quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

SPORTING CLUBE DE PORTUGAL

Não é sem uma ponta de emoção que leio o último post. Os Sportinguistas deviam refletir seriamente sobre ele.
Duas palavras apenas.
Em primeiro lugar, para aqueles que julgam, porventura, que o retrato do Sporting aqui traçado é um retrato a sépia, que a realidade hoje é a cores e mete píxeles, para aqueles que se contentam com o "travesti" de instituição maior que é o Sporting hoje, para aqueles que se contentam com os resultados do Clube, eu lanço o desafio: assumam-se! Paguem o preço justo (financeiro e moral) pelo que entendem que são os princípios do seu "sportinguismo", paguem as derrotas ou saiam do Clube!
Em segundo lugar, aos engenheiros e arquitectos deste descalabro que é o Sporting Clube de Portugal hoje, a todos os que contribuíram para que o Clube chegasse a este lastimável estado de coisas, que só estão no Clube para se servirem dele, digo: vão-se embora! Não nos enganem mais! O vosso "sportinguismo" é uma provada mentira!
Enquanto continuo a aguardar pela posição de alguns Sportinguistas históricos (que me merecem respeito e que há muito deviam ter manifestado a sua opinião sobre o rumo do Clube), eu, por mim, fico à espera o tempo que for preciso para ver os actuais dirigentes a milhas. Paciência não me falta.

COMPRAR MELÕES EM JANEIRO

A crise não é de agora. Vem desde a construção do Estádio de Alvalade e da assunção, pelos dirigentes sportinguistas, da filosofia irresponsável de gastar fortunas a jogar na lotaria da contratação de jogadores e treinadores na esperança de se ganharem campeonatos de futebol.
Há 45 anos escrevia eu no Jornal do Sporting, em tempos de censura:

Têm sido acusados os nossos clubes desportivos de desviarem a atenção da juventude dos problemas-base que deveriam preocupá-la, sem nada lhe dar em troca senão uma errada noção do Desporto. É chegada a altura dos clubes se redimirem da ponta de verdade que houver em tal acusação e oferecerem ao maior número possível de moços da nossa terra a oportunidade de serem mais “sadios, mais santos e mais sábios”.
Tem o Sporting obrigação de estar na vanguarda desse movimento de regeneração, que é inadiável.
Temos gasto milhares de contos com futebolistas profissionais e seus treinadores, não se pode, honestamente, dizer que tenha merecido a pena tal esbanjar de dinheiro. Entretanto, a juventude portuguesa continua a amolecer, em casa, nos cinemas, nas tabernas, nos cafés, sem que haja coragem de gastar no seu enrijamento metade do dinheiro que se tem esbanjado com a miragem das vacas gordas futebolistas. Aperta o coração o confronto entre o número e o valor dos atletas portugueses e os dos atletas da maioria dos outros países. Nada valemos no mundo do desporto e nada continuaremos a valer se não houver a coragem de trilhar novos caminhos.
Estamos numa encruzilhada.
Para onde vamos? Reacender a chama de um sportinguismo sadio, ou transformar o Clube numa sociedade comercial de irresponsabilidade ilimitada?
Procurar educar desportivamente os sócios menos evoluídos, ou contaminá-los de uma clubite apaixonada, cega e estúpida?
Criar atletas e acarinhá-los, divulgar o desporto, ajudar com todo o nosso coração o reerguer de um Povo que já ditou leis no mundo, ou continuar gastando criminosamente centenas de contos com oportunistas?
A todos os sportinguistas deve caber uma parte da responsabilidade na escolha do caminho.
(...)
Desde a inauguração do nosso Estádio que vimos assistindo a cíclicas explosões de mau-humor colectivo. Talvez mereça a pena procurar as suas causas.
O “Monumento à grandeza e glória do Sporting”, se, tecnicamente, como obra de engenharia e arquitectura, foi uma vitória que ainda nos enche de alegria, sob o ponto de vista económico, talvez por ter sido sonhado excessivamente com o coração, tem sido uma pesadíssima cruz.
Logo após a sua inauguração foi preciso procurar, desesperadamente, uma enorme fonte de receita no futebol. Enveredou-se pelo caminho de querer melhorar as equipas jogando na lotaria dos ases famosos e dos treinadores propagandeados e os resultados foram desastrosos.
Os sócios vendo o seu dinheiro tão prodigamente gasto, e talvez com uma ponta de mal disfarçado despeito por não poderem ganhar a vida tão facilmente como os novos treinadores ou alguns dos jogadores de futebol, ficaram naturalmente predispostos a críticas azedas e manifestações hostis.
Os jogadores e treinadores, quando esqueciam as questiúnculas entre si, sentiam-se desamparados e incapazes de corresponder ao que todos lhe exigiam.
Os dirigentes, beliscados, por vezes injustamente, no seu amor-próprio de sportinguistas e amadores, não aceitaram de bom grado as críticas e procuraram ignorar as vozes discordantes que vinham da plebe.


Hoje o que mudou?
Não há censura oficializada, mas os jornais manipulam a opinião pública em função dos seus interesses comerciais.
Já não se gastam milhares de contos com jogadores de futebol porque se “compram” e sustentam por milhões.
As contas do Clube são aprovadas por uma só centena dos 30 mil sócios.
Os sócios continuam a assobiar quem menos culpa tem no estado a que o Clube chegou.
Os dirigentes, bem os dirigentes não creio que se sintam beliscados no seu amor-próprio de sportinguistas até porque se pagam bem pagos.
Mal empregado 25 de Abril !

António M. Coelho de Carvalho (Leoscorp)