quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

Guia de marcha

Confesso que há traços da personalidade do dr. José Roquette que me suscitaram uma certa admiração. Daquilo que um observador externo pode analisar, subjectivamente, a partir da sua actuação mediática e, objectivamente, a partir das suas acções, sobressai o estratega da visão global e do pensamento convicto apontado para o futuro.
Mas, estas características que revelam o melhor Roquette constituem, simultaneamente, o seu pior lado.
Roquette encontrou a páginas tantas um brinquedo --o Sporting!-- que lhe sorria e despertava essas suas características, definiu uma estratégia específica para a brincadeira e quando se fartou foi jantar...
Querem um sinal do que estou a falar? Pois, atentem na escolha de presidentes. Quando foram tornados públicos os contornos do seu "Projecto" e ficou clara para todos a linha estratégica que o Sporting iria adoptar para combater os problemas que o ameaçavam, Roquette trouxe para ser o seu rosto visível Santana Lopes. Primeiro erro de casting. Santana Lopes partiu para outras aventuras, afinal as únicas que lhe interessavam para começar, com as consequências que todos conhecemos. O “projecto” ficou a aguardar melhores dias e a situação do Sporting agravou-se. De seguida assumiu, ele próprio, a presidência. Segundo erro de casting. Enfadado, com as minudências da governação do clube, Roquette optou por sair, abandonando a execução do projecto que tinha gizado e deixando Dias da Cunha no lugar da presidência para se haver com o cheiro da relva e do balneário. Terceiro erro de casting. Dias da Cunha foi porventura um presidente bem intencionado, será certamente um sincero sportinguista, mas não tem quaisquer qualidades para ser o líder de um clube com a dimensão do Sporting. Dias da Cunha saiu, também ele, enfadado com as miudezas do dia a dia, voltando as costas ao combate ao sistema que tão acaloradamente denunciou, deixando mais uma vez a execução do “projecto” em lista de espera. E a situação do Sporting continuou a agravar-se. Entra Filipe Soares Franco. Quarto erro de casting. Não se lhe conhece nenhuma mais-valia específica para ocupar o cargo exacto que exerce. E o pensamento meio caótico e a imprecisão que revela em cada uma das suas intervenções indiciam mesmo uma inaptidão total para cumprir a mais elementar das tarefas.
Porém, todos estes erros de casting têm uma assinatura: a de José Roquette.
Roquette emitiu agora um comunicado inacreditável, onde a mais surpreendente declaração é a de que o Sporting tem eleições este ano, "por imposição estatutária"!! Como se o presidente anterior se não tivesse demitido, não tivéssemos uma direcção interina e estivéssemos no mais pacífico dos mundos... Neste comunicado, Roquette congratula-se com a disponibilidade de Soares Franco para assumir uma candidatura à presidência do SCP. Parece que a dança dos presidentes do Sporting, da escolha de Santana Lopes à cooptação de Dias da Cunha e agora de Soares Franco foram um qualquer milagre "mariano"! Não: estes personagens existiram para executar um plano que o seu autor não quis, não soube, ou não teve habilidade para executar.
Ao nível a que o dr. José Roquette se coloca, como empresário, economista, estratega e figura de referência da sociedade, a sua passagem pelo Sporting revela um abaixamento de padrões que surpreende. Roquette, “uma figura marcante dos últimos quize anos do Sporting”, como referiu Franco, gizou um plano, inclinado, escolheu uma equipa coxa e o plano foi-se transmutando sucessivamente, com a situação do clube em constante e surpreendente deterioração. Este apoio que agora se anuncia de Roquette a Franco revela que mantém o controlo remoto ligado, e afigura-se como uma patética tentativa de correcção de rota. Então depois de onze anos "é preciso assegurar uma gestão credível e rigorosa?" O que andaram então a fazer antes? Onze anos não chegaram para nos libertarmos do perigo de uma gestão aventureira e badalhoca??! Porquê...? Então onde ficou o rigor e a credibilidade? Foi-nos anunciado o fim das presidências providenciais. Foi-nos repetido que mais do que peixe, o Sporting iria dispôr de uma cana para pescar e não mais pôr em causa a sua autonomia. Pois, vê-se...
Ora, tenho alertado aqui, repetidamente, para a necessidade de assegurar alternativas à actual gestão do Sporting. O mesmo têm feito os actuais membros da oligarquia perguntando onde estão as alternativas.
Venho agora corrigir esta minha posição.
O que está absolutamente em causa neste momento é derrotar sem margem para dúvida o “Projecto Roquette/Cunha/Franco”. O putativo candidato declarou claramente que se este projecto for rejeitado pelos sócios não se candidata. Roquette apoiou Soares Franco numa eventual candidatura. Se esta maquinação for derrotada em AG é o "Projecto" e toda a oligarquia que saem derrotadas. É essa a verdade. Deve ser esse o objectivo.
Francamente, estou-me marimbando para alternativas. Se o que sair dessa AG for um “Junta de Salvação”, provisória, com todas as tendências representadas e a incumbência de preparar um amplo debate entre os sportinguistas sobre o futuro do clube (a questão está longe de ser clara para todos!) tanto melhor! Duvido que o Sporting possa vir a ficar pior do que está desde que este aparelho se instalou em Alvalade.
Fazer depender a tomada de atitudes firmes do aparecimento de uma “alternativa” é fazer o jogo da direcção. A ideia que neste momento se pretende subtilmente fazer passar é a de que a actual direcção e a sua linha são a alternativa ao vazio. Mas, não é assim: esta linha é o vazio! E o Mundo Sportinguista não vai, seguramente, acabar com o fim da oligarquia.
Tenho uma imensa vergonha do Sporting de hoje! Um clube que é vítima das atitudes mais inimagináveis de parte dos seus funcionários e colaboradores, em total impunidade e chegando mesmo ser por elas premiados. Um clube que é alvo da chacota generalizada. Todos se permitem "bater" no nosso Sporting!! Um clube descaracterizado desportivamente, a viver como outros cadáveres desportivos portugueses de glórias passadas. Um clube de terceira categoria, um projecto adiado, uma promessa frustrada, um balão vazio!! Tudo isto em resultado de um projecto medíocre, mal implementado mesmo nas suas poucas virtudes, cavalgado por uma cáfila de oportunistas que lhe sugaram os magros recursos em proveito próprio.
Antes do mais, há pois que lhes dar guia de marcha!!



