quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Os jotas também levam ponto...

Raul:
Acabámos de inventar uma nova forma de "blogar" chamada o postentário! Comenta-se... postando. Se fosse só por isso já podíamos dizer que a discussão tinha começado a dar frutos.
Lamento, mas não parece que o sentido do meu post tenha sido entendido.
Admiro a tua posição generosa e a tua inquebrantável fé, mas receio que nada disto traga soluções para o problema real com que nos deparamos.
O futebol, desporto de que gostamos ambos, está minado. No plano internacional tremo ao saber como as coisas estão a evoluir. No plano nacional a situação é a que todos conhecemos. No plano particular do Sporting, até fico arrepiado quando penso no estado a que chegámos.
Neste contexto, percebo que os estádios se esvaziem e que os clubes lutem com tremendas dificuldades. E percebo que não dê grande vontade a muita gente para andar por aí a ovacionar o seu clube. O Sporting não está fora desta carroça. Esta é a realidade, infelizmente, por muita vontade que tenhas em manifestar o teu apoio ao Clube. A realidade é esta, repito. Tudo o resto é voluntarismo.
Mas, nunca deves ter lido uma única linha escrita por mim em que eu advogue políticas de "terra queimada" ou vaias a quem quer que seja. Aliás, se consultares o arquivo do KL lerás que tenho sempre defendido exactamente o contrário. Muitas vezes me insurgi contra esse tipo de comportamento que não faz bem o meu estilo...
As posições que defendo têm uma outra matriz.
Por um lado, por muito que pugnemos por uma postura diferente, os adeptos não estão, na generalidade, muito dispostos a ter tanta paciência. Hoje compreendo melhor os adeptos que vão perdendo a paciência e não me surpreende de todo que haja cada vez mais gente divorciada da equipa, do Clube e do futebol em geral. Tudo isto é demasiadamente mau para merecer a nossa incondicional generosidade.
Num outro plano, o dos responsáveis, tenho reagido aqui nas páginas do KL da forma que conheces porque sou extremamente sensível a questões de índole institucional. O Sporting não é um grupo ad-hoc, de amigalhaços que se juntam de vez em quando para beber umas "bejecas" e falar da bola. O Sporting é uma instituição. Com um enorme peso e enormes responsabilidades. Os membros desta instituição refletem-na e são a sua cara para o exterior. A mim tanto se me dá que o Peseiro diga o que quiser, agora. Quando era treinador do Sporting a música era outra. Mas, nessa altura, é justo dizê-lo, só lhe conheci um tipo de comportamento: uma enorme contenção e um grande sentido de respeito e lealdade para com a instituição que representava. Agora, fora da instituição e uma vez que ainda vivemos num país livre (tanto quanto sei...), nada nem ninguém o pode impedir de exprimir as suas opiniões. Como sócio do Sporting e como observador atento destas coisas leio o que ele diz, faço o meu juízo, mas, repito, tanto se me dá que ele fale, como que esteja calado.
Qualquer dirigente ou funcionário do Sporting, em funções ou com deveres de representação, tem a obrigação de respeitar o teu e nosso sacrossanto Clube. Está a falar por mim e por ti. E eu só lhe passo procuração para duas coisas: cumprir o seu dever e dignificar o nome do Sporting! De resto não passo procuração para mais nada.
Quando PB diz que há-de contar coisas que também ele sabe, ficamos a sismar. Se as suas declarações são justificadas, como representante de uma instituição como o Sporting, tem o dever, para bem do Clube, de divulgar o que sabe. Se são injustificadas, não pode, ainda enquanto representante da instituição, vir dizer que sabe o que não sabe, levantar as suspeitas e sair impune. Que estatuto tem PB dentro do Sporting para causar esta perturbação? Por isso digo que ele já está a mais e por isso disse que era "treinador de regime". Sentir-se-á com as costas quentes para proferir estas afirmaçãos. Não é Peseiro que está em causa.
A direcção do Sporting deveria ter levantado um inquérito disciplinar. Não defendo "vaias" mas sim uma postura institucionalmente correcta e de acordo com as regras.
Finalmente, eu não consigo como tu pareces conseguir, separar as componentes do Clube, "ilibando" uns e "premiando" outros. Os propósitos do Clube são simples e constam dos Estatutos. Tudo pode contribuir, e tudo contribui de facto, para honrar esses propósitos. Não há actos isolados e inconsequentes. O Sporting é um todo e TODOS são responsáveis, se bem que estas responsabilidades tenham, naturalmente, de ser graduadas. Se não acreditasse nisto e nos propósitos do Clube não faria parte dele. Ponto, parágrafo.
Como não é possível separar as águas, não posso esquecer, para começar, quem está no topo da pirâmide das responsabilidades. E discordo totalmente, totalmente!, dessa dicotomia que traças entre a responsabilidade de gestão e a desportiva. Não há uma sem a outra. Isso quereria dizer que há dois propósitos no Sporting. E não há, só há um!
Não há inocentes e culpados neste descalabro que é o Sporting 2007. Só há culpados. Por acção, por omissão e também por exaustão (também os há e também os acuso!)
Peço-te que leias com cuidado o que tenho escrito.
Com um abraço...

Os pontos que falta pôr nos is

Vamos a questões práticas, Master, para ver se percebo qual é a tua. Se bem que digas que «na situação actual do Sporting o problema da equipa é perfeitamente (sublinho, perfeitamente!) secundário», o que é certo é que vai continuar a haver jogos e a equipa ainda está a disputar o campeonato e a taça. E vai continuar a haver adeptos que comparecerão para assistir a esses jogos. O que coloca desde logo a questão de qual deverá ser o seu comportamento. Pergunto, pois, qual é a tua opinião sobre o seguinte:
- Os adeptos do Sporting devem, nesta fase, ir aos jogos ou não?
- Não sendo tu «apologista do ataque aos jogadores e à equipa técnica», «também não achas que mereçam defesa»; indo aos jogos, devem os adeptos apoiar ou não a equipa, aplaudi-la quando joga bem, puxar por ela mesmo nos maus momentos?
- Quanto ao treinador, uma vez que «faz parte do problema do Sporting» e «tem de ser castigado», será de começar já a vaiá-lo? Logo que ele entrar em campo, ou só quando as coisas começarem a correr mal?

Não serve de desculpa defender uma “greve” unilateral aos jogos, uma vez que (ainda) não existe qualquer estratégia colectiva e a vontade individual não traça linhas de política.
Quando afirmas que «só há aqui duas opções possíveis: ou somos a favor do status quo, ou somos contra!», temo que estejas a colocar-te no tipo de radicalismo, “quanto pior melhor”, achando que a equipa é a equipa destes dirigentes e que os sucessos dela são os sucessos dos dirigentes. E que, em consequência, o melhor é arrasar. Estás próximo de desejar a nossa própria derrota, pois o insucesso da equipa pode fragilizar os dirigentes e assim eles mais depressa cairão.
Se dar vivas ao Sporting é tomar uma posição apaixonada (o que, aliás faz parte da própria natureza do futebol), o que dizer deste tipo de posições? Serão elas racionais, ou decorrentes de um ódio que cega? E que leva à autodestruição?
Na minha opinião, como já escrevi, o terreno do combate aos dirigentes que infelizmente estão à frente do nosso clube, não é o desportivo. Nesse, os sportinguistas almejam sempre a vitória e batem-se por ela dentro e fora das quatro linhas.

Escrevo imediatamente antes de sair para ir ao estádio de Alvalade apoiar a nossa equipa contra a Académica. Porque as coisas não têm andado nada bem e, já que o campeonato está quase perdido, desejo veementemente a vitória do Sporting na taça de Portugal.

