipótese não é vergonha para ninguém e na segunda tem bons precedentes lusos para seguir o exemplo.
Tudo isto é particularmente cruel para um homem que esteve a 50 minutos da mais absoluta glória. Os últimos 10 minutos na luz e os últimos 40 na final da UEFA destruiram-lhe o sonho e a carreira.
Quanto ao sonho, nós também perdemos o nosso; quanto à carreira, isso é problema dele.
Se um dia encontrar Peseiro, agradeço-lhe o estado de graça em que quase nos deixou e lamento-lhe o destino que lhe foi reservado. Mas faço-o com o tom de inevitabilidade de quem dá o abraço do urso. É um abraço letal mas é a natureza das coisas.
Sem ofensas, sem humilhações, sem lenços brancos. Antes com elevação, com educação, enfim, com Sportinguismo.
Pois se todo o mundo é composto de mudança, troquemos-lhe as voltas que ainda o dia é uma criança.
Cá p’ra mim, o Camões era do Sporting e escreveu isto a pensar na dinâmica que vamos precisar para ultrapassar esta fase.
Já me apetecem as eleições e os debates. Já me apetece uma nova equipa técnica e a ilusão dos primeiros jogos.
Já me apetece o Sporting!

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