sexta-feira, 4 de agosto de 2006

A subversão da concorrência (2)

(continuação)

Diz-se, no anterior escrito sob este título, que a disputa pela hegemonia do futebol português (quer dizer, a que se processa fora das quatro linhas) permaneceu, a partir de finais dos anos 70, no terreno da batota nas arbitragens.
Entretanto os clubes iam tentando junto dos poderes públicos locais obter fundos, bens ou privilégios. A vantagem, neste caso, sempre esteve do lado do FCP, com o Sporting, constantemente a fazer figura de patinho feio, tentando não ficar muito atrás do rival da mesma cidade. Este foi beneficiando do seu potencial em termos de votos em eleições e um dos seus principais beneméritos foi, curiosamente, alguém que se afirma sportinguista e até já foi presidente do Sporting: o famigerado Santana Lopes.
O regabofe maior chegou com o EURO 2004 e a “necessidade” de construção dos estádios. SLB, frustrado por não ver o padeiro há uma data de anos, prostrado por gestões internas de gamanço de proveitos, e na premência de ter de construir um estádio, tem a luminosa ideia de trocar perdões de dívidas por votos. A presidência de Manuel Vilarinho tem então a refinada lata de vir a público apoiar determinado partido político em eleições, em troca de serviços prestados. Assim tal e qual, na televisão, vi eu com estes dois que a terra há-de comer! Coisa que ainda hoje deve estar a servir de case study em aspirantes a ditadores de países do Terceiro Mundo e de inspiração a comediantes de stand up em todo o universo. Sobretudo porque o clube, de facto, ganhou um perdão de juros que lhe permitiu sobreviver sem ir à falência!
A disputa SLB/FCP centrava-se, pois, por esta altura, no campo da partilha de fatias dos nossos impostos e no campo da influência sobre as arbitragens. A hegemonia continuava a ser do FCP.
Com o fechar da torneira no que diz respeito aos fundos públicos decorrente da crise económica generalizada, a batota voltou a centrar-se nas arbitragens.
Consciente disto, a actual Direcção dos lampiões faz um tour de force original e contrata o Veiga. É que este andou a aprender com o inimigo como é que as coisas se fazem, pois foi unha com carne com PC e seus acólitos durante anos e anos, antes de se porem de candeias às avessas. Os dirigentes dos lampiões são tão básicos que não percebem que estão a jogar no campo do adversário e que, por mais que o Veiga saiba como fazê-las, a vitória assim só irá pender para um dos lados no mesmo dia em que se resolver a crise do Médio Oriente. Quer dizer, no dia de São Nunca, da parte da tarde.
É neste contexto que rebenta o escândalo “apito dourado”, de suspeição de envolvimento de dirigentes desportivos, sobretudo ligados de forma directa ou indirecta ao FCP e aos que lhe comem as migalhas, em processos de influência sobre as arbitragens. Houve detenções e interrogatórios a figuras de topo, no que parecia aos incautos prefigurar um escândalo de enormes proporções. Valentim Loureiro, escudado numa experiência de anos e anos de trafulhices (as mais antigas, ainda do tempo da tropa, vieram descritas, juntamente com os motivos por que foi perdoado, numa edição do Expresso de há uns anos atrás; nunca mais me esqueci) sem nunca sofrer consequências de maior (por exemplo, teve de sair da tropa, mas saiu rico), para lá de uns interrogatoriozitos e outras pequenas chatices, manteve sempre a calma. De facto, estamos em Portugal e quase que aposto que vai tudo acabar em águas de bacalhau.
Mas, cuidado, este Valentim é o mesmo que vem governando o “sistema” e que se candidata à presidência da AG da Liga com o beneplácito do outro Loureiro, candidato a presidente da Direcção.

(continua)