quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O bom e o mau no Projecto Roquette (1)

Venho notando uma tendência em alguns dos sportinguistas mais enragés de fazerem uma espécie de flash-back em que quase se mostram nostálgicos dos tempos anteriores à “dinastia” Roquette, como se as desgraças do Sporting tivessem começado então.
Ora, por mais deméritos que tenha (e tem alguns) o chamado Projecto Roquette, dificilmente poderemos dizer que foi com ele que começou a desgraça do Sporting. Atribuamos o seu a seu dono.
Quando Roquette encetou a sua participação na gestão do Sporting, é preciso dizê-lo, fruto de sucessivas “gestões” pato-bravísticas, o clube estava de rastos. Para mim, e para a maioria dos sportinguistas, Roquette constituiu a esperança de uma mudança de rumo do clube, no caminho de uma grandeza patrimonial e duma independência financeira que este não tinha. No papel, o Projecto Roquette parecia bom e fui um dos que, confesso, nele acreditou. Em traços gerais consistia o Projecto Roquette em, por um lado, dotar o clube de infraestruturas (estádio moderno e centro de treinos, que veio a tomar a forma de Academia) que permitissem o desenvolvimento da actividade de eleição do clube, nas suas vertentes desportiva e de negócio. Por outro lado, de um grupo empresarial que estendesse os negócios a outros sectores de actividade, cujos lucros permitiriam que o negócio central (o futebol) não ficasse dependente da “bola na trave”. Isto, como projecto, repito, soou-me bem, na altura.

O que correu mal:
- Os capitais próprios do Sporting (oriundos da constituição da SAD, pela subscrição das respectivas acções) não chegavam nem para a cova dum dente, pelo que se teve de fazer toda a obra com recurso a um montante elevadíssimo de capitais alheios, o que está ainda a custar um balúrdio anual em juros;
- Ao que me dizem, o facto de a construção de estádio e Academia terem sido feitos em regime de administração directa, veio a onerar custos de forma assustadora; ora, havendo um protagonista comum aos dois acontecimentos, é legítimo suspeitarmos que tal se tenha devido a motivos semelhantes aos que fizeram a EXPO98 perder uns milhões de contos com o negócio dos barcos-hotéis;
- Ao cheiro de mais uns milhares de euros, os dirigentes resolveram aumentar a capacidade do estádio em cerca de 10.000 lugares (a comparticipação do Estado era em função do número de lugares dos estádios) o que implicou o sacrifício do pavilhão que era para ocupar o espaço onde, como recurso, se resolveu construir o Alvaláxia;
- O Alvaláxia foi então concebido como fun centre e o seu sucesso dependia do negócio imobiliário a fazer com os terrenos do antigo estádio, pois seriam estes que trariam habitantes e movimento àquela zona. Como se sabe, ainda está para ser decidido este assunto, que envolve o Sporting o Metro e a Câmara de Lisboa e o terreno é, de há uns quatro anos a esta parte, um ermo, no qual até dá medo passar à noite. Nestas condições o Alvaláxia tornou-se num enorme flop financeiro, o Sporting nunca usou os lugares a mais do estádio e ficou sem pavilhão;
- O facto de o Sporting não possuir pavilhão próprio potenciou os prejuízos das actividades chamadas amadoras, o que tem vindo a contribuir para os prejuízos gerais do clube, além de diminuir a capacidade de obter títulos;
- As tais empresas que se constituíram para gerar lucros adicionais aos do futebol (para não se depender da “bola na trave”) foram um outro autêntico flop; não porque a ideia fosse má, mas porque a sua implementação foi tenebrosa. O seu objecto era estranho à “vocação” do clube e quem as “geriu” deve ter-se preocupado com tudo menos com os interesses do Sporting; gastaram-se rios de dinheiro em burocracias e em ordenados, em prejuízo de todos (menos dos que embolsaram esses ordenados);
- O resultado de todos estes factores, somado a uma gestão feita com os pés, traduziu-se em prejuízos de uns 100 milhões de euros durante os primeiros 10 anos da gestão dos tempos Roquette até à eleição da presente direcção (durante a gestão da qual, manda a verdade que se diga, houve alguns lucros).

Em próximos posts tentarei abordar as componentes positivas do Projecto Roquette e a desigualdade de tratamento dos três grandes por parte dos poderes públicos, até chegar ao actual estado de coisas. Por último, tentarei falar na parte sempre mais esquecida, mas que é a mais importante disto tudo: nós, os adeptos.

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