quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

A terceira via

Não percebo, com toda a franqueza, o espanto que se gerou à volta das duas entrevistas que ontem foram publicadas no Record e na Bola. Nada do que Dias da Cunha ou João Rocha disseram é verdadeiramente novidade. Nos blogs e nas tertúlias Sportinguistas que por aí andam não se fala senão destas coisas há que tempos! O que estas entrevistas fizeram foi ilustrar ou contextualizar, se se quiser, factos que são de há muito sobejamente conhecidos. Abriram-se as portas do balneário, mas já todos tínhamos percebido porque é que a equipa estava a jogar mal...
Não, o problema do Sporting não são as modalidades, as vendas de património ou as guerras de galos.
O problema do Sporting hoje é o da sua unidade.
Descrevi há já algum tempo aqui as razões que, na minha óptica, conduziram a este problema. Estando, pois, nós confrontados com o problema da falta de unidade Sportinguista, resta-nos avaliar quem lutou e luta por ela, e quem contribui para a destruir. Por aqui se poderá inferir aquilo que o Sporting precisa hoje.
Há dois tipos de gente ligada ao Sporting Clube de Portugal. Há os Sportinguistas e os que se fingem Sportinguistas. Os Sportinguistas preservam a unidade. Têm valores. Não são de um clube. São do Sporting. Ser do Sporting não é uma coisa banal. Não é como escolher uma gravata ou um prato numa ementa de um restaurante. Ser do Sporting é a unidade!
Há, por outro lado, gente que, dizendo-se do Sporting pratica permanentemente o anti-sportinguismo. Sente-se na acção, no estilo, sente-se na vacuidade das ideias, no facilitismo, na obsessiva ânsia de protagonismo. Tudo isto são valores anti-sportinguistas. Mas, este anti-sportinguismo sente-se também na leviandade com que é encarada a destruição dos valores materiais e das ideias que representam o que é ser Sporting. O anti-sportinguismo vive paredes meias com o oportunismo e com a promiscuidade. Disfarça-se muitas vezes de "politicamente correcto". Mas, não tenhamos ilusões: é anti-sportinguismo. Ponto, parágrafo!
Nos últimos trinta anos, as sucessivas direcções do clube, umas integrando Sportinguistas, outras anti-sportinguistas, nalguns casos em alegre coabitação, levaram o clube à ruína. Nuns casos a derrocada fica-se a dever menos a uma qualquer falta de Sportinguismo e mais a uma clara falta de talento. Noutros casos a uma actuação de carácter manifestamente doloso. Não podemos premiar uns com a outorga de uma responsabilidade para o exercício da qual não estão necessariamente talhados e, no outro caso, penso muito sinceramente que o clube deveria proceder criminalmente contra os que o prejudicaram.

É claro que o Sporting Clube de Portugal atravessa um perído de grande instabilidade. O fim do Sporting é (como facilmente se adivinha pelas querelas destes últimos dias) uma realidade possível! Mas, não creio que tenha qualquer interesse saber hoje se, para resolver os seus problemas, o Sporting deve enveredar pela via das modalidades, pela via do futebol, pela via das referências desportivas ou pela via do serviço desportivo público. Todas estas vias são possíveis depois de cumprida a via única da unidade dos Sportinguistas e do respeito pelos valores primeiros do clube. O Sporting não começou como um clube campeão e multifacetado. O Sporting começou como um conjunto de ideais. Os êxitos e a implantação resultaram dos ideais e da sua aplicação quotidiana e rigorosa. O prestígio veio depois, resultou de tudo isto e foi-se consolidando, sem problemas, no passado, sem défices nem dissensões aparentes. Interessa pois hoje saber o que pode e como pode o Sporting ser, no quadro actual de dificuldades e limitações, um clube com valores e com grandeza, neste dealbar do século XXI. Já percebemos ao que conduzem os projectos miríficos, o marketing das portas e os conluios preversos. Nessa matéria devemos claramente dizer: basta!
São precisas alternativas. Alternativas imaginativas e eficazes, é certo, mas que garantam a unidade do Sporting, que façam a sua correcta gestão e que obedeçam ao seu quadro de valores. Nunca contra os seus valores! Precisamos de uma terceira via, mas esta via, perdoem-me o trocadilho, talvez fácil!, tem de ser VERDE! O que quero eu dizer com isto? Que não podemos deixar a liderança do Sporting nas mãos de jeitosos, levianos, apátridas desportivos, ou lacaios da “financieite”, sem outros valores que não sejam o de se servirem do clube que generosamente lhes abriu as portas.
O Sporting precisa de exigência, de renovação e de uma valente limpeza! E de quem garanta a unidade!!!

