quarta-feira, 8 de março de 2006

Estamos esclarecidos...

As "sessões de esclarecimento" levadas a cabo pela direcção a propósito da proposta de venda de património não constituem um modo sério de esclarecer o que quer que seja.
Na prática, e no plano estritamente formal, apenas têm o efeito de apequenar a Assembleia Geral.
Repito o que disse noutra ocasião: a condução deste processo tem sido um autêntico desastre desde o primeiro momento e estas "sessões" são disso mais um elemento de prova.
Mas, fico, naturalmente, muito apreensivo com a situação do Clube que nos é descrita.
Percebo, pelo quadro que se consegue adivinhar (a gente não sabe ao certo não é? Isto são apenas conjecturas...) a necessidade de encontrar formas de sanear financeiramente o SCP. A situação, se calhar, está mesmo de aflitos. Mas, o problema que, no meu entender, requer solução não é o da presente situação financeira, mas o quadro organizativo do clube.
Digo isto por duas ordens de razões:
1- Porque se as alternativas à venda de património não são claras, as garantias de boa gestão das eventuais receitas extraordinárias (expressão que tem tonalidades deprimentes...) são ainda menos claras. Ora, não foram estas criaturas que actualmente gerem o Sporting as mesmas que geraram a situação presente? E são estes os mesmos que agora vêm reclamar a venda de património?! Que garantias teremos nós de que as receitas vão passar de súbito a ser bem geridas se, comprovadamente, não o foram no passado?
A actual direcção fala de ausência de alternativas, mas também não aponta uma única medida de carácter estrutural para sustentar uma operação delicada como é esta da venda de património. Nenhuma medida que dê garantias de que tudo isto não volta a descambar no futuro. A proposta do FSF & Cia parece-nos, assim, magrinha. E, neste estrito sentido, o esclarecimento não esclarece nada.
2- Por outro lado, a questão central é, para mim, a de que com a solução preconizada teremos com única garantia (desejada ou colateral): a de que a responsabilidade das personalidades que tomaram conta do Sporting desde há mais de 10 anos vai ser branqueada.
É ou não legítimo que os Sportinguistas exijam o apuramento de responsabilidades pela situação que actualmente se vive e que cobrem as expectativas que foram criadas aos associados há cerca de dez anos? Chegar a este ponto crítico da vida do Clube, ter de vender património para tapar buracos --depois de, recorde-se, nos ter sido prometido o céu--, e não submeter os dirigentes, actuais e passados, a um processo de prestação de contas, não me parece ser um caminho minimamente credível.
Penso que só a criação de mecanismos de responsabilização pelos actos de gestão e o fim da impunidade vigente poderá dar maiores garantias de que isto não volta a acontecer e tornará aceitável a adopção de medidas excepcionais como a venda de património.
Tomada a seco esta solução é inaceitável.
Em resumo: venda de património que não seja acompanhada de medidas estruturais de alteração do presente quadro organizativo do Clube constitui MAIS DO MESMO! E tratar-se-ia de uma medida avulsa que, certamente, conduziria, mais tarde ou mais cedo, a uma situação semelhante, ou mesmo mais grave, já que a margem de manobra se vai estreitando.
Precisamos de mudar os Estatutos!
Preconizo a criação de mecanismos para uma política de gestão do Clube que seja eficaz e aceite por todos, e a responsabilização dos autores do actual buraco.
Quanto à forma de tudo isto ser levado à pratica é assunto que fica para outro episódio...