sábado, 5 de julho de 2008

Três perguntas sobre o Sporting. (2) O que querem os Sportinguistas para o Sporting?

O que é o Sporting para os Sportinguistas? Estou certo que se perguntarmos a 1000 Sportinguistas o que é para eles o Sporting, obteremos 1000 respostas diferentes.
Ouvimos e lemos as discussões e intervenções em assembleias, nos jornais, nos blogs, ou em simples conversas de café e ficamos com a sensação de que poucos saberão hoje o que é e o querem para o Sporting. O “dado adquirido” que era o nome mágico Sporting, já lá vai, vítima da incapacidade de manter a união, dos atropelos, dos enganos, das guinadas e alterações de percurso, das ambições, da má fé ou da pura nabice dos dirigentes que têm ocupado os lugares de responsabilidade nos orgãos directivos do Sporting. Foi ficando uma ideia esboroada da antiga e prestigiada instituição, que ninguém sabe muito bem o que é hoje, que lugar ocupa e, muito menos, que lugar vai ocupar no futuro.

Contudo, muitos Sportinguistas têm ideias aparentemente arrumadas sobre o que querem para o seu Clube. Falam com segurança de modelos, de objectivos, de estatísticas, de orçamentos e de ferramentas de gestão e demonstram grande à vontade quando se trata de impressionar os ouvintes com a sua destreza tecnocrática. A terminologia é utilizada com aparente à vontade e a segurança com que falam faz supor que dominam a matéria e que têm a noção do que querem.
Mas, a verdade é que não percebem nada do que estão a falar, nem sabem o que querem para o Clube que dizem amar. Estão simplesmente a armar aos cucos. E são muitos!

O Sporting Clube de Portugal não é uma loja de retrós!! Antes das VMOC e da Bolsa o Sporting era uma instituição respeitada e prestigiada, com um rumo e com princípios orientadores. Lemos os Estatutos, consultamos os documentos históricos da sua constituição e vemos sempre uma superior ideia condutora que uniu aqueles que quiseram aderir ao novo ideal e que por ele se decidiram associar. Os princípios estão nos Estatutos, não é preciso ir muito longe para os conhecer. ESTE é o Sporting! O Sporting são os princípios que regeram a sua constituição. Tudo o resto é 1) deriva criminosa, ou 2) ignorância, mais ou menos atrevida, mascarada de Sportinguismo.

O Sporting não foi constituído para vender camisolas, refrigerantes ou carne humana. Como se viu e foi dito por novos e antigos dirigentes (aí estamos de acordo…) o Sporting não é gestor nem imobilário… O Sporting não é sequer uma agência promotora de espetáculos desportivos ou outros. Estas actividades podem existir, com toda a certeza, o Clube pode organizar-se nos moldes julgados mais convenientes para melhor as gerir, claro, mas as actividades do SCP (incluindo as desportivas) existem como meio de dar expressão e sustentar o ideal Sportinguista, São e serão sempre legítimas desde que contribuam para a sustentação da associação e não lhe firam os princípios. Não são, nem nunca poderão ser, um fim em si.
Não sendo pois uma loja de retrós, não podemos ter como ambição máxima transformar o Sporting numa loja de retrós de bairro e falar do Sporting em função das necessidade da retrosaria! Mesmo que o bairro seja grande e que se criem lojas Sporting, elas deverão ser sempre meros acessórios que levam a ideia do Clube por diante e lhe dão sustentabilidade. A retrosaria é que depende do Sporting, não o contrário.

Parecerá lógico, parecerá mesmo verdade de Lapalice, mas há aqui uma pequena nuance que uma grande parte dos Sportinguistas não consegue, pelo que me é dado perceber, nem entrever. Alguns Sportinguistas discutem com paixão e grande fervor, mesmo que sazonais (o fervor tem picos e então agora de férias parece que morreram todos…) pequenos faits divers e acessórios. Disfarçando com argumentação “tecnocrática” o facto de não saberem no fundo o que querem para o Clube, as conversas sobre o Sporting não levam a lado nenhum. Aliás eu creio que a o grande mal é mesmo esse: não se discute o que se quer, discute-se muito, mas sem critério, muita coisa, mas sem saber onde se quer chegar.

Primeiro está o Sporting, e só depois vêm os meios para o viabilizar. Desbobinar toda terminologia mercantil, por si só é escasso e ridículo. Porém, enquanto uns se entretêm nestas discussões abstractas, duas coisas acontecem. Por um lado, o Clube, o do ideal remoto que alguns terão ainda na cabeça, desaparece lentamente. Por outro lado, outros que sabem bem o que querem, que estão organizados, preparados, que não desmobilizam no verão e que fizeram o trabalhinho de casa, espreitam a oportunidade de aproveitar as distracções dos Sportinguistas desatentos e ensaiam organizadamente o desenlace final. Há quem tenha ideais (não são ideiais Sportinguistas, mas são ideais) e os tente neste momento pôr em prática a todo o custo.

Disse atrás que primeiro vem o Sporting, depois vêm os meios para o viabilizar. Isto quer dizer que o Sporting pode não ser viável. Mas, se não for viável, qualquer coisa que o venha substituir NÃO É O SPORTING CLUBE DE PORTUGAL! Se não for viável o Clube deve acabar. O Sporting tem personalidade jurídica, orgãos dirigentes, Estatutos oficialmente aprovados e símbolos que são o seu património. Qualquer utilização disto, qualquer desvio do que está regulamentado em favor de uma qualquer deriva mercantilista é um crime! Não podemos tolerar, quer no palno dos princípios, quer no plano legal, que alguém se encavalite no Sporting para criar as suas negociatas privadas. E não podemos tolerar tão pouco que por ignorância, má fé ou desleixo dos seus sócios o SCP se transforme naquilo que não é.

Se aparecesse alguém que conseguisse conciliar, com rigor, saber e honestidade o ideal Sportinguista com os meios necessários para o viabilizar, dando-lhe tranquilidade e sustentabilidade para prosseguir o seu caminho, tudo estaria bem. Como a ideia me parece pouco plausível, vejo com grande apreensão os cenários que se desenham no horizonte, a apatia, a falta de organização e a tolerância dos Sportinguistas para com os perigos que o seu e nosso Clube corre. Por isso, o exercício do Sportinguismo me parece cada vez mais penoso e frustrante.

(continua)

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