Há um último aspecto, lateral talvez, mas de importância crucial, que se prende com o estado actual do futebol português. Mesmo que resolva todos os seus problemas, o Sporting não se pode fechar numa redoma esperando atravessar, imune, sózinho e determinado apenas pelos seus princípios o enorme pantanal que é hoje o futebol português. A par do respeito pelos valores e do talento para gerir a causa Sportinguista que se exige da nova Direcção que vier a tomar conta do Sporting, precisamos de uma capacidade de intervenção e de protagonismo no contexto do futebol português. Quando falo em capacidade de intervenção e protagonismo não proponho, naturalmente, nenhuma espécie de “apito verde”. Refiro-me à capacidade de criar um ambiente futebolístico saudável no seio do qual possam florescer e coexistir os valores de cada clube que depois se confrontam no terreno desportivo. No passado, o Sporting ensaiou essa intervenção sem qualquer espécie de sucesso. É tempo de mudar o presente estado de coisas e de conseguir segregar os anti-corpos que permitam expelir a infecção de que o futebol português padece. E o Sporting tem de estar presente na primeira linha dessa luta.

Face a tudo isto, olhem agora para a Ordem de Trabalhos da próxima Assembleia Geral do dia 23. Observem a mesquinhez das propostas que nos são feitas, ao quase insulto que elas constituem e digam-me lá que outra via nos resta senão a de dar guia de marcha a estes corpos gerentes e a quem os apoiar...



Manifesto - Sporting uma História com Futuro

O futuro pode ser um regresso ao espírito do passado

Num artigo que li alertava-se para a eminente situação de insolvência do clube, com cerca de 320 milhões de activos para 250 a 300 milhões de passivo.
Vender meia dúzia de edifícios e encaixar 50 a 70 milhões de euros pode aliviar a corda no pescoço durante uns anos mas não resolve nenhum problema estrutural de fundo.
Pelo contrário, transforma o Estádio naquilo que já era o antigo recinto: um elefante branco que abre as portas de 15 em 15 dias durante 2 horas.
Estou com o Castaño Verde: quero um complexo que seja o encontro de todos os Sportinguistas e de todas as modalidades.
Quando eu era puto, ia-se a Alvalade para ver a bola e de caminho cada um papava mais um joguito de Hóquei ou Andebol ou Basket, consoante os gostos.
É disso que precisamos; não de um presidente cooptado rodeado por uma clique de supostos gestores profissionais vindos não se sabe de onde a ganharem fortunas apesar dos sinais absolutamente evidentes de incompetência e autismo.
Queixamo-nos de que o País precisa de revolucionar a sua Função Pública e a forma como presta os seus serviços aos Cidadãos. Não duvido que a tarefa seja ciclópica.
Pois o Sporting não conseguiu sequer por a Secretaria a funcionar em condições, veja-se bem a singularidade da competência de quem gere o Clube.
Não preciso de um presidente que assume não viver as modalidades e que afirma não ter vibrado com os triunfos do Carlos Lopes.
Quero um Sporting gerido por Sportinguistas em todos os sectores do Clube.
Quanto ao Soares Franco, não o queria nem para porteiro da minha amada Porta 4.
Se ele quiser ver a bola à borla, que se vá inscrever na Strong e apareça em Alvalade em regime de outsourcing com um colete fluorescente na rampa de acesso da Juve ao relvado.
A promoção de Soares Franco a presidente faz lembrar a anedota sobre a subida de Santana Lopes a Primeiro-Ministro: ninguém sabe como foi parar lá acima mas todos temos a obrigação de o ajudar a descer.

As entrevistas de hoje

Parece que afinal não estamos sós na crítica.
Até agora as maiores reservas à gestão do Clube têm sido expressas por gente anónima como nós que apenas dispõem da bloggosfera para expor as suas ideias.
Por acaso, ou tal vez não, nesta quarta-feira dia 15 de Fevereiro temos dois diários desportivos a publicar entrevistas a 2 notáveis com críticas à actual gestão.
N’A Bola, Dias da Cunha demarca-se do projecto de alienação imobiliária de Soares Franco e assume não o apoiar.
No Record, João Rocha acusa o Projecto Roquette de ter liquidado o Sporting, algo que aqui no KL tem sido escrito amiúde.
Costuma dizer-se que quando um barco vai ao fundo, os ratos são os primeiros a fugir; resta-nos desejar ardentemente que estas críticas vindas de quem pouco tem dito não sejam a concretização da supracitada metáfora.
Espero que seja apenas o despertar da Nação Sportinguista, num processo de consciencialização transversal que atravessa todos os sectores do clube.
Agrada-me pelo menos o fim da unicidade em torno das teses de continuidade que há anos imperam no clube, e a contestação das teses de Soares Franco como a única saída para a crise.
Vejo mais gente a apostar na ruptura e isso, como princípio, é saudável.

Festival de Cinema

No meio da desordem em que o clube se encontra, acordei hoje bem disposto. No âmbito do centenário o Sporting organizou um festival de cinema. Agora devíamos participar.....