Pontos nos ii

Depois da série de posts e comentários que temos lido aqui no KL, acho que está na altura de fazer uma pequena pausa e tentar recolocar a discussão em parâmetros que considero mais úteis e correctos.
Não sou apologista do ataque aos jogadores e à equipa técnica, mas também não acho que mereçam defesa.
Na situação actual do Sporting o problema da equipa é perfeitamente (sublinho, perfeitamente!) secundário.
Assumir a sua defesa é enveredar por uma via que não me parece que tenha qualquer utilidade.
O ataque, por outro lado, justifica-se sempre que as responsabilidades tenham de ser partilhadas. Por exemplo, acho que os jogadores (os pequenos talentos que o Sporting tem e os verbos de encher que por lá vegetam igualmente, por muito que isso custe...) não têm responsabilidades nenhumas no que se passa e portanto devem ser preservados, acauteladas que sejam as questões contratuais que enquadram a sua colaboração. É um exercício despiciendo atacá-los.
Já o Paulo Bento é outra conversa. A sua posição, o seu grau de responsabilidade na equipa e os "amigos" que elegeu para o acompanharem nesta sua tarefa, as posições extemporâneas (na minha opinião) que tem tomado em matérias que não são da sua competência e sobre as quais não pode pronunciar-se enquanto estiver no activo, tudo isto leva a que, apesar da admiração que comecei por ter por ele, tenha que dizer agora claramente: PB faz parte do problema do Sporting. Não faz parte da solução. E está, ainda na minha opinião, defintivamente arrumado como treinador do nosso Clube. Mais valia que se tivesse limitado a uma posição pública do género "a minha política é o trabalho"... Não o fez e isso tem de ser castigado.
Por outro lado ainda, escrever como tenho visto nestas páginas e noutros blogs, com palavras ocas e completamente da boca para fora, que os Sportinguistas defendem o Clube, que temos de morrer pelo Clube e que o verdadeiro Sportinguista não verga e é assim ou assado, é um exercício completamente inútil. Ninguém me ensinará JAMAIS o que é ser Sportinguista!!
Na minha opinião, ser um verdadeiro Sportinguista passa por ser consequente. Frases feitas e slogans apaixonados não ajudam em nada a resolver os problemas do Clube e não passam disso mesmo.
E, meus caros amigos, o Sporting tem problemas! De outra forma não estaríamos aqui constantemente a falar deles. E os problemas são sérios. Talvez até mais sérios do que muitos de nós poderiam sequer imaginar.
Ora, todos estes problemas têm uma raíz e essa, por mais poeira que nos atirem para os olhos e por mais manobras de diversão que sejam montadas, é só uma: o Sporting é governado desde há anos por um bando de aves de rapina, de gente verdadeiramente inqualificável que causou danos ao Clube que vão levar muito tempo a reparar. São mentirosos, são incompetentes, servem-se do Sporting para servir interesses obscuros e os seus pequenos interesses particulares. O Sporting para esta gente é uma ferramenta usada para desígnios inconfessáveis.
Que raio de Sportinguistas serão estes então??!!!
Só há aqui duas opções possíveis: ou somos a favor do stauts quo, ou somos contra!
Por mais malabarismos verbais (e ele há gente com jeito para isso...) que se usem, tudo o resto é retórica perfeitamente inútil.
Concordo que há um problema de alternativas. Mas uma coisa é certa: a oligarquia, como em tempos lhe chamei, desta vez tem mesmo de ir para a rua. É uma questão de tempo.
Chega!

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Com quem andamos metidos...

Respigado do Blog da Bola, atentem neste texto, para verem quem anda a fazer negócios com o património não desportivo do Sporting:
«Rui Verde (*) foi quem levou Lima de Carvalho para a Universidade Independente e que num espaço de um ano, teve direito a um curso de direito que nunca exerceu, mas está inscrito na Ordem dos Advogados, apesar de haver uma forte suspeita dos documentos terem sido falsificados, porque se provou que Lima de Carvalho nunca foi aluno da universidade.
Lima de Carvalho foi quem levou para a UnI capitais com origem em Angola e por gente muito ligada a José Eduardo dos Santos, assim como outros investidores com origem lusitana. Estes amigos de Lima de Carvalho, deram continuidade aos seus negócios na compra dos imóveis não desportivos e respectiva secretaria do Sporting, sendo este o comissionista que ainda ninguém deu a conhecer apesar de ter recebido 4% sobre o valor de um negócio de 50 milhões de euros.
Rui Verde é acusado de estar ligado ao tráfico de diamantes e a outros negócios ilegais com origem em Angola, nomeadamente algumas licenciaturas muito mal explicadas e bastante dúbias.
Joaquim Oliveira, é apontado como o verdadeiro testa de ferro da Global Notícias, representando capitais com origem em Angola e também nacionais com ligações a um banco que está a ser alvo da “Operação Furacão”.»

(*) Vice-reitor da UNI, recém-exonerado pelo reitor; tem neste momento 74 processos na Polícia Judiciária a serem investigados, tendo sido acusado de levar uma vida faustosa denunciando sinais exteriores de riqueza que não estão de acordo com os seus rendimentos.

Os adeptos contra a equipa?

A equipa do Sporting tem conseguido o bom, o assim-assim, o medíocre e o mau, nesta época. Mas, para o campeonato, joga melhor e obtém melhores resultados fora do que em casa. Parte do problema, como se viu no jogo contra o Aves, está na massa associativa.
A equipa do Sporting para esta época foi estruturada na base de três componentes:
jogadores vindos de anos anteriores e estabilizados no clube (por exemplo, Ricardo, Polga, Tello, mesmo Caneira);
jogadores jovens vindos da formação na Academia (Moutinho, Nani, Yanick, Veloso);
“reforços” resultantes de contratações (Alecs, Bueno, Farnerud, Paredes, Romagnoli).
Uma primeira constatação foi que esta última componente, por vigarice ou simples incompetência, falhou redondamente. Comprometido que assim ficou o plano estruturante da equipa para a época, eram de esperar reforços na reabertura do mercado, como aqui tantas vezes preconizámos, o que os dirigentes não tiveram artes de conseguir fazer.
O meio-campo, zona nevrálgica do jogo, ficou, pois, entregue a miúdos de 20 anos, sem alternativas viáveis. Quando as coisas começam a correr mal, a malta experiente ainda se aguenta e consegue dar a volta por cima. Agora os jovens, menos experientes, são tendencialmente mais afectados pelos insucessos. É por isso que Nani e Yanick começaram, contra o Aves, a tentar resolver com iniciativas individuais o que não ia lá pelo conjunto.
Como “El Pibe”, no “Garra de Leão”, «gostava de saber se a quem assobia e tem filhos se quando eles tiram uma negativa numa prova escolar se também o gozam e vaiam, ou se, pelo contrário, lhe dão a mão e o apoiam para que na seguinte prova consiga tirar uma positiva...». (Leiam também os comentários).
E os «extremistas de sangue na guelra» que estão sempre a dizer mal da própria equipa deveriam ler e tentar perceber o sensacional post de Bulhão Pato no “Mãos ao Ar”. Se não vão lá a sério, quem sabe se com humor…

É nos momentos maus que se vê quem mantém bem viva a chama do amor ao clube.

Rapaziada, ouçam bem o que eu vos digo e gritem todos comigo:
VIVA O SPORTING

Ah, Leão!!

Ser do Sporting é assim uma coisa a modos que pouco explicável. É verdade que há sempre uma causa perdida algures, um avô, uma história, uma proximidade. Mas não é compreensível o grau de dedicação, de abnegação, de emoção que acabamos por dedicar a esta tribo. Só isso explica a sensação de plenitude, de pertença, de solidariedade que às vezes sentimos. Desde as pequenas coisas do dia a dia aos grandes eventos de exaltação. Eu por exemplo ainda me lembro daquela prova de corta mato em Setúbal, nos meus 10 anos, em que tropecei, caí e me arrastei até ao fim, na segunda metade da tabela, com o orgulho do meu avô, naquela camisola vestida por uma única vez em competição.
Vem isto a propósito do que baque que senti hoje quando abri o site da Bola. Num título: "Era um sonho jogar no Sporting". Quem assim fala é um sub-20 com algum talento. Joga no Rio Ave e chama-se Fábio Coentrão. Pelo que sei, fez recentemente uma semana de testes em Londres para avaliação do "special one". Ah! Alguma coisa que ainda aconchegue o meu ego leonino...
Vá lá! Que é que estão à espera? Vão lá buscar o puto, porra! Nem que se organize uma "vaquinha"...

