segunda-feira, 31 de julho de 2006

O negócio dos talentos

Abandono um longo jejum, derivado de uma menor disponibilidade pessoal que espero seja em breve debelada, para vos falar da satisfação que me deu a nossa vitória sobre os lampiões e, já agora, a vitória no torneio do Guadiana.
Sou daqueles sportinguistas para quem o rival número um, a longa distância de todos os outros, é aquele clube que tem o estádio em frente ao Colombo. Bem, para facilitar o entendimento entre nós, e para não estar sempre a escrever “clube que tem o estádio em frente ao Colombo” ou, na versão mais reduzida “clube frente ao Colombo”, utilizarei apenas as iniciais desta última expressão, ou seja CFC que, como se sabe, é aquele produto que é responsável pelo buraco na camada de ozono.
Acho realmente que é um clube altamente poluente (um dia direi porquê) e, por essas e por outras, o pó que lhe tenho supera, em muito, sentimentos tão nobres como por exemplo o patriotismo. Se estiver a jogar uma equipa portuguesa contra outra estrangeira, normalmente torço pela portuguesa. Consigo fazê-lo, por vezes mesmo em relação ao Porto. Só não o consigo em relação ao CFC. Desculpem os Perestrelos vivos e a memória do morto, mas comigo é assim: estando aquelas camisolas vermelhas em campo, eu sou contra. Sempre. Até me esqueço da pontuação portuguesa que dá mais chances de entrada nas competições nos anos a seguir.
É por isso que, com esses gabirus, até os jogos a feijões me enchem o ego, sobretudo, como foi o caso, quando eles apanham uma abada de três secos.
Pronto, já desabafei. Só falta dizer, antes de reflectir sobre a nossa equipa, a propósito do torneio do Guadiana, que a coisa é de tal maneira que o que eu mais lhes desejo é que eles mantenham a saúde suficiente para continuarem a ser o meu rival de estimação. Nunca ficaria contente se eles descessem à Liga de Honra, porque assim perderiam o seu lugar de nosso rival principal e o campeonato perderia algum do seu sal (bem, por um anito ou dois, até que não me oporia, e, se estivéssemos em Itália, ninguém me garante que tal não teria já acontecido). Não me estou a ver eleger como principal rival outro clube qualquer, nem mesmo o Porto, apesar de concordar que, em matéria de poluição, este não tem nada a aprender com aquele (antes pelo contrário, desde o advento do PC).
O CFC