quinta-feira, 15 de maio de 2008

O “SISTEMA”, visto por um velho sportinguista

Em 1963, os Fins do Sporting Club de Portugal, segundo os Estatutos que ajudei a redigir eram:

Art.º 4 – O Sporting Club de Portugal visa o revigoramento da Raça e, com ele, o engrandecimento do desporto nacional, promovendo a prática das diversas modalidades de educação física e de todos os jogos desportivos. Pode também promover sessões culturais e criar escolas de finalidade social e cívica conducentes a uma melhor preparação intelectual e moral dos seus associados.

em 1996 passaram a ser:
Artigo 5.º
O SPORTING CLUBE DE PORTUGAL, tem como fins a educação física, o fomento e a prática do desporto, tanto na vertente da recreação como na de rendimento, as actividades culturais e quanto, nesse âmbito, possa concorrer para o engrandecimento do desporto e do País.

Artigo 6.º
1 – Com o objectivo de realização dos fins consignados no artigo anterior e de obter meios destinados à prossecução dos mesmos, o SPORTING CLUBE DE PORTUGAL pode fazer quanto seja adequado e permitido por lei, em benefício da actividade desportiva geral do Clube e em particular do futebol, designadamente:
a) promover, relativamente às suas equipas que participem em competições desportivas de natureza profissional, a constituição de sociedades desportivas e nelas participar;
b) exercer actividades comerciais sem incidência directamente desportiva;
c) participar em sociedades comerciais de responsabilidade limitada, ainda que reguladas por leis especiais;
d) tomar quaisquer outras participações, mesmo estáveis, e entrar em quaisquer associações com fins económicos, designadamente associações em participação ou consórcios;
e) apoiar e participar em quaisquer outras iniciativas e empreendimentos de carácter financeiro, incluindo jogos de fortuna ou azar de que tenha concessão oficial, nomeadamente o jogo do bingo;
f) criar e dotar fundações.

2 – Sem prejuízo das competências atribuídas por estes estatutos a outros órgãos, designadamente ao Conselho Directivo, o Clube só poderá tomar qualquer das iniciativas previstas no número anterior com base em deliberação favorável da Assembleia Geral, salvo quando9 estiverem em causa meras aplicações financeiras.

3 – Depende ainda de autorização ou aprovação da Assembleia Geral a alienação ou oneração de posições em sociedades, excepto se tiverem a natureza de meras aplicações financeiras.

O Sporting, na prática, transformou-se numa sociedade comercial ao que parece sem grandes resultados…
A criação das SAD’s tornou-se numa golpada de quem se quis aproveitar da paixão clubista para, à conta de uma propalada complexidade da gestão das SAD’s, criar uma série de tetas onde pessoas sem qualquer ligação afectiva aos Clubes, mamam a seu bel-prazer.
O “Sistema” é bem mais complexo do que as pequenas vigarices investigadas no Apito Final e no Apito Dourado. É alimentado, sub-repticiamente, por políticos, canais de televisão, jornais, representantes de jogadores, representantes de treinadores, dirigentes desportivos nacionais, e dirigentes da UEFA e da FIFA que se transformaram num “polvo” e se afadigam em nos fazer crer que o futebol é uma arte extremamente complicada que justifica o negócio e as fortunas que movimenta. Mentira, qualquer um de nós já terá jogado à bola. Todos nos sentimos capazes de opinar sobre o comportamento das equipas que vemos jogar. Em um ou dois meses poderíamos tirar um curso de treinador. Onde está a complexidade?
O que nos devia assustar não é o facto de haver árbitros que receberam prendas para beneficiar este ou aquele, o que nos devia assustar são as fortunas que “legalmente” são feitas à custa das transferências e ordenados de jogadores, das comissões recebidas, dos negócios à sombra dos direitos de transmissão dos desafios e da construção dos campos de futebol…
Só vejo uma hipótese de salvação para o Sporting. Tentar esclarecer a massa associativa de que o Clube não tem dinheiro para continuar a pagar o que paga aos rapazes que jogam à bola (o Pereirinha acha pouco os 6 mil contos que ganha por mês…) convencer os sócios de que é possível com a décima parte dos encargos, aproveitando o trabalho das escolas, criar uma equipa que jogue melhor do que a actual, admitindo meia dúzia de anos de travessia do deserto (já estivemos muitos mais sem ver o padeiro…) repensar a estrutura e organização do futebol profissional e não ir na cantiga de deixar transferir Alcochete para a SAD.
Claro que, apesar dos meus 80 anos…, sei que isto é pura utopia. Por isso, volto a escrever, como fiz num artigo a criticar uma entrevista de FSF ao Expresso (que o Expresso, evidentemente, não publicou):
Adeus meu sonhado Sporting, requiescat in pace