segunda-feira, 20 de março de 2006

A alternativa

Uma das coisas que mais me tem irritado (confesso!, sou assim sanguíneo...) ouvir nos últimos tempos é a famosa questão da "alternativa". Aqui há uns tempos escrevi aqui no KL sobre o perfil que entendo (e entendo que os Sportinguistas entendem) deve ser o de um Presidente do SCP. Mas, quando falo em perfil de Presidente não quero necessariamente "fulanizar" esta questão. Quando pensamos neste cargo devemos ter em mente, mais as características do cargo e menos a pessoa ou pessoas que o possam exercer. Há muitas soluções possíveis para a Direcção do Sporting.
Esquecem-se os Sportinguistas, que falam em falta de alternativas, que o Sporting são eles próprios. Esquecem-se que a força mesmo do Sporting são eles próprios! Não posso admitir que se olhe para o Sporting, para o Estádio cheio ou para aquela Assembleia de 6a feira, para toda a energia que corre nestas alturas e se coloque o problema da falta de "alternativas".
Neste implorar por "alternativas" parece existir uma espécie de crença implícita que um qualquer D. Leo-Sebastião vai chegar e resolver. Que vai aparecer um salvador que irá, finalmente, tirar o Sporting desta situação crónica de insolvência em que se encontra mergulhado. Já vimos, repetidamente, o que resulta das crenças neste tipo de personagens.
A organização directiva definida estatutariamente é o espelho de um determinado tempo histórico, de um figurino e de uma determinada ideia de funcionamento do Clube. Mas, as coisas mudaram e mudam constantemente. O que se pretende hoje no Sporting é fazer adaptar as necessidades do Clube à estrutura dirigente e não adaptar a estrutura dirigente às necessidades do Clube. É um bocado como querer encaixar peças da Lego no Meccano (alguns lembram-se do Meccano, não?). Vai ser difícil que alguma vez o resultado seja satisfatório.
Tendo em conta a estrutura sociológica do Sporting e o que atrás fica dito, resulta claro que, de facto, só por sorte aparecerá um dirigente com características de tal modo abrangentes que possa harmonizar todas estas contradições.
O que noto nalguns que, mesmo estando contra o que se passa no Clube, temem a aparente falta de "alternativas" é uma grande passividade misturada com uma ainda maior dose de conformismo. Ora, o que necessitamos é de acção e criatividade. A presente organização do SCP não nasceu, nem de direito divino, nem por obra e graça do Espírito Santo (essa influência é mais recente...). Foi criada por homens! E qualquer outra que assegure o respeito pelos princípios do Clube e a sua gestão eficaz é válida e merece ser discutida.
O que impede os Sportinguistas de encontrar soluções dirigentes adequadas aos tempos que correm, modernas, criativas e mais eficientes? Porque teremos nós que escolher, ano após ano, sempre entre o mau e o menos mau?
Chorar passivamente por "alternativas" leva apenas à solução do "mal menor", que mais cedo ou mais tarde se transforma no "mal pior", como todos temos assistido, iniciando-se logo de seguida, de novo, o ciclo infernal da constestação. É triste. E cansativo...
As necessidades específicas de direcção do Sporting são claras. Se não houver porém uma única pessoa que corresponda ao perfil necessário para liderar um grupo que lhes dê resposta, há-de haver um conjunto de pessoas que consiga, em conjunto, garantir esse desiderato. Os Estatutos actuais, de resto, até asseguram essa solução.
Alternativas existem. E, seguramente, que uma discussão ampla sobre esta questão as fará emergir. Que haja coragem para discutir, pois, este assunto. O que temo é que essa coragem não exista...

Contas

Uma clarificação relativa ao post que escrevi anteriormente.
Ao propôr analisar a formação real do voto de 6a feira, o que pretendo, de facto, é analisar a realidade "real", perdoem-me o pleonasmo! Não a realidade virtual, que é aquela que toda a gente tem usado como bitola.
Ninguém sabe a quantos associados corresponde, de facto, a votação de 6a feira. Ninguém sabe a quantos sócios de facto corrrespondem aquelas percentagens de 64,54 % de votos a favor e 35,46 % contra. A votação parece-me (parece-me!, mas gostava de ter a certeza!) deturpada pelo método do número votos por número de anos de sócio. Ora, o que se passa é que ter 25 votos não transforma uma pessoa em 25 pessoas... Nem dá, sobretudo, ao Sporting 25 vezes mais "receita" em quotização, em bilheteira, em venda de camisolas, cachecóis, etc, etc!!
O que interessa, pois, saber é o que a maioria das pessoas pensa. Porque as soluções dependem deste apuramento.
Por outro lado, lembremo-lo, há uma esmagadora maioria de gente que nem sequer tem voto no Sporting... Só paga! E só dos seus bolsos pode vir qualquer esperança de alterar a situação das receitas do Sporting (a questão que verdadeiramente nos apoquenta). Os sócios do Sporting não chegam para o tirar da zona vermelha!!! Nem é credível que haja uma campanha de novos sócios que alguma vez venha alterar este estado de coisas. Talvez se os detentores de 25 votos passassem a pagar o privilégio com 25x o valor das quotas, 25x o preço dos bilhetes, ou 25x nos outros produtos, a situação se alterasse! Isso sim, seria um privilégio justo. Agora assim, no quadro deficitário actual, estamos, na minha óptica, perante um método cómodo e barato de deter um estatuto ilegítimo.
Há uma contradição profunda entre o propósito de fazer do SCP um clube abrangente, de aumentar as receitas e quebrar o ciclo deficitário crónico, por um lado, e, por outro, manter certos privilégios que transformam o Clube numa seita exclusiva manipulada por uma minoria. Não estou contra os exclusivismos. Mas, se os queremos teremos de os pagar!
Considero pois este privilégio ilegítimo, porque não ajuda a resolver os problemas com os quais estamos todos confrontados! Antes os agrava.
Há privilégios (que se traduziram nesta "sede de estabilidade" como, apropriadamente, o Raul referiu na sua análise) que estão a arruinar o clube... É preciso que os sócios tenham a noção que também podem fazer parte do problema... Claramente, a política de liderança Sportinguista não resultou porque se tivesse resultado não havia défice.
Desta forma, só vejo uma possibilidade de, no quadro desta "sede de estabilidade", resolver o problema: multiplicar as receitas potenciais pelo número de votos a que os sócios actualmente têm direito...
Ou então acabar com este privilégio e optar, em definitivo, pela solução "um sócio, um voto"!