quinta-feira, 17 de abril de 2008

Que os 5-3 não branqueiem a incompetência

Diz Yourcenar, num dos seus Contos Orientais que Wang, um pintor, uma noite falou “como se o silêncio fosse um muro e as palavras cores destinadas a cobri-lo”.
É o que deve ter feito Paulo Bento enquanto, durante o intervalo do jogo com o Benfica, eu me passeava pela arquibancada, chateado e com pouca esperança. PB disse aos seus jogadores aquilo que Moutinho, ao ser inquirido sobre o assunto, respondeu terem sido “as palavras que nós precisávamos de ouvir para mudarmos de atitude”.
Já na primeira parte, PB havia notado que a sua escolha de recuar Veloso para central colocando Adrien a pivot defensivo (motivada pela falta de confiança que tem na capacidade de Gladstone; e não sou eu que o irei criticar por isso, face ao que o jogador tem rendido) não deu resultado. E, demonstrando uma sagacidade que nem sempre se tem verificado, tinha decidido arriscar substituindo Adrien por Izmailov, assim adoptando uma postura mais ofensiva.
A equipa entrou, pois, na segunda parte com uma disposição, atitude e capacidade de luta muito diferentes, para muito melhor. Mas os golos não surgiam.
Até que apareceu em campo o senhor Vanderlei Fernandes da Silva, no mundo da bola conhecido por Derlei. Só a garra com que entrou em campo transmitiu logo uma boa onda que se deve ter comunicado aos outros (eu cá fiquei impressionado e esperançado).
Foi o que se viu: abatemos os lampiões sem apelo nem agravo, de um modo que me recordou os famosos 7-1, sobretudo nas cavalgadas que deram nos 2 últimos golos.

Parece que, assim de repente, passámos de equipa à deriva a conjunto de craques. Não passámos. E não podíamos passar.
A época foi programada pelos dirigentes na base duma exagerada contenção de despesas, parecendo que, no Sporting, não existe o conceito de despesas de investimento, e que toda a estratégia se coloca ao serviço do abatimento do passivo, esquecendo que, como dizia o outro, há mais vida para além do défice. Assim, os “reforços”, tendo, é certo, sido escolhidos em função do modelo de jogo da equipa e das posições para que eram necessários (mérito que deve ser atribuído sobretudo à equipa técnica e não tanto aos dirigentes), foram escolhidos com pouco dispêndio e com pouca competência: muitos dos jogadores contratados não têm categoria para jogar no Sporting. A incompetência chegou ao ponto de, no chamado mercado de Inverno, se contratar um jogador que não estava a ser sequer utilizado na sua equipa (Tiuí), mantendo um jogador da casa já com algumas provas dadas em jogos importantes emprestado ao Fátima (Saleiro). É por estas e por outras que venho defendendo com unhas e dentes que Paulo Bento é o treinador certo para este momento do Sporting: ele trabalha com a matéria-prima que lhe dão, sem fazer ondas.
E se, neste caso do treinador, algum mérito terá de ser reconhecido aos dirigentes, que a magnífica vitória sobre os nossos rivais históricos não sirva, no entanto, de branqueamento das asneiras cometidas durante a época. Uma época em que a prestação da equipa, termine ela como terminar, será bastante insuficiente.
E só não o será mais porque a dos nossos eternos rivais ainda deverá ser pior. Se no nosso burgo reina a incompetência, no deles, além desta reina o caos. Dá para, adaptando o dito aos actuais dirigentes, parafrasear o que Pinto da Costa dizia sobre Vale e Azevedo: “Ele foi eleito e os mandatos são para se cumprir; deve continuar”.

Nota: A “quarentena” que mantive durante uns tempos (em que não postei no KL) foi ditada por motivos exclusivamente pessoais.

3 comentários:

  1. Olá Henrique! Ai que saudades ai! ai!

    Estou de acordo com o teu post. Gostaria de deixar algumas pistas de reflexão sobre a questão da incompetência:

    Sempre defendi o PB e acho que toda a gente sabe que ele está a iniciar a carreira e, necessariamente, a aprender. Com os coisos fez o que raramente tem feito que é mexer atempadamente na equipa. Mostra que está aberto a aprender o que a manter-se lhe dará a “margem de progressão” (lindo termo!) que alguns casos como o de Stoy/Rui pareciam demonstrar não haver.

    O Carlos Freitas (deve ser ele pois dos que ficaram parece que ninguém tem nada a ver com a gestão do futebol) saberá explicar por que razão não foi compensada a lesão do Derlei?

    Agora que a época se findou no desastre que conhecemos (um campeonato que nem chegou ao natal) será que não se investe naqueles que já se adaptaram e começam a render o investimento realizado, preferindo contratar outros que custam menos na tesouraria e mais nos resultados (mesmo que sejam bons, o período de adaptação é grande, não é?)

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  2. Welcome back Raul!
    O post e o comentário do Pedro merecem reflexão alargada que terá de ficar para outra altura.
    Fica no entanto a ideia, com a qual concordo 100%, de que estes magníficos 5-3 (ainda estou a vibrar de contente!) não podem servir para branquear o desastre da época. Pelo contrário: como disse, no meu post, este 5-3 devem servir de bitola para o que queremos no Sporting _sempre_! O desafio, como disse também, é reunir as condições para que exibições deste género passem de excepção a regra... Parece que talento não falta. O que será então que é preciso? Deixo-vos a pergunta retórica...

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  3. Deixem que comente os vossos comentários:
    A questão não é a razão de não ter sido "compensada a lesão de Derlei". A questão é de programação, pois foi contratado um outro avançado para esta época (Purovic). O que acontece é que, sendo o défice (e o correspondente agachar perante os bancos) uma obsessão, o Purovic foi barato mas não joga nada. Ainda por cima, para remediar, no "mercado de Inverno" foi-se buscar o passarinho em vez de recuperar o "nosso" Saleiro.
    Quanto à questão Stoy/Rui não temos os elementos necessários para nos pronunciarmos sobre ela sem ser por palpite; mas cheira-me que ainda iremos agradecer a Paulo Bento o lançamento do miúdo.
    A questão da gestão do futebol não tem apenas a ver com Carlos Freitas, mas com quem delineou a composição e competências do sector, ou seja a Direcção e o seu presidente FSF.
    Quanto ao comentário de Master, concordo, claro, com o fundo da questão, mas não acho que não falte talento. Claro que falta talento a alguns dos jogadores que foram contratados! E aí reside o erro da política da Direcção, contra a qual me bato no post. Dito de outro modo: é por erros de política de contratações que a equipa este ano não cumprirá os mínimos, e a coisa só não será pior porque os lamps ainda estão pior que nós!
    Mas este não foi o único, nem talvez o maior, pecado da actual direcção; o que mais me confrange e não posso perdoar é o modo como são tratados os adeptos, como não se promove o engrandecimento do clube através da conquista de novos adeptos.

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