quinta-feira, 12 de junho de 2008

Mau carácter

Não percebo, com toda a sinceridade, a admiração que causaram as declarações do pai do João Moutinho sobre as ambições do filho em jogar num clube "maior" que o Sporting, ou do Miguel Veloso que fez comentários acerca da sua clásula de rescisão.
Por que princípios se rege a gestão do Sporting? Qual é o traço dominante da cultura "sportinguista" hoje? O que é a "família" Sportinguista?
Eu ia dizer que a direcção (esta ou outra qualquer que esteja a manobrar o barco com este método de navegação) está a ser vítima dos tempos, mas não: os tempos é que estão a reflectir a actuação destas direcções.
A cultura que está instalada, a cultura das VMOC e das CMVM, foi instituída por esta gente. Não foram os jogadores que inventaram o mercantilismo no desporto. Os jogadores e os seus representantes apenas se deixam arrastar pela onda. Acreditem-me, não há, há muito, qualquer sombra de amor pelo Clube, nem qualquer réstia de respeito pelos seus princípios fundadores.
Em trânsito desde que puseram pela primeira vez os pés na Academia, só podemos esperar destes jovens mal agradecidos e mal formados o pior. Não há ninguém com autoridade e com princípios para lhes ensinar melhor. O exemplo vem totalmente de cima.
Uma coisa é certa: aqueles que apoiam esta turba manhosa que se passeia hoje pelos corredores do poder do Sporting (e de outros clubes, valha a verdade!), pensando que estão a preservar o Sporting original, contribuíram decisivamente para criar um novo "centro de formação" que desafia e leva de longe a melhor à Academia de Alcochete. Neste novo centro de formação só é dada uma única disciplina: "Mau carácter". O êxito da "pedagogia" é garantido.
Com a escola que temos e com a gente que temos à sua frente e à frente dos destinos do Clube, espantar-me-ia muito se saíssem das camadas de formação do Sporting grandes atletas que além de o serem, fossem também grandes Sportinguistas.

5 comentários:

  1. Os Jogadores são profissionais e como tal têm que ser tratados: devem cumprir os seus contratos com o clube e o clube deve cumprir com eles as obrigações enquanto entidade empregadora.
    Claro que, em qualquer ambiente profissional, há uma cultura, uma forma de gestão dos recursos humanos, uma ética profissional e também, especificidades próprias de cada actividade ou sector.
    O futebol encerra em si um dualismo proveniente por um lado da paixão clubista, nossa, enquanto adeptos de um clube, e por outro, do ambiente cada vez mais exigente e profissional que o futebol encerra enquanto actividade económica.
    Esse dualismo leva a que muitas vezes os adeptos esperem ver nos atletas um amor à camisola igual àquele que eles próprios, adeptos, têm, mas isso é uma ilusão se estivermos a falar do futebol profissional, que não no amador.
    A ligação aos clubes dos jogadores passa - para além dos contratos -pelo ambiente profissional que têm – a forma como são tratados, como a sua carreira pode progredir no clube, como são valorizados, a integração sentida enquanto parte da organização. Mas estes factores embora potenciem a atractividade do clube para o jogador se forem correctamente definidos e geridos, não impedem o jogador de pensar, como qualquer profissional, em querer mudar se as condições de trabalho, nomeadamente salários e promoção de carreira, oferecidas por terceiros são muito melhores.
    Acho até de muito mau gosto as pessoas contestarem que um profissional possa mudar de emprego, quando elas próprias já o fizeram, ou o fariam se tivessem uma oportunidade aliciante.
    Os clubes procuram precaver o investimento feito na formação dos jogadores através das clausulas de rescisão, já que qualquer contrato pode ser quebrado desde que haja acordo entre as partes, ou quando a parte que o quebra ressarce a outra num determinado montante indemnizatório.
    Quanto à ética, há maneiras e maneiras das pessoas se relacionarem. Por exemplo o comportamento de João Moutinho enquadra-se dentro de padrões éticos irrepreensíveis enquanto Miguel Veloso com as suas constantes declarações de que quer sair do Sporting e de que a clausula de rescisão é muito alta, quando não existe qualquer proposta em cima da mesa para a sua saída revelam uma atitude de imaturidade que eticamente e contestável.
    “Mau carácter” é outra coisa, e muito mais grave. Querer confundir as coisas só desvaloriza as verdadeiras situações de comportamentos que revelam mau carácter, uma vez que atitudes normais (Moutinho) ou com alguma contestação no plano ético formal (Veloso) não podem ser metidas no mesmo saco. Uma forma das palavras perderem o sentido é não fazermos distinções quando elas existem.

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  2. Tem razão Luís Ferreira. A expressão é forte, reconheço-o. E agradeço com sinceridade o comentário.
    Em minha defesa posso dizer que definir o comportamento do Veloso ou do pai do Moutinho em termos de "mau carácter" minha é uma prerrogativa enquanto adepto. Eles estão no direito de mudar de clube e eu estou no direito de os definir assim.
    Não serei exemplo único de certeza!
    Em minha defesa posso ainda dizer que o meu desencanto é quase total em relação a essa coisa do "futebol profissional" e há certos aspectos desta "actividade" que eu já começo a não ter saco para aguentar.
    E posso invocar outra coisa em minha defesa (a contundência a isso obriga...): é que, ao contrário do que se passa nas empresas, este universo do desporto --em particular o futebol-- é totalmente irracional. Quem paga não vai nunca usar a cabeça para apreciar estas coisas. Se o fizesse não punha simplesmente os pés num estádio, nem se sentava em frente de uma televisão a ver um jogo, logo para começar...
    Reconheço que a questão tem pano para mangas e que o debate sobre isto é interessante. Espero que tenhamos oportunidade de voltar a falar sobre tudo isto aqui no KL.
    E volto a agradecer o contacto.

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  3. Já agora acrescento apenas um desafio: o que acha das perguntas que coloquei para enquandrar este problemas do Moutinho e do Veloso? Por que princípios se rege a gestão do Sporting? Qual é o traço dominante da cultura "sportinguista" hoje? O que é a "família" Sportinguista? Estas perguntas ajudarão a discutir o problema deles ou não? O que acha?

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  4. Eu bem digo que chegou há pouco ao clube, e dele tem uma ideia distorcida.
    Acaso estes casos são diferentes dos de Vitor Damas, Inácio, Armando Manhiça, Carlos Alhinho, Botelho, Laranjeira, Venâncio, Morato, Peixe e tantos outros (já para não falar do grande sportinguista Luís Figo, que antes de assinar por dois clubes italianos ao mesmo tempo, tinha assinado pelo Benfica.
    Era esta a Direcção? Ou foram várias e não apenas uma? Isso é que vai para aí um calo bem entalado, hem!
    Quando será que vai entender que os inimigos do Sporting estão lá fora, não estão cá dentro, e que continuar esta cegarega em nada altera a situação (porque os mandatos são para serem cumpridos) e só destabiliza o clube e dá ânimo aos nossos adversários?
    Isto é que vai uma crise...de sportinguismo!

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  5. Caro Luís,
    Este debate levar-nos-ia longe. Já há muito que o temos tido aqui no KL com gente dos dois lados da barricada a defender e a atacar as SAD. Ambos os lados com carradas de argumentos e razões muito válidas.
    Havemos de voltar a esta conversa certamente, está prometido.

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