quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Estado de graça

Aviso prévio: a prosa que se segue é ficção. Também me apetece usar a imaginação e ironizar de vez em quando. O nosso colega Black Mamba está a banhos no Tahiti tendo-me cabido a mim, nestas circunstâncias, preencher o vazio por ele deixado. Qualquer semelhança entre o que digo e a realidade é da responsabilidade do leitor...
A escolha de Hermínio Loureiro para ocupar o cargo de presidente da LPFP não foi inocente. Ele ocupa um cargo político. O desporto só de forma tangencial se cruza com a função que efectivamente desempenha. A sua missão parece ser dupla. Por um lado, trata-se de criar um colchão que suavize a aterragem das vítimas do "Apito Dourado", agora que tudo aponta para a mais que eminente queda de algumas vacas sagradas do futebol protuguês. Por outro lado, ele tem de arrumar os esqueletos que existem espalhados por aí, pelos armários de muitas associações, partidos, organismos vários e outras instituições que participaram alegremente no regabofe do futebol destas últimas décadas. Porque estes esqueletos ameaçam sair do armário se o "Apito Dourado" apitar até ao fim, há que arrumá-los bem arrumadinhos.
A missão é executada de várias formas, com vários utensílios e de forma articulada com a FPF.
Em primeiro lugar, algumas dessas figuras em evidente e inevitável queda encontraram em Loureiro o braço amigo que as ampara para que o embate não deixe tantas nódoas negras.
Em segundo lugar, há uma estratégia de alimentação da opinião pública que visa dar a ideia de que a LPFP está a revolucionar o futebol português, desviando a atenção da sua verdadeira missão e fazendo esquecer os pecados originais. As comissões e os seminários sucedem-se, chovem palavras fortes como "ética" e "código de conduta" e não falta, para que o quadro da "revolução" fique completo, o argumento sempre convincente da aplicação das "novas tecnologias" ao futebol. Enquanto pensamos que a tal "verdade desportiva" vai agora finalmente ser reposta, poucos pararão para pensar quando é que ela esteve em causa... E, mutatis mutandis, enquanto aguardamos a ambicionada revolução e vamos descobrindo todos, maravilhados, "um novo ciclo no futebol português," deixamos de nos preocupar com as causas que conduziram ao velho ciclo, não paramos para pensar se estão efectivamente resolvidas todas as suas sequelas e, sobretudo, esquecemos quem são os seus arquitectos.
Em terceiro lugar, temos a sempre prestimosa e oportuna ajuda do Estado. Como já tive ocasião de sublinhar num outro post, Loureiro é um deputado da República em funções. Deve ser por isto que ouvimos tantas vezes a expressão que ele está em "estado de graça". É que afinal é precisamente graças ao Estado que Loureiro exerce esta função... De outra forma os clubes profissionais de futebol teriam de pagar ao seu representante máximo um ordenado condigno do cargo que exerce. Mas, quem serão as forças e as vozes capazes de denunciar este escândalo que é um deputado da Nação virar presidente de Liga Profissional de Futebol Profissional e ir exercer a sua missão pública para uma instituição privada à conta do ordenado que todos lhe pagamos? Seria necessário que houvesse forças e vozes que não tivesssem agarrados a si quaisquer vestígios dos tais esqueletos. Isso explicará porventura este silêncio generalizado e prender-se-á, justamente, com a função de arrumador de esqueletos que terá cabido, por consenso, a Loureiro neste seu mandato.
Não faltam apelos do presidente da LPFP aos amantes do futebol. "Acreditem e continuem a ir aos estádios" escreve o DN de hoje citando-o. Se não forem, arrisco eu, mais cedo ou mais tarde não faltará quem diga que a culpa afinal é vossa. Mal agradecidos!

Ricardo, o “especialista em frangos”


Ricardo entrou no Sporting sob o estigma do seu afirmado benfiquismo. Daí que, embora tudo tenha evoluído muito desde então (hoje ele afirma em palavras e gestos a sua “conversão” ao Sporting), sempre tenha sido um mal amado.
Ricardo não é um guarda-redes excepcional, da igualha de um Damas, nem sequer de um Carvalho (aquele que defendia a baliza do Sporting quando ganhámos a Taça dos Vencedores das Taças). Mas tem a sua competência. Passo a analisar.
Dividamos as competências que definem um guarda-redes em:
Entre os postes;
Saída da baliza;
Jogo de pés;
Saída a cruzamentos.
Ricardo é bom ou muito bom em 3 delas e medíocre na outra. Entre os postes ele responde com reflexos rápidos e elasticidade e faz boas e muito boas defesas (daquelas que poupam golos sofridos). Mas nisto há também outros bons guarda-redes, um deles o “nosso” Nelson. É claro que também já o vi dar enormes frangos (lembro-me de 2 em jogos sucessivos, um deles contra o Belenenses, num período de baixa de forma que implicou a perda da titularidade). Mas até Schmeichel, nos seus melhores tempos, dava grandes frangos. A sair da baliza quando lhe surgem adversários isolados, também Ricardo nos tem poupado alguns golos, porque está sempre atento ao jogo e é veloz a reagir; claro que também já o vi falhar (podia fazer melhor no golo de Simão, no último jogo contra o Benfica, por exemplo), mas o normal é ser seguro. Quanto ao jogo de pés ele é do melhor que há no futebol mundial. Neste particular, com a visão de jogo, atenção e rapidez de execução que tem, ele já deu a marcar (sobretudo a Liedson) alguns golos (lembrem-se do jogo contra o Benfica na época passada).
Chegamos assim ao aspecto em que ele é pior: a saída aos cruzamentos. O problema é que ele, neste aspecto fundamental, não cumpre os mínimos. No entanto tem melhorado alguma coisa e pode vir a fazer melhor – com 30 anos um guarda-redes está longe de ser velho.
Agora o argumento fundamental para eu o defender: se não ele, quem? Quer dizer, quem é que há por aí, ao alcance da bolsa do Sporting para o substituir fazendo melhor que ele?
Cruzemos os dedos para que Rui Patrício venha a dar certo, porque entretanto temos de ter – com as suas qualidades e limitações, ele é o melhor guarda-redes português da actualidade – Ricardo na baliza do Sporting.