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Sem palhaços

O modelo das SADs trouxe uma alteração profunda ao panorama da organização do futebol. Já muitos se terão porventura esquecido do clima de intensa rebaldaria em que vivia este universo, frequentemente, perverso antes da introdução deste modelo organizativo. No entanto, o estado em que vivia o futebol em Portugal era tão grave que a introdução de medidas elementares de disciplinação fiscal, organizativa, etc, nem sequer mereceu grande contestação por parte daqueles a quem a rebaldaria mais aproveitava. Foi uma espécie de Apito Dourado I.
De repente, todos os clubes enchiam a boca com o a sua preocupação em cumprir os seus deveres fiscais, a palavra mais ouvida era transparência (na gestão, no confronto desportivo) e o futebol parecia querer entrar num ciclo virtuoso do qual há muito andava arredado.
Muita gente (eu incluído) embarcou na ideia que a nova era iria colocar finalmente o desporto de que todos gostamos nos carris.
Cedo se começou a perceber que tudo isto não passava de mais um tapume de fantasia para cobrir a crueldade da realidade.
Os velhos métodos foram disfarçados com nova maquilhagem e sobre as velhas megalomanias e os velhos e inconfessáveis desígnios tombaram, graciosas, as vestes da moda. Entrámos na era do "mercado".
Ora, ao transformar-nos a todos em mercadores os aprendizes de feiticeiro esqueceram-se que o mercado é uma via com dois sentidos.
Já aqui há tempo escrevi (e volto a repetir porque a memória bloguística é de fusível rápido...) que apenas um dos componentes da triologia da bola (adeptos, jogadores e direcções) sustenta o futebol. Os jogadores e técnicos variados não pagam os seus chorudos ordenados, os administradores não assinam os seus cheques. E, desiludam-se, as televisões, os patrocínios, etc, etc, etc, não metem um tostão neste "mercado".
Quem mete dinheiro nisto tudo somos nós, os adeptos.
Ora, na lógica do direito do consumidor pretender que na loja se passem todos os desmandos, que o gerente e os empregados façam tudo o que lhes vier à mona sem que o consumidor se manifeste é uma perfeita falta de senso, para não dizer mesmo, uma enorme maldade. Eu vou à padaria, compro um pão miserável, sou mal tratado pelo padeiro e pelo empregado que me vende o pão e tenho de dizer "Viva a padaria! Estou contigo até morrer!!" ?
Não creio.
Fazer-nos pagar e não fornecer o produto pelo qual se pagou é fazer de nós palhaços. E, com palhaços não há dinheiro.
O Rui Santos sugere uma greve de adeptos ao futebol. Eu sugiro, para começar, uma greve de adeptos do Sporting para começar a colocar cada macaco no seu galho.

It’s only Sporting, but I like it!

Pelo que eu estou a ver na bloguítica e nos média em geral presentemente os adeptos do Sporting adoptam dois tipos de atitudes. Uns perfilham a opinião de que todo o edifício do Sporting, equipa incluída, está podre e que mais vale deitar abaixo; outros acham que é de distinguir entre a equipa e o resto e tentar preservar a equipa, na esperança de que, uma vez que ela é jovem, se venha a valorizar e a solidificar, dando-nos vitórias no futuro.
Os primeiros são os que ou já desistiram de ir ao estádio ou vão e assobiam a partir dos 10m de jogo. Os segundos, nos quais me incluo, dão o benefício da dúvida ao treinador, considerando, com Pedro Castaño, que está «em consonância com as condições políticas e gestionárias» do clube na actualidade. De facto, «de que serve querer mudar o único que tem cumprido o que lhe pedem? Ou não é verdade que lhe pediram para levar este grupo de miúdos o mais longe possível?».
Volto, pois, a afirmar que considero que esta equipa do Sporting se deve tomar como equipa em construção. Pois, poderá dizer-se, mas no fim da época a direcção venderá os jovens ao desbarato, como é costume, e lá teremos nós de, também como é costume, recomeçar tudo de novo. Aqui é que está o busílis da questão. É que se adoptarmos a atitude do tipo “terra queimada”, taxando o treinador de incompetente e assobiando a equipa assim tratando de a destruir, como se isto contribuísse para minar a presente gestão do clube, estamos a dar argumentos ao falhanço dos dirigentes: “nós tentámos, e só não conseguimos porque tivemos de combater os próprios sócios…”. Se, pelo contrário, confrontarmos os dirigentes com as suas promessas de que a venda do património não desportivo servirá para não vender os jovens talentos ao desbarato (como tem acontecido até agora) estamos em excelentes condições para desmascarar quem agora dirige o clube caso a equipa seja desbaratada no final da época.
Não há, de facto, volta a dar-lhe; «ou muda a política ou de nada serve mudar o resto. E este é o ponto que eu gostaria de saber a opinião de todos, antes que a Academia se transforme na antecâmara do maior crematório de talentos do mundo – a equipa principal da “nossa equipa do Sporting”». É este realmente o grande risco em que alguns estão, por vezes na melhor das intenções, a incorrer.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

A vocação do Sporting

Recordo-me, e recordar-se-ão certamente aqueles que me lêem, de ouvir os dirigentes da linha féshion que actualmente assegura a contabilidade do Sporting defenderem, inflamados, a venda do património não desportivo argumentando que o Sporting não tinha vocação de gestor de centros comerciais. O argumento terá tocado muitos Sportinguistas que entre um Sporting, clube de enorme glória e grandeza desportiva e um Sporting mundano, "franchisado" da Mundicenter, optou pela primeira hipótese.
Aliviado de encargos e vendo estancada a hemorragia financeira, o Sporting deveria preparar-se para mais uma farta dose de esmagadores e históricos sucessos desportivos. Na senda, aliás, daquilo que nos fora prometido pelo pai de todos os projectos, o dr. Roquette. Ele próprio instigador de actividades, mercedoras de avultados investimentos, para as quais, de forma inexplicável mas estranhamente convicta, veio depois dizer que o Sporting não tinha vocação...
Ora, depois de consumada a venda do património não desportivo (e enquanto aguardamos outros coelhos tirados da cartola franquista...) deveríamos estar já todos a ver uma estratégia clara montada para levar o Clube para essa tal nova era de sucesso. Mas, não estamos.
Quando observamos com atenção o universo Sportinguista não conseguimos vislumbrar uma única medida que nos permita antever o que vai ser esse novo período de glória! Cabe então perguntar: o que é afinal a vocação do Sporting? Se não é a gestão de centros comerciais, é o quê? Gestão de défices?
Onde está o resto?
Onde estão, pelo menos, medidas que visem dotar o SCP da necessária infraestrutura organizativa que lhe permita que agora, numa altura em que as condicionantes de ordem financeira parecem controladas, nos lancemos decididamente nos caminhos que a nossa vocação dita? Até agora, como podemos facilmente constatar, parece-me muito sinceramente que a nossa vocação continua a ser traída. Os administradores do Sporting não passam de administradores da massa falida.
Faço votos para que os dirigentes actuais tenham não perdido a noção do que é a vocação do Sporting e que tenham durante todo este tempo trabalhado as soluções de futuro, para além do défice. Faço votos para que as medidas --que já era tempo que todos conhecêssemos-- estejam estudadas e prontas a implementar. Faço votos para que o Sporting, clube desportivo, como rezam os Estatutos, supere o coma financeiro e retome o caminho de "fomento e prática desportiva, tanto na vertente recreativa como na de rendimento."
Sem outros objectivos que não sejam os do preenchimento dos livros diário e razão o Sporting move-se, qual barata tonta, sem saber muito bem para onde vai e o que quer fazer. Os resultados estão à vista.

O Portugal dos Pequenitos

Confesso que o Portugal dos Pequenitos sempre me irritou. Que me perdoe a Fundação Bissaia Barreto, sei que é fonte de abundantes receitas...
Mesmo quando era pequeno aquilo causava-me uma enorme irritação. Se alguma vez tive oportunidade de caber naquelas caricaturas do Portugal edificado não tive disso consciência. Quando passei a ter consciência (sim, não sou nenhum inconsciente!!) já não cabia naquilo. Restou-me a frustração.
Hoje deparei-me com uma citação de Nelson Mandela que me deixou a cismar. Creio que os dirigentes do Sporting a deviam ler e meditar sobre ela muito a sério. Talvez devessem mesmo fazer uma edição em letra dourada, distribuindo-a a todos os sócios, funcionários, dirigentes e jogadores. Se o tivessem feito durante as comemorações do centenário, em vez daqueles relogiozinhos que uns quantos privilegiados têm agora oportunidade de ostentar no pulso, talvez o panorama hoje fosse mais risonho...
Dizia Mandela na sua tomada de posse como Presidente da República da África do Sul (a tradução é mais ou menos livre): "É a nossa luz, não a nossa escuridão, que mais nos assusta. Perguntamos a nós próprios 'O que vou eu ser no futuro? Brilhante? Bonito? Talentoso? Fabuloso?' Na verdade a pergunta deveria ser: o que é que tu não podes ser? És uma criatura de Deus. O facto de te nivelares por baixo não serve o mundo."
Nivelar por baixo é sempre mau. Estamos permanentemente a fazê-lo neste país. É um crime que devia ser punido de forma exemplar. O presidente do Sporting, por exemplo, deveria ser enfiado numa daquelas casinhas pseudo-típicas que o arquitecto Cassiano Branco desenhou para o Portugal dos Pequenitos e ficar lá, com uma televisãozinha muito pequenina, a ver jogos do Clube a que preside. As dores nas articulações iriam decerto fazê-lo lembrar durante muito tempo que nivelar por baixo é uma maldade muito, muito feia!

