segunda-feira, 31 de julho de 2006

O negócio dos talentos

Abandono um longo jejum, derivado de uma menor disponibilidade pessoal que espero seja em breve debelada, para vos falar da satisfação que me deu a nossa vitória sobre os lampiões e, já agora, a vitória no torneio do Guadiana.
Sou daqueles sportinguistas para quem o rival número um, a longa distância de todos os outros, é aquele clube que tem o estádio em frente ao Colombo. Bem, para facilitar o entendimento entre nós, e para não estar sempre a escrever “clube que tem o estádio em frente ao Colombo” ou, na versão mais reduzida “clube frente ao Colombo”, utilizarei apenas as iniciais desta última expressão, ou seja CFC que, como se sabe, é aquele produto que é responsável pelo buraco na camada de ozono.
Acho realmente que é um clube altamente poluente (um dia direi porquê) e, por essas e por outras, o pó que lhe tenho supera, em muito, sentimentos tão nobres como por exemplo o patriotismo. Se estiver a jogar uma equipa portuguesa contra outra estrangeira, normalmente torço pela portuguesa. Consigo fazê-lo, por vezes mesmo em relação ao Porto. Só não o consigo em relação ao CFC. Desculpem os Perestrelos vivos e a memória do morto, mas comigo é assim: estando aquelas camisolas vermelhas em campo, eu sou contra. Sempre. Até me esqueço da pontuação portuguesa que dá mais chances de entrada nas competições nos anos a seguir.
É por isso que, com esses gabirus, até os jogos a feijões me enchem o ego, sobretudo, como foi o caso, quando eles apanham uma abada de três secos.
Pronto, já desabafei. Só falta dizer, antes de reflectir sobre a nossa equipa, a propósito do torneio do Guadiana, que a coisa é de tal maneira que o que eu mais lhes desejo é que eles mantenham a saúde suficiente para continuarem a ser o meu rival de estimação. Nunca ficaria contente se eles descessem à Liga de Honra, porque assim perderiam o seu lugar de nosso rival principal e o campeonato perderia algum do seu sal (bem, por um anito ou dois, até que não me oporia, e, se estivéssemos em Itália, ninguém me garante que tal não teria já acontecido). Não me estou a ver eleger como principal rival outro clube qualquer, nem mesmo o Porto, apesar de concordar que, em matéria de poluição, este não tem nada a aprender com aquele (antes pelo contrário, desde o advento do PC).
O CFC começou, pois, este ano a dar-nos alegrias. A primeira foi a escolha do treinador, o qual, como se sabe, é especialista em armar equipas com sistema de jogo invisível; deste ponto de vista o homem não desmerece, neste início de época, a avaliar pelas exibições do CFC no torneio. A segunda foi a da contratação dum jogador que não pode com uma gata pelo rabo para armador de jogo da equipa. Bem sei que é bom rapaz, foi um jogador de categoria e é lampião; mas não é isso que conta, infelizmente para eles, e nós só lhe temos a agradecer a perda de bola a meio-campo que proporcionou o início da goleada.
Finalmente, a terceira foi o jogo connosco. Não só pelo resultado, como sobretudo pela afirmação de novos e menos novos jovens talentos.
Que o Sporting é a melhor escola de formação de jogadores do país, isso ninguém discute. Basta ver que entre os 23 seleccionados para o mundial estavam 9 de formação leonina (contra 3 de somatório de Porto com CFC). O problema tem sido o do aproveitamento que se faz desses talentos: desses 9 só 1 ainda está no Sporting, e por empréstimo. Se isto correspondesse a proveitos, tudo bem; é claro que não temos capacidade financeira para manter um jogador de classe internacional nos nossos quadros durante toda a carreira. Mas o que acontece é que o nosso clube acumulou 120 milhões de euros de prejuízos durante os últimos 10 anos; o que, do ponto de vista do que agora analisamos (dos outros também), significa má gestão: vendeu-se antes de tempo (casos de Simão, Boa Morte, Cristiano Ronaldo, Quaresma), vendeu-se mal (Figo e Caneira renderam apenas a indemnização a título de formação), não se conseguiu rentabilizar em termos desportivos por falta de competência (casos de Miguel e Nuno Valente).
Isto tudo para dizer da satisfação que é ver o começo da afirmação de jovens como Yanick Djaló e Rony, a par das confirmações de Nani e João Moutinho e do desejo de que, a partir de agora (e é essa uma das promessas dos dirigentes recém-eleitos) eles não sejam transaccionados ao desbarato ou próximo disso, como tem acontecido.
Tendo em atenção que Manuel Fernandes, jogador ainda em formação, poderá vir a ser vendido a um clube secundário da Premiership, o Portsmouth, por qualquer coisa como 15 milhões (quase tanto como o que o Manchester nos pagou pelo Ronaldo), não nos cabe ser modestos nas exigências futuras e só deveremos vender depois de os jogadores se terem afirmado e amadurecido ao serviço do Sporting.