segunda-feira, 21 de abril de 2008

Marquemos a diferença

Turbillhões vários têm afectado o clima dos clubes portugueses nestes últimos tempos. Os factores que determinam esta conjuntura climatérico-desportiva não surgiram ontem, mas agudizam-se e provocam neste momento um fenómeno que podemos designar por aquecimento clubístico global.
As diferentes figuras e figurinhas que conduziram, justamente, os clubes à situação presente --tirando todos eles o cavalinho da chuva ácida que corrói a paisagem clubística-- acham que só há uma única solução para resolver o problema e gritam: mais poder às SADs!
São todos iguais, de todos os quadrantes só se ouve a mesma conversa.
Em duas palavras, o que estes cavalheiros pretendem é retirar o controlo das SAD's pelos clubes. Prescindindo desse controlo o capital das SAD's pode-se abrir a outros investidores. Mas, esses investidores vão ter que rentabilizar os seus investimentos com base nas receitas que provêm , directa ou indirectamente, dos bolsos dos únicos que as podem gerar: os adeptos. Ora, se são os adeptos que originam sempre as receitas porque é que a solução "SAD" é melhor que a solução "clube"?
Aqui entra o sofisma... Clubes são estruturas amadoras, sem capacidade para se governarem a si próprias. No discurso destes cavalheiros, ouve-se falar de profissionalismo e de estrutura profissional como equivalente a SAD. Há portanto que "profissionalizar". Mas, as SAD's não conquistam nenhum mercado, nem há verdadeiramente risco nenhum: os clubes cedem os sócios e adeptos que têm e garantem o mercado a estes "profissionais". Os investidores "investem" em vinha vindimada. Os sócios prescindem, através de autorizações dadas em AG, dos seus direitos como sócios e remetem-se à condição de clientes. Através da "empresarialização" as receitas provenientes dos sócios e adeptos, que não chegavam para garantir a vida do clube, já vão ser suficientes para garantir a vida da empresa. É estranho, mas é verdade.
O "milagre" fica-se então a dever à "profissionalização", eufemismo para mais uns tachos para uns gulosos. Ora, o que os arautos da cedência da maioria do capital das SAD's não explicam é o que é que impede um clube de ser uma estrutura profissional... com sócios? O que é que impede que um clube desportivo seja gerido de forma profissional e rigorosa? Serão estas exigências contraditórias?

Pelo que consigo observar aqui da minha janela, há muita gente crédula que ainda não percebeu o que está em jogo. Por isso, antevejo num futuro não muito distante crises profundas nalguns clubes, que irão inevitavelmente ditar, nuns casos, o seu desaparecimento, e, noutros casos, a sua descaracterização total. Este fim de semana tivemos já, pelo menos, dois casos que ilustram o que estou a dizer, que dizem o que é a fragilidade e a demência que domina este meio. Outros clubes se lhes seguirão estou certo. Mas, entre a falência de uns e o travesti de outros há outras vias. Entre fechar a porta e entregar a portaria a gulosos haverá certamente outras escolhas. No Sporting, quero acreditar que somos diferentes, mais atentos e mais fiéis aos nossos princípios. Quero acreditar que saberemos honrar essa diferença.

"Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes? Quem sois? Visões misérrimas e atrozes?" perguntava Antero no poema que reproduzi no último "Momento de Poesia"...
No Sporting, precisamos apenas de saber indentificar os cantos de sereia que zunem aos nossos ouvidos e ter a coragem de lhes calar o pio! É a única forma de impedir a implosão do nosso Clube.

7 comentários:

  1. As SAD foram, quer queiramos quer não, constituídas; existem. E a sua constituição trouxe milhões de euros para as instituições, através da constituição do capital, pela emissão de acções. Existem agora muitos milhares de accionistas, pequenos e grandes, titulares dessas acções. Para se acabar com uma SAD existente, é necessário indemnizar os titulares dessas acções. Onde é que se vai arranjar esse dinheiro?
    Mesmo que não houvesse (que há) nenhumas vantagens nas SAD, seria, pois, tão difícil (para não dizer virtualmente impossível) voltar atrás no processo e acabar com a SAD, que acho que levantar agora este assunto é completamente extemporâneo.

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  2. Não leste bem o que escrevi... Eu falei de "mais poder para as SAD".
    Quando o "pipinho" fizer a proposta de passar o estádio e a academia para a SAD e de alienar a participação do Sporting (até ao limite de 15% da lei) e tu tiveres que ir votar isso a uma AG, vais ver o que é um "assunto completamente extemporâneo"...

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  3. Tens razão Master Lizard que no caso do Sporting o profissionalismo significou tachos, nada mais. Basta ver como os negócios com os terrenos e com o património não desportivo transferiram sempre o risco para o Sporting. No primeiro caso, era ao Sporting que cabia pressionar a CML para aprovar o loteamento da construção no terreno do antigo estádio. No segundo, continua a ser o Sporting a ter de assegurar a rentabilização do Alvaláxia, apesar de já não lhe pertencer. Se isto não é parasitar o clube, o que é? Alguma vez os interesses do Sporting foram defendidos pelos dirigentes do clube?? Isto na política tem um nome: tráfico de influências. Se olharmos para um Pina Moura, Jorge Coelho ou Ferreira do Amaral, onde estão agora, e o que estiveram a fazer no governo, percebemos o que a casa gastou. Há dúvidas que nos clubes se faz o mesmo?