De regresso..... antes de ler os vossos posts

Resolvi escrever este post sem ler nenhum dos meus queridos amigos cujas opiniões parecem divergir.

Como a polémica é sempre bem vinda, quando vem por bem, cá estamos a fortalecer a nossa dedicação ao Sporting.

Ouvi-os, no entanto, aos dois….

Eu sou pela manutenção do Paulo Bento por muitos e bons anos (quer dizer, muitos porque isso dos bens anos não é coisa que se possa crer com esta facilidade com que se tecla) porque:

Mudar de treinador não resolve o problema da equipa.
Mudar de treinador não permite manter o essencial e alterar o que precisa de ser alterado.

O Paulo Bento continua a falar bem e com consciência das necessidades do clube, tem protegido q.b. o “grupo de trabalho” (seja lá o que isso for).

O Paulo Bento não é do Sporting, mas rodeou-se do pastor e ambos estão a crescer e desenvolver um projecto que muito poucos estão dispostos a abraçar. Quem poderia vir treinar o Sporting? Um grande nome que ao fim de umas semanas perceberia que se tinha posto num projecto falido? Ou se ia embora rapidamente ou ficaria até ser corrido com uma choruda indemnização. A memória dos povos é curta, já se sabe. Mas será tão difícil lembrar os grandes nomes que nos iam resolver ao longo de anos e anos os campeonatos? Tantos e tão bons. Com currículos que venceram ou viriam a vencer em todo lado. Mas fomos campeões com o Inácio. O Inácio é, por acaso, um grande treinador? Não! Mas estava em consonância com as condições políticas e gestionárias que o clube atravessava na altura. Ou não será? De que serve querer mudar o único que tem cumprido o que lhe pedem? Ou não é verdade que lhe pediram para levar este grupo de miúdos o mais longe possível?

Não quero portanto discutir coisas circunstanciais. Ou muda a política ou de nada serve mudar o resto. E este é o ponto que eu gostaria de saber a opinião de todos antes que a Academia se transforme na antecâmara do maior crematório de talentos do mundo – a equipa principal da “nossa equipa do Sprorting”*

* - Há, no nosso blog, quem acredite que somos lidos por directores do Sporting. Se esse for o caso, não se pode calar a rapariga do estádio? E se por uma questão de cunhas (ver público de hoje) não for possível, não se pode explicar-lhe que a nossa equipa e Sporting é uma e a mesma coisa? Como diz o Master: obrigadinhos

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Venenos 15


O Desmotivo das Aves foi grande em Alvalade. E cumpriu-se a previsão de Paulo Bento: o Aves procurou, e conseguiu, que o jogo acabasse como começou. Do lado do Sporting, os jogadores também cumpriram à risca as intruções de Paulo Bento, aliás expressas publicamente: humildade e entrega ao jogo ao nível do Aves. Resultado: soma zero! O Sporting consolida assim a sua luta pelo terceiro lugar.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O terreno de jogo

Só por distracção, ingenuidade, desconhecimento e, eu diria até, por má fé é que se pode ignorar que o jogo de futebol se joga a toda a largura do terreno. E joga-se também dentro e fora dele.
Já insisti inúmeras vezes neste ponto, mas reitero-o aqui mais uma vez porque a minha paciência é infinita...
O sucesso desportivo (o objectivo de um Clube como o SCP) e o consequente desafogo financeiro só podem resultar da conjugação de três factores: equipa (atletas e técnicos) talentosa, sócios e massa adepta profundamente envolvida e administração competente. Com todos empenhados e em perfeita sintonia, no espírito da velha máxima dos mosqueteiros "Um por todos, todos por um!"
Tudo isto requer uma perfeita e assumida hierarquização, uma assunção clara dos papéis a desempenhar e uma fé inabalável na força colectiva. Nenhum destes factores pode prevalecer sobre os outros. Ninguém pode fraquejar.
Qualquer exemplo de sucesso desportivo no mundo do futebol, revela na sua origem, de forma mais ou menos clara, isto que disse. E, creio que é legítimo dizer-se, estes factores são condição sine qua non para alcançar o sucesso.
Ora, no Sporting há muito que não se vive um clima assim. Há já muito tempo que a única máxima que se pode perceber é "tudo ao molho e fé em Deus"! A todos os níveis e em todos os sectores de actuação, dentro e fora do terreno de jogo. O Sporting é uma sombra decadente do que foi e a sua grandeza é passado.
Neste momento não há uma liderança sólida, nem credível. Não se descortina qualquer espécie de desígnio. Não há projecto, não há dedicação, não há valores, não há sucessos, Não há decoro!
Há, sim, uma simples caça ao níquel e um abuso sem limites!
E um longo rol de imperdoáveis derrotas.
Os episódios que acontecem com e no Sporting, esses sim, de forma recorrente desde há anos e anos, sem que se vislumbre qualquer tentativa de lhes colocar cobro, sem que se perceba capacidade de liderança para os obviar ou estancar sem apelo na origem, revelam apenas o enorme (o enorme!!) desnorte que reina pelas bandas de Alvalade.
Mas a confusão parece oferecer grandes oportunidades aos volframistas da bola... Temos pois, em contrapartida, um Clube que é pasto para inomináveis manobras de exorbitância de atribuições e de atropelo das mais elementares regras de qualquer agência colectiva idónea. À custa de quê e ao serviço de que amos? É coisa que todos gostaríamos certamente de avaliar com detalhe.
Só, repito-o, por ingenuidade, desconhecimento, ou má fé se pode pensar que o estado a que o Sporting chegou se deve a outras razões que não estas que expus. E só por essas razões poderemos compreender que haja quem desculpe, faça vista grossa ou pactue mesmo com os episódios que com regularidade somos constantemente brindados nesta triste telenovela em que se tornou o SCP.
O terreno do jogo do Sporting é muito maior que o pequeno rectângulo onde os jogadores jogam. E de forma muito perceptível o jogo fora do terreno influencia o jogo dentro do terreno.
Não é de hoje. É muito claro. Só não vê quem não quer...

