terça-feira, 24 de abril de 2007

Venenos 19

A clínica da Luz

A competência desta clínica ficou demonstrada com o caso da operação a Eusébio. Black Mamba teve acesso a fontes geralmente bem informadas que nos referiram que o lançamento da clínica na comunicação social estava para ser feito através de uma espectacular operação à válvula tricúspide de Zé dos Anzóis, a qual só cuspia duas vezes em vez das três que é de regra. Mas o assessor de imprensa da clínica teve o rasgo de dizer que a coisa não ia lá com um qualquer Zé dos Anzóis e que era crucial arranjar um colunável. Pensaram logo no Coluna, mas não se sabia de qualquer limitação física do ex-jogador (na verdade nem se sabia do próprio ex-jogador). Palavra puxa palavra, alguém se lembrou do Eusébio. Estão a ver: clínica da Luz, Eusébio… tinha tudo a ver. Mas que se conhecesse o Eusébio apenas padecia de um problema num joelho desde os tempos em que jogava futebol e era assistido no célebre Departamento Médico do Benfica. Na altura não havia controlo, mas que se saiba, a coisa nada teve a ver com doping, como no caso do Nuno Assis. Também não teve a ver com aselhice como no caso do Mantorras. Já teve mais a ver com o caso do Rui Costa; naquele tempo os contratos de jogos particulares do Benfica implicavam que o Eusébio jogasse, nem que fosse preso por arames. E os médicos, tumba, infiltrações e outras drogas para cima, que o homem tinha mesmo de jogar. E ficou coxo; talvez o Mantorras não o seja, mas o Eusébio é. (É muito amor continuar a ser benfiquista, depois de ser assim utilizado!)
O caso do joelho, manifestamente, não servia. Um dos médicos mais experientes teve uma ideia: “Oferecemos-lhe um check-up e, com a dedicação que ele manifesta pelo desporto (versão líquida), de certeza que se descobre alguma coisa em que pegar”.
Foi assim que a Eusébio foi detectado um problema cardiovascular. O trabalho dos assessores de imagem foi fenomenal: o caso foi abertura de telejornal em horário nobre (e também nos horários do clero e da plebe). Passou a mensagem de que Eusébio e a família hesitaram antes de aceitar a operação, mas o caso não estava tanto no how como no how much. E, claro, tudo acabou em benefício de ambas as partes envolvidas. Happy end.
Terminada a operação, vieram as luminárias da clínica aproveitar os seus minutos de glória para dizer o costume. Patati, patatá, isto e mais aquilo, e o Eusébio tem de mudar os seus hábitos alimentares: e uma coisa que tem de acabar é o consumo de charutos. Bem se tem o António Pedro Vasconcelos, do Clube dos Puros, fartado de dizer ao Eusébio, quando se encontram nos camarotes VIP do estádio da Luz que os charutos não são para comer, mas todos sabem o que custou ao Eusébio interiorizar a ideia de que o tremoço não era marisco…