    Agora depois de desmandos e incompetências, "parece" que o problema do Sporting é o "modelo". O mesmo modelo que vigora desde 1995. Não há vergonha! O problema deste clube é que não há alternância no poder. Estamos condenados a "escolher" entre uma oligarquia de corruptos e incapazes de entender o que é um clube desportivo de massas, e outros "notáveis" igualmente ultrapassados, conotados com direcções igualmente falhadas. É essa a razão da decadência desportiva e financeira do Sporting, que já se alargou ao estado de espírito dos adeptos. As pessoas já não sentem energia para o clube, porque isto tudo é tremendamente deprimente e o sistema está completamente bloqueado. É o grau de exigência dos adeptos que faz dos clubes vencedores ou derrotados. E nisto, lamento dizer, mas há muitos sportinguistas que têm o que merecem. Os outros, cada vez têm menos paciência para isto, porque há coisas mais importantes na vida com que perder o sono.

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  4. Concordo, sem dúvida, e já me perguntava o que era feito de ti Lionheart, que já há tempos que não aparecias por aqui.
    Quanto à questão que referi no meu post, ao contrário do Raul, eu penso que este debate não é de todo extemporâneo. Trata-se antes DO debate!!! Agora que temos que arcar com a SAD às costas (não sei quanto custaria livramo-nos dela, mas não é essa a questão neste momento) o problema que se coloca é o de não perder a maioria de controlo. A direcção e os seus seguidores querem alienar parte do capital da SAD e dar o controlo a uns chico-espertos quaisquer que venham "investir" no Sporting.
    Mas, não haveria dinheiro para o Sporting! Não haveria aliás mais Sporting!!! Haveria uma empresa (que só existe porque existem Sportinguistas!) que passava a fazer o que bem queria, sem ter de dar contas aos Sportinguistas.
    Por mim, digo bem alto: no dia em que o Sporting Clube de Portugal passar a Sporting Sad de Portugal eu saio e nunca mais, mas nunca mais!!!, tereei nada a ver com essa entidade.
    Esta é que é a questão que está em jogo. A SAD existe (é triste, como o fado...), temos de a gramar (na minha opinião --e na opinião de muito boa gente, escusadamente-- mas não pode ser a SAD a governar o Sporting. Isso é que não!!
    Temos de confrontar os sócios que se opuseram à criação da SAD com esse facto e perguntar-lhes onde é que eles estão agora... E temos de perguntar aos sócios que apoiaram a criação da SAD que benefícios daí advieram...
    Já agora, ao Raul que está sempre a falar nas vantagens da SAD e a quem eu ainda não percebi se o assunto SAD incomoda ou não, eu pergunto que vantagens são afinal essas e se proventura ele já fez um balanço sério dessas enventuais vantagens com as desvantagens?
    Gostava de saber...

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  5. E já agora deixem-me acrescentar mais qualquer coisa ainda.
    No meu post eu exprimo a esperança que no Sporting saibamos distinguir o que está em jogo com este ataque que se pretende lançar sobre os clubes (que não apenas o Sporting!) e que os sócios saibam dizer não à tentativa que se vai seguir dos tubarões, sabidões se abarbatarem com a maioria das SAD's.
    E o assunto é tão sério que até do insuspeito "orelhas", logo que essa ideia foi lançada em relação àquela agremiação a que ele pertence (de cujo nome como vocês sabem, eu nunca me consigo lembrar...), veio o aviso apressado, para acalmar as hostes, de que com ele nada disso se passaria...

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  6. Vamos a ver se nos entendemos. Relendo o post de Master, é claro que ele nunca refere que o que está em causa é a existência das SAD. O que Master aliás reafirma em comentário, ao dizer que “agora temos que arcar com a SAD às costas” e que “a questão neste momento” não é “livramo-nos dela”. Fui eu que não percebi bem; mas talvez tenha sido bom isto ter acontecido porque assim tudo ficou mais claro.
    A questão coloca-se, pois, nos aumentos de capital da SAD e no esvaziamento do clube, questão de facto candente para a qual venho, eu próprio, chamando a atenção há já bastante tempo. Para não ir mais longe veja-se o meu post de meados de Janeiro deste ano, em que alerto para que “o presidente quer descapitalizar o clube, passando o seu património (estádio e Academia) para a SAD!”
    E concluo dizendo que “Em vez de nos distrairmos com uma inglória luta pela reversão do caminho da SAD temos é de tomar atenção a este tipo de operação, a qual pode ser muito útil no imediato, mas representa o empobrecimento (irreversível?) do nosso clube”. Era a discussão disto que eu referia ser extemporânea.
    Espero que agora fique claro que, quanto a esta questão, todos estamos de acordo.
    Já agora, e como achega para a discussão, eu preconizo que os corpos directivos de SAD e clube não devem coincidir! O presidente do clube não deveria ser ao mesmo tempo presidente da SAD. Os interesses não são sempre, como bem se vê, coincidentes; portanto os dirigentes não deveriam ser coincidentes.

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  7. Endereço do post referido no meu comentário anterior: http://kinglizards.blogspot.com/2008/01/questo-da-sad.html

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