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

O papel do treinador

Há uma tendência recorrente nos sportinguistas em serem críticos ao ponto de serem os primeiros a desancar na equipa quando as coisas correm mal; por vezes mesmo quando correm bem. No jogo da taça contra o Aves as bilheteiras do estádio funcionaram miseravelmente e uma família – pai, mãe e vários miúdos, filhos e amigos – só se sentaram à minha frente no começo da segunda parte. O resultado estava em 2-0 e a equipa entrou no segundo tempo em poupança de esforços. De tudo o que se movimentava em campo, o pai da família, desatada a língua, só não disse mal da bola. Nani faz mais uma finta e “ganda c*****, queres levar a bola para casa?”; Custódio pega na bola e “pois, ganda pan******, passa pra trás, passa!”; Ricardo falha um passe longo e lá vai um “fdp do frangueiro; está-se mesmo a ver que és lampião!”; Paulo Bento faz uma substituição e vai disto “este c****** vai-me tirar o gajo que estava a jogar melhor!”, e assim por diante.
Com ou sem palavrões, é esta uma postura usual entre muitos adeptos do Sporting; dar tiros nos pés é o seu forte. Em vez de exaltarmos as qualidades que temos, entretemo-nos a chamar a atenção para tudo o que é menos bom.
Neste particular, um dos alvos preferidos é o treinador. Treinador que aguente dois anos, mesmo depois de ganhar um campeonato, é um milagre no Sporting.
Ora o nosso clube, depois de anos e anos a fazer despesas acima das suas posses, poderá estar no começo de uma fase de aposta mais consequente na formação. Isto exige maior continuidade dos treinadores, à semelhança do que é tendência nos grandes clubes ingleses, nomeadamente no actual Manchester United, com Alex Ferguson.
Se calhar, quando se tratou de substituir Peseiro, a minha opção não iria para PB; mas agora que é ele que lá está, é ele o treinador do meu clube. E, bem vistas as coisas, ainda bem! É que, apesar de “não ter conquistado nada de particularmente notável”, não concordo com a opinião de Master Lizard quando ele diz que “Paulo Bento não é (ainda) treinador. Nem é treinador para o Sporting. É um treinador imaturo, da navegação à vista.” Esta polémica com Peseiro só vem confirmar, pelo contrário, que PB está longe se ser um treinador “da navegação à vista”. Porquê? Porque a discussão se centra à volta dos méritos do modelo de jogo. O que significa que eles são diferentes. De facto, PB implantou no Sporting um modelo de jogo personalizado, bem definido, diferente do do antecessor. Se funciona ou não, é o que se poderá vir a constatar no futuro e não já. Até agora tem funcionado umas vezes e outras não. O que é natural numa equipa cujo núcleo construtor de jogo tem uma média de idades de 20 anos. Como refere Leão Verde (cujo comentário ao post de Master recomendo que leiam) “muito tem feito o Paulo Bento com o material humano de que dispõe”. Claro que PB ainda não tem a experiência que faz os grandes treinadores, mas está a fazer-se, a ganhar experiência, ao comando da também ela jovem equipa do Sporting. Como aqui há tempos escrevi, tenho esperança em que ele venha a ser o nosso Ferguson. Mas é preciso dar tempo ao tempo e não querer resultados imediatos, como exigem os adeptos mais coriáceos, secundarizando a razão à emoção.
É claro que essa tal aposta na estruturação da equipa a partir da formação também implica uma direcção que a sustente. Mas não confundamos as coisas, como me parece estar a fazer Master quando diz que PB “é, sobretudo, o treinador do ‘regime’”. Parece ser esta a verdadeira motivação de Master ao vir agora “deitar abaixo” o nosso treinador: opor-se à direcção do Sporting. Mas a frente de luta contra a política da actual direcção do Sporting terá de ser conduzida no campo da luta pelo poder executivo dirigente. Essa luta processa-se pela pressão que se consiga fazer no campo da opinião (como aqui a temos vindo a fazer) e na organização de alternativas que possam a vir a disputar o poder (aspecto em que, até agora, nunca conseguimos desenvolvimentos que se vissem).
Outro campo, aquele que aqui analiso, é o da equipa e do seu treinador. Este é um funcionário do clube que lhe paga, clube esse que tem uma direcção. Por mais que nos custe, é a esta direcção que ele tem de servir, o melhor que sabe e pode. Não é aquela de que nós gostaríamos, mas a que lá está (aliás eleita pelos associados). Não cabe ao treinador meter-se na política interna do clube e pronunciar-se a favor ou contra as medidas tomadas pela direcção; tem de as respeitar e servir o melhor que pode. O campo dele é o do trabalho, não o da política. É por isso que PB ao, por exemplo, conformar-se com a decisão dos seus superiores em não contratarem reforços em Janeiro, está a defender o grupo de trabalho. Ou acham que era motivador para os Buenos, os Alecs, os Yaniks, enfim, os jogadores que há, os que lá estão no balneário com o treinador todos os dias, ele vir dizer que os avançados que tem são uma merda, mas que infelizmente a direcção decidiu não fazer novas contratações e ele não tem outro remédio senão pô-los a jogar. Na defesa dos seus jogadores, os que lá estão, tem ele sido impecável, castigando-os quando tem de ser, mas estimulando-os sempre, contando com eles. Eles sabem que contam.

Preso por ter cão...



Aproveitando o ensejo proporcionado pelo post de Master Lizard, venho também dizer a minha opinião sobre as recentes declarações de Paulo Bento (PB), em resposta a José Peseiro (JP).
A questão tem uma parte de circunstancial e outra que merece reflexão mais aprofundada. A primeira tem que ver com a oportunidade e a justeza das declarações; a questão de fundo tem que ver com o papel do treinador
Vou abordar, para já, apenas a primeira.
JP tem-se desdobrado em entrevistas desde que regressou da Arábia Saudita e, por mais do que uma vez, já referiu que o Sporting do seu tempo dava mais espectáculo do que o de Paulo Bento. Este podia fazer uma de duas coisas: ou se calava, ou respondia. Há um exercício que convém fazer nestas ocasiões: perguntarmos a nós mesmos o que faríamos nas circunstâncias em apreço. Acho que dificilmente alguém ficaria calado. E, se ficasse, ele que pretende passar uma imagem de firmeza (não hesitando em castigar jogadores, por mais importantes que estes sejam no desempenho da equipa, assim mantendo a disciplina no balneário, precisamente o aspecto em que Peseiro falhou), arriscava-se a ser acusado de cobardia. É um daqueles casos em que se aplica o ditado, preso por ter cão, preso por não o ter…
Primeiro ponto: acho que ele fez muito bem em responder.
Agora vejamos se o teor da resposta foi justo e correcto. Para tanto vejamos o que PB disse:
«Essa questão do espectáculo é uma questão que já começou há muito tempo, começou em Janeiro de 2006. A minha função é treinar o Sporting e a minha profissão é de treinador, não é de comentador. No dia em que deixar esta cadeira, a primeira coisa em que me vou preocupar é não cuspir no prato onde comi. Isso não vou fazer. Não tenho necessidade, não faz parte da minha forma de estar, não faz parte das minhas intenções ser comentador e passar todos os dias na imprensa e nas televisões. A única coisa que faltou esta semana foi, no “Tempo-extra”, fazer o programa com o Rui Santos. De resto foi a semana toda. Isso incomoda-me pouco, sei quais são as intenções, mas isso incomoda-me muito pouco. Um dia explico essas coisas do ambiente, mas não vou comentar agora. Tenho algumas histórias para contar e ele também. Não comento neste momento, mas mais tarde irei fazê-lo seguramente. Estou a proteger o Sporting, não estou a evidenciá-lo».
Antes de comentar, tenho de referir que defendi encarniçadamente Peseiro até à altura em que tive de reconhecer que a posição dele – face ao desagregar do balneário (com os casos de indisciplina a sucederem-se) e aos sucessivos maus resultados – era insustentável.
No caso presente, como sportinguista, não posso deixar de ser atingido pelas declarações de JP. E o que eu sinto é exactamente o que PB transmitiu: o gajo está, como certos cães, a morder a mão que lhe deu de comer. Ao dizer mal do futebol actualmente praticado pela equipa em comparação com o do seu tempo, JP está a entrar-me em casa. Teve o seu tempo, tenha fair-play, cale-se!
As palavras de PB podiam ser outras, podia ter falado menos (não precisava de falar no tempo extra) e muito menos em que tem coisas a dizer e que não as diz agora. Sendo embora bom que não as diga agora, por defesa do grupo de trabalho, o que faria sentido era que as venha a dizer em tempo oportuno, não tocando agora no assunto. E a resposta denota que, ao contrário do que diz, o assunto o incomoda mesmo muito. Mas isto são questões secundárias.
Em defesa da coesão do grupo de trabalho (ou, como ele diz, para “proteger o Sporting”), que me desculpem aqueles de quem discordo, Paulo Bento, treinador do meu clube, o Sporting, fez muito bem em falar.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Venenos 14


Os lampiões voltaram ao segundo lugar. Deve ser por ter adivinhado tudo isto que Custódio Miguel Dias de Castro --mais conhecido pelo seu nome artístico Custódio-- fez aquela afirmação histórica de que Sporting e Benfica era tudo igual...

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Má decisão

Paulo Bento já foi elogiado aqui deste cantinho por diversas vezes. Sempre admirei da sua postura franca e a forma como foi enfrentado as adversidades, sem desculpas esfarrapadas e apontando de forma decidida aquilo que lhe compete na sua esfera de acção. De Paulo Bento não se podia dizer, como no adágio popular, "quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão?"
As suas últimas declarações deixaram-me, contudo, desapontado.
Atirou-se ao seu antecessor, soçobrando perante o bombardeamento de críticas que este tem feito desde que voltou a Portugal. Na minha opinião, perdeu uma excelente ocasião de estar caladinho.
A Paulo Bento pede-se o que se pediu a Peseiro, ou a qualquer outro treinador que tenha passado pelo Clube: que treine a equipa e faça o seu melhor. Partindo do princípio que têm os atributos necessários para treinar uma equipa como o Sporting, e que não estão lá para perder, todos os treinadores obterão os resultado possíveis perante um conjunto de condições externas que não dominam, muito em particular, as que resultam do trabalho da direcção.
Paulo Bento não escapa a este ditame: tem de treinar e fazer o melhor que sabe.
Ora, o que Paulo Bento fez até agora como treinador nada tem de excepcional. Os resultados são medíocres, as suas opções técnicas e a maneira como gere a equipa são alvo de legítima crítica e o seu estatuto de "maçarico" vem à tona com uma frequência crescente. Paulo Bento até agora, objectivamente, é um grande zero!
O que provavelmente Peseiro quis significar quando disse o que disse é que Paulo Bento, não só não mostrou resultados dignos de registo, como nem sequer proporcionou bons espetáculos como as equipas dele proporcionaram em não tão poucos jogos como isso. Alguns dos jogos mais emocionantes e bem disputados do Sporting a que tivemos oportunidade de assistir nos últimos tempos, decorreram sob a direcção de Peseiro.
Paulo Bento teria feito melhor, na minha opinião, em manter-se calado até mostrar mais serviço, ou pelo menos consolidar melhor o seu trabalho e os seus métodos. Não tendo conquistado nada de particularmente notável e abrindo a boca contra o seu antecessor, veio revelar o que afinal já se tinha percebido há muito: Paulo Bento não é (ainda) treinador. Nem é treinador para o Sporting. É um treinador imaturo, da navegação à vista. E é, sobretudo, o treinador do "regime".
Preocupante é, também, o facto de PB ter tomado partido numa situação em que não lhe compete fazê-lo. Há no Sporting de hoje muitas dúvidas, muitas histórias mal contadas, muita ferida aberta e muitas contas a prestar. Vejo muito mal que seja um treinador do Sporting a vir atirar achas para esta fogueira. Depois de dizer que como treinador lhe competia... treinar, não se coibiu de lançar as suas farpas e de vir dizer que teria, ele próprio, muito para contar e que o vai certamente fazer quando já não estiver sentado na cadeira do treinador. Justamente o que Peseiro achou que estava na altura de fazer...
O Sporting passava bem sem este tipo de questiúnculas. As guerras de treinadores, pessoalmente, como Sportinguista, não me interessam. Mas, o que tudo isto acaba por revelar transcende em muito o trabalho do aspirante a treinador Paulo Bento, que precisa claramente de comer um pouco mais de pãozinho.
De qualquer forma, com os seus comentários, prestou um mau serviço ao Clube, aos associados e à sua carreira. Má altura para pegar no rabecão...

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Não estamos sós

Para aqueles que eventualmente pensem (isto é meramente teórico, claro...) que o meu azedume habitual contra a camarilha Soares Franquista é produto de uma doença daquelas tipo familiar, ditada pela consanguinidade, leiam, por favor, aqui o que o Pitons D'Alumínio escreveu no Bola na Rede B. Este post é, de resto, também referenciado pelo Bulhão no Mãos ao Ar.
Não tenham dúvidas: há que continuar a malhar forte e feio nesta gente e o post do Pitons, para além de me dar alento, permite-me pensar que não estou, naturalmente, só nesta cruzada! Aliás, acho mesmo que o problema desde há muito tempo é esse mesmo: não estamos sós, mas não sabemos.
E estou inteiramente de acordo quando ele diz "vocês que os lá colocaram levam com a culpa..." Ai vão levar vão! Cá estaremos.
Uma chapelada ao Pitons.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Lembrar para não esquecer

Arrumar ficheiros num disco já usado há muitos anos é como encontrar um baú com documentos antigos no sotáo lá de casa. Vejam só o que encontrei há uns dias:



Pois é. Deliciados? Claro. Este golo ao Moreirense valeu o jogo todo, ou mesmo vários jogos. Do outro mundo. Mas mais do que recordar o velho Alvalade em noite de Inverno, o que mais me chocou neste pequeno video foi outra coisa. Se repararem com atenção, nos festejos do golo aparece outro rapazinho, um ano mais velho que o Ronaldo, com o número 20 nas costas. E para quem já não se lembre bem, convém recordar: Ronaldo e Quaresma jogaram mesmo juntos no Sporting. Dois dos melhores jogadores do Mundo da actualidade (e seguramente dos mais excitantes e espectaculares, daqueles por quem as bancadas se enchem pelo puro gozo do espectáculo) poderiam jogar hoje com as mesmas camisolas, na mesma equipa. Fosse o Sporting um grande da Europa e poderíamos hoje jogar com estes dois pequenos (e ainda fazer um negócio que iria reduzir em mais de metade a dívida que tanto preocupa a nossa Administração).

Mas não fiquei por aqui nas pesquisas ao baú. Vejam também a capa duma revista já desaparecida há uns anos e quem é que lá está aos beijinhos à "verde e branca"? É mesmo ele. O capitão e actual ex-libris de um clube de futebol da região de Lisboa. Que marca golos ao Brasil e é aliciado para jogar em Inglaterra em cada abertura do mercado.

Pobre Sporting. Grande da Europa, não é. Nem sei se alguma vez foi. Mas ver jogadores que cresceram dentro de portas, transportar o símbolo de clubes rivais, ou ver agora um jogador ser avaliado em 10 a 15 vezes o que o clube recebeu há dois anos e meio pela sua transferência, não pode deixar de nos entristecer.

Mas é sempre bom lembrar. Até porque para bem (ou mal?) dos nossos pecados, não há maneira de deixarmos de ver futuros grandes jogadores subirem ao nosso relvado, uns atrás dos outros. Pois se os têm que vender, que vendam. Pronto! Mas garantam pelo menos que em Portugal não se vão conspurcar para nenhum outro lado.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Dias da Cunha

A actuação do ex-Presidente do SCP Dias da Cunha e o seu contributo para a actual situação que se vive no Clube não estão totalmente isentos de crítica. Mas, as peripécias da sua saída e o modo como foi tratado pela actual direcção constituem episódios tristes e vergonhosos, dignos de um outro clube que não o Sporting Clube de Portugal.
Quando, por exemplo, levantou a célebre questão do "sistema", apesar do estilo, Dias da Cunha sabia afinal muito bem do que estava a falar. Não eram apenas opiniões que estava a emitir. Tinha feito o trabalho de casa.
Agora, em relação à situação presente do Clube, o ex-Presidente, em declarações reproduzidas pelo Record afirmou "Antes do futebol, gosto do Sporting. Quero estar calado, não quero prejudicar o Sporting em coisa nenhuma..." Mas, acrescenta, "tinha muito para dizer..."
Ora, relativamente a esta matéria, Dias da Cunha tem a obrigação de revelar o que sabe. As apreciações que faz, o que deixa subentendido, o Sportinguismo que reivindica e a situação delicada que o Clube atravessa constituem pretexto mais que suficiente para que se exija dele uma total clarificação.
O ex-Presidente Dias da Cunha merece-me, a mim pessoalmente, todo o respeito. É minha convicção que os Sportinguistas não têm quaisquer razões para questionar a sua dedicação ao Clube. No passado, independentemente do estilo, como referi, Dias da Cunha mostrou que afinal sabia do que estava a falar. Nada me leva a duvidar que, neste caso, sabe mais uma vez bem do que está a falar.
A bem do Sporting, elucide-nos então, por favor...

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

A gestão do Sporting não é uma questão para os "outros" resolverem

As declarações do presidente do Sporting reproduzidas hoje no Público não podem deixar de nos fazer refletir. Paira sobre tudo isto o fantasma dos "outros" e é preciso que os Sportinguistas saibam distinguir com clareza entre os "outros" e os outros.
No que respeita às questões concretas afloradas pelo presidente do Sporting, não surpreende que a situação esteja como está. Já o disse por várias vezes nas páginas do KL: o projecto empresarial do Sporting é uma falhanço total e os problemas que agora surgem não passam do coroloário natural deste desastre sem precedentes. Estamos a pagar a factura de um projecto concebido e excutado com a maior das leviandades. Nada disto surpreende, pois. Supreende, sim, que os Sportinguistas não se tenham ainda dado conta do buraco em que o Clube está metido e continuem a acreditar nesta gestão.
E não é aceitável que se esteja agora a tentar criar uma cortina de fumo sobre tudo isto e que as culpas estejam a ser endossadas para as "mãos dos responsáveis da Câmara de Lisboa e da empresa que gere o Metro da capital." Os responsáveis pelo desastre (que todos adivinhamos há muito tempo e que poucos têm tido a coragem de denunciar, com medo, legítimo, de serem trucidados pelos estranhos conceitos de democracia que governam o Clube...) são os membros das sucessivas direcções desde que se iniciou o chamado "projecto Roquette", incluindo a actual direcção e os seus apoiantes!
Não há cortina de fumo, nem manobra de culpabilização, nem agitação de fantasmas que possam escamotear esta realidade.
Os "outros" são as sucesssivas direcções do Sporting desde 1994.
Mas, há uma coisa em que Filipe Soares Franco tem razão. Os Sportinguistas não podem delegar nos "outros" a resolução dos problemas que afligem o Clube. Os "outros", de facto, somos nós. A situação angustiante que se vive, a iminência do desastre não são, em última análise, senão culpa dos Sportinguistas. Das suas ilusões, da sua preguiça, da sua pouca participação na vida do Clube, da sua ingenuidade e da sua generosidade também.
E mais uma vez (e direi isto até ficar sem voz...) vos digo: só os Sportinguistas vão poder dar a volta a esta crise monumental! E só medidas drásticas vão permitir resolver os problemas que nos afligem e ameaçam o futuro do Sporting.
O primeiro problema, aquele que será necessário resolver antes de tudo o resto (sobre o qual todos podemos desde já ir pensando...), é este: que Sporting queremos? O Sporting dos valores, o Clube prestigiado e respeitado, ou a pouca vergonha da empresa, caloteira, perdedora, predadora e distribuidora de benesses duvidosas?
Será isto um problema para os "outros"?
Quanto a Filipe Soares Franco, cumpra, por favor, a ameaça. Não deixará saudades.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Ponto de situação do SCP 2