Manifesto - Sporting uma História com Futuro

3 comentários:

  1. O problema, para mim, é que o projecto Roquette é um projecto do capitalismo liberal que comete os mesmos erros que os paradigmas da política económica europeia sofrem. Resultados à frente de tudo, sem visão efectiva para a permanente perca desses mesmos resultados, excepto para o grande capital (no nosso caso o BES).

    Não é claro que Roquette perca, pois de alguma forma ele há-de ser ressarcido dos serviços prestados, mas o Sporting perdeu certamente.

    Não há erros de casting, porque o BES continua a ver as suas perspectivas de lucro, faltam-lhe alguns pormenores… mas esse é o projecto FSF.

    Mas o nosso Sporting sofre de um problema muito grande, aliás já referido por um nosso consócio num outro blog, tem um conjunto de dirigentes que se considera a nata dirigente, a mesma nata que nos tem arrastado o país para um permanente abismo….

    E eu não vejo capacidade para termos uma voz activa dentro do clube. Isso é que seria interessante, não acham?

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  2. É verdade: era "giro" podermos ter voz activa no Sporting, sem que isso tivesse de passar sempre pelo cartão multibanco...
    Mas se os sócios quiserem a coisa até é simples...

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  3. Devo confessar que o teu ataque a Roquette começou por me surpreender... mas subscrevo da leitura que fazes, e fiquei particularmente indignado com o apoio dado por Roquette a FSF. O homem é muito pior que Dias da Cunha e não tem qualquer legitimidade para tomar medidas de fundo. Não foi mandatado para tal pelos sócios

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