Peguem num prego e num martelo. Tentem, com o martelo, meter o prego numa tábua. Vão encostar o martelo ao prego e fazer força? Claro que não. Mas é assim que, hoje em dia, as equipas de futebol, consideradas mais fortes, tentam meter pregos numa tábua, ou seja, meter bolas na baliza adversária…
No meu tempo de miúdo, (não tenho problemas em me assumir saudosista…) o Sporting dos anos 40 e 50 jogava recuado, era “dominado” territorialmente, mas “martelava” os adversários com tal eficácia que marcava os golos mais do que suficientes para permitir que algum deslize ou azar da defesa fosse ultrapassado. Mesmo a perder por 3 a 0 com o Benfica tínhamos uma esperança, quase certeza, de que iríamos ganhar. Hoje estamos sempre com o credo na boca, não vá o diabo tecê-las e surgir um frango ou um penalty que nos roube a vantagenzinha de um golo que, na melhor das hipóteses, possamos ter.
Não se pode dizer que a culpa seja, principalmente, dos jogadores. São esforçados, quase todos habilidosos e a sua juventude, na minha opinião, não é culpada das fracas exibições a que temos ultimamente assistido. O Vasques e o Travassos começaram a jogar no Sporting com 18 anos.
Então a culpa das más exibições é do treinador? Em parte será. Mas, o Paulo Bento é também “vítima” da moda que se espalhou dos “sistemas” estratégicos, do 4-2-4, do 4-3-3, etc. E faltam-lhe termos de comparação. Se pudesse ter visto equipas como o Torino do Mazzola, o Honved do Puskas, o San Lorenzo de Almagro do Di Stefano, a Inglaterra, do Mathews, o Celtic do Johnstone (um extremo esquerdo fenomenal recentemente falecido), para não falar do Benfica do Eusébio e do Sporting do Mourão ou dos 5 Violinos, certamente que modificaria os seus métodos de treino. Claro que corre alguns riscos de ser “chicoteado” se os próximos resultados forem desastrosos. Espero bem que a falta de dinheiro não permita esse disparate. Mudar de treinador, nesta altura, não teria qualquer resultado prático. E qual o santo milagreiro que poderia vir ocupar o seu lugar? As críticas que faço à maneira actual de jogar já as enderecei a outros antigos treinadores do Sporting, (sem qualquer resultado, diga-se de passagem…) Dois deles tinham, na altura, ao seu dispor um lote de jogadores do “outro mundo” a que chamaram “galácticos”… e nada ganharam!
Esse exemplo serve-me de argumento para me regozijar com a não aquisição de qualquer hipotético reforço. Diz-se que um bom caçador se não tiver cão caça com um gato. Não haverá no Sporting jogadores, mesmo “defesas”, com facilidade e potência de remate, que possam aprender a marcar golos ? É só questão de treino…!

PS- Interrompi as minhas reflexões saudosistas para ver na televisão o jogo com o Nacional. Não podia ter tido melhor confirmação das minhas teorias… Só que, aquilo que se passou nos últimos 15 minutos deveria ser conscientemente procurado… “Quod erat demonstrandum” !

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Barbárie

O que se passou no jogo Catania-Palermo excede tudo aquilo que, creio, a imaginação mais delirante seria capaz de inventar. Por dois motivos. De um lado, porque parece quase inimaginável que num país como a Itália ocorra o tipo de incidentes como aquele que hoje teve lugar. Mais parece, de facto, coisa de outras paragens e de outros graus civilizacionais...
Por outro lado, porque me surpreendeu a reacção do Sindicato de Jogadores (AIC). Ao pedirem a suspensão do campeonato por um ano "para reflectir sobre todo o mal que [o futebol] cria", como referiu o presidente da AIC, os jogadores estão-nos a dar a possibilidade de distinguir com rigor quais são, de entre os diferentes agentes do futebol, os verdadeiros responsáveis pela barbárie que grassa neste universo particular. Dirigentes e adeptos executam, com efeito, desde há muito, uma dança perigosa. E a única coisa que devemos estranhar é que este género de incidentes não ocorra com mais frequência.
Os jogadores que actuam em Itália revelaram aqui um comportamento que eu, pessoalmente, gostaria que fosse a norma. Entretanto, a Federação Italiana já determinou a suspensão dos jogos deste fim de semana.
O incidente de hoje não pode deixar de me fazer recordar o assassínio que ocorreu na final da Taça no Jamor. Com algumas e significativas diferenças. Depois de perpetrado o crime, não me recordo de assisistir a qualquer reacção da parte dos jogadores, que continuaram a jogar como se nada tivesse ocorrido. E da parte das autoridades políticas, dos dirigentes dos clubes e dos responsáveis federativos apenas pudemos ver um generalizado coro de "assobios para o lado".
É neste caldo de cultura, é neste clima de leviandade, é neste estado de cegueira colectiva que se criam as condições para que mais incidentes deste tipo possam ocorrer.
Quem pode hoje, em consciência, dizer qual é o mal que o futebol cria?

"Não se deixem enganar!"

Paulo Bento deu hoje a habitual conferência de imprensa antes do jogo. Confessou que não esperava reforços e exortou, neste sentido, os Sportinguistas a "não se deixarem enganar." As palavras são textuais e foram pronunciadas a propósito da questão dos reforços dos outros clubes e da ausência de reforços no Sporting. Constituem certamente um comentário ao mal estar que causou o facto de não ter sido aproveitado o chamado "mercado de inverno" para corrigir o muito que há a corrigir neste modelo desportivo que é hoje o do Sporting.
Ó Paulo Bento, se me está a ouvir, preste atenção porque lhe vou revelar um segredo! Não tenha receio, os Sportinguistas não se vão deixar enganar. A verdade, como aquela do algodão, não engana.
Ora veja lá você que hoje, nem de propósito, as notícias dão conta de que a IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol, os mesmos que classificam o Ricardo como o melhor guarda-redes português da actualidade e um dos sete do mundo!) publicou o ranking dos melhores clubes de sempre. O Barcelona (o tal da UNICEF nas camisolas) lidera. O melhor clube português é o FC Porto. Constam ainda da tabela aquela agremiação que tem sede ali à frente do Colombo (cujo nome, não sei se sabe, mas nunca consigo recordar) e... imagine você!, o Boavista.
Quanto ao Sporting... népias!
A gente sabe que este ranking é baseado em dados obtidos apenas a partir de 1991, e sabe também que estas coisas de estatísticas, factos e factóides, devem ser encaradas com distância (já o tinha dito a propósito do Ricardo). Mas, a verdade é que o Sporting já há muito empalideceu e os factos revelados pela IFFHS se limitam a dar forma de tabela a um facto que todos sentimos: a "grandeza" do Sporting é uma ficção, um toque de realidade virtual, que só a nossa inesgotável generosidade tem permitido alimentar. Sabemos o lugar que ocupamos.
Mas, ó Paulo Bento, nós sabemos também o que fomos, o que são os nossos princípios fundadores, o quanto tudo isto pesa e o lodaçal em que acabámos por nos atolar. E sabemos que, por razões conhecidas, os nossos valores primeiros são diária e inexoravelmente tripudiados por um imparável cortejo de vaidades, oportunismos e vigarices que não parece ter fim.
Creio que os Sportinguistas atingiram o limite da sua paciência. E, neste sentido, o nosso amor ao Clube e ao futebol estão em fase de, digamos, reavaliação...
Ou seja: para que as suas palavras fossem mais precisas, você devia ter-nos recomendado antes: "Não se deixem enganar... mais!"
Embora, o aviso não fosse, de facto, necessário...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Eu, treinador de bancada, me confesso

Como eu compreendo Paulo Bento, tendo de servir a estratégia de quem lhe paga, resignado a ter de contar com o que há, em matéria de jogadores…! É com esta compreensão, e porque a vida continua apesar das asneiras dos dirigentes no que respeita aos reforços, que também eu continuo a tentar fazer a análise da equipa, no sentido de aproveitar a matéria humana existente da melhor maneira possível.
Paulo Bento é adepto do princípio de que as equipas se constroem de trás para a frente: fundamental é consolidar a defesa e partir daí para a edificação da equipa. Este princípio conseguiu ele implementar no Sporting. De facto a defesa do Sporting tem sido o sector mais estável da equipa, mau grado todos os altos e baixos que esta tem atravessado; na primeira Liga só o Porto tem menos golos sofridos (9, para 10 nossos).
Um dos responsáveis é o guarda-redes Ricardo; como Master Lizard escreveu, “é o melhor português nesta posição”. Se quiserem saber porquê vejam a minha análise aqui.
Mas muito do relativo êxito defensivo se deve à estabilidade dos dois centrais. Tonel ‘pegou de estaca’, entende-se bem com Polga e é útil nas bolas paradas e cruzamentos, em que consegue muitas jogadas de perigo e alguns golos. Polga está a fazer a sua melhor época desde que está no Sporting, melhorou muito o seu jogo posicional e corrigiu a sua tendência para fazer faltas estúpidas (no jogo com o Boavista, em que na minha opinião foi o melhor elemento do Sporting, fez 7 recuperações, 16 cortes, 2 passes em profundidade e apenas 1 falta).
Além do bom jogo dos centrais, o referido êxito deve-se também à consistência que confere o bom jogo posicional e a experiência de Caneira. Um índice da importância que ele tem na consistência defensiva da equipa mede-se pelos golos que a mesma sofre com ele em campo – 7 em 1250’ – e sem ele – 11 em 950’. Só o outro lateral, nos últimos jogos Tello, continua a demonstrar grande falta de jeito para defender, cometendo disparates próprios de quem não é talhado para o lugar. Querendo vê-lo na equipa, quero-o o mais longe possível da nossa área, para ver se evitamos precipitações parvas do género do penalty que ele cometeu (e do ‘quase penalty’ sobre Linz): no vértice esquerdo do meio-campo, pois. Deste modo Caneira voltaria ao lado esquerdo da defesa e entraria Abel para a direita da defesa. Apesar de ter sido uma mais-valia na segunda parte da época passada, Abel não tem sido escolha do treinador. É das opções que mais me custam a compreender e gostava que PB lhe desse oportunidade de jogar alguns jogos seguidos; ele sobe com a-propósito e centra razoavelmente. E como o Sporting precisa de laterais que subam!
A questão do médio defensivo já aqui a analisei, recaindo a minha escolha em Miguel Veloso, pois ele é o jogador que, nesta posição, tem o jogo mais alegre e disponibilidade para integrar acções atacantes embora PB afirme que o seu lugar “natural” é a central.
Nani, apesar de continuar a ter a tendência de querer resolver tudo sozinho, tem vindo a melhorar. Carlos Martins, de 24 anos, é um bom exemplo para Nani, de 20: ser capaz de jogar muito bem e ter talento não chega para ser futebolista de alto nível. Quaresma, bem orientado por Adriaanse e agora por Jesualdo, progrediu imenso nos últimos anos, e o facto de ter começado a jogar para o colectivo não o fez perder (antes potenciou) a sua personalidade e talento como jogador de excepção. Como a Cristiano Ronaldo (que Ferguson na época passada nem sempre punha a jogar apesar de saber que ele lhe podia resolver os jogos) também a Nani, quanto a mim dum modo geral bem ‘gerido’ por PB, tem feito bem não ser sempre titular. É o nosso melhor elemento para o vértice direito do losango do meio-campo. Para o vértice esquerdo penso que, presentemente, o melhor jogador que temos é Tello. Este tem vindo a fazer a melhor época desde que está no Sporting, de longe. Não é jogador para fazer grandes infiltrações na área ou para a linha de fundo; mas é excelente a fazer cruzamentos de trás para a frente, como o que pôs a bola com precisão na cabeça de Liedson para o nosso golo contra o Boavista. E remata bem de fora da área, por vezes.
Para estabilização do jogo da equipa e aquisição de rotinas impõe-se a continuidade do posicionamento de Moutinho no vértice superior do losango (médio-centro), prescindindo de Romagnoli (que continua a não justificar a contratação). Sobre Moutinho já escrevi o suficiente aqui e aqui; algum do menor rendimento da equipa reside na baixa de forma deste excelente jogador (no jogo com o Boavista jogou em esforço, com complicações gastro-intestinais).
Quanto ao ataque, estou farto de Buenos e Alecs. Apesar de continuar a demonstrar ainda imaturidade, justifica-se a aposta em Djaló ao lado de Liedson, quanto mais não seja para lhe ir dando experiência, ele que é uma das esperanças do Sporting para o futuro próximo. Sendo um jogador muito veloz, tem também aquela alegria de jogar que é própria dos jovens que querem triunfar. Quanto a Liedson, a sua prestação é sempre útil, já que, mesmo quando rende menos, é sempre um elemento que funciona bem na pressão atacante, um dos princípios de jogo deste Sporting, recuperando a bola ou obrigando os adversários a errar. Mas o desempenho ofensivo não tem sido o melhor esta época, embora venha a melhorar, pois já marca golos. O seu rendimento em termos ofensivos depende muito da quantidade de jogo que lhe chega e da maneira como este lhe chega. Mas, quanto a mim, não tem a ver com o facto de o modelo de jogo implementado por PB (aliás na sequência dos anteriores treinadores) o obrigar por vezes a derivar para as zonas laterais do terreno. Este, sendo um dos mecanismos do modelo adoptado por PB, é também o modo natural de Liedson jogar.
É esta a minha equipa.

Cantar as Janeiras

Fechou a trinta e um de Janeiro o chamado mercado de transferências de inverno. O Sporting, como é sabido, aos costumes disse nada. Mais grave do que isso, perante a gritante falta de soluções e a clara ineficácia revelada pelo modelo desportivo proposto pela equipa directiva e implementada pela equipa técnica, o presidente vem dizer no site do Clube que o problema é de escolha.
Ora, como fica amplamente demonstrado pelo revelador post anterior, não há escolha.
O canto das Janeiras no Sporting parece afinal ser um canto do cisne...
A estratégia desta direcção revelou-se --no seguimento do que se tem aliás verificado com as estratégias seguidas sucessivamente por esta linha dinástica, que tomou conta do Sporting desde há cerca de 12 anos-- um fracasso TOTAL! Em toda a linha.
Não conseguiram objectivamente resolver nenhum problema do Clube, quer estejamos a falar no plano da conjuntura, quer no estrutural. Pelo contrário: todos os problemas, actuais e passados do Sporting se agravaram nestes últimos 12 anos. E no caso particular da presente direcção a situação é mais grave porque não há, nem vai haver um brilharete qualquer desportivo para disfarçar... O que se fez, e que alguns chamam "êxito", foi minorar os efeitos da carga de porrada que temos levado desde há 12 anos, em resultado de um projecto mal enjorcado e pior implementado que deixa o Sporting à beira de extinção.
Tudo isto vem colocar na ordem do dia a questão, que ainda não vi debatida, da eficácia da solução SAD para resolver os crónicos problemas do Sporting. Quando a SAD nos foi proposta, as vozes que se levantaram contra esta solução não se revelaram suficientes (ou falaram de forma demasiado tímida...) para travar a implementação deste erro brutal. Erro que nos custou mais de dez anos de atraso na resolução dos problemas do Clube.
A solução SAD revelou-se um falhanço total, incapaz de dar resposta aos reais problemas do Clube. Mais grave: permitiu a instalação nos centros de decisão do Clube de gente que nada tem a ver com os ideais do Sporting e até de gente que não tem nada a ver com o Sporting.
O problema reside pois na SAD. Que tem de ser extinta para dar lugar a um Sporting CLUBE de Portugal renovado, saneado e asseado.
Não serão nunca os accionistas da SAD que poderão resolver os problemas do Sporting. Muito menos os seus credores. O Sporting é uma associação de ideais, constituida por sócios com ideais. E é esta gente, são estes sócios do Sporting, os únicos (sublinho, os únicos!) que podem, legitimamente, protagonizar a mudança de rumo e a correcção dos erros passados e actuais.
Temos, pois, de lutar pelo resgate e devolução do Clube aos seus legítimos proprietários, pelo fim deste monumental logro que é a SAD e por um novo Sporting, na linha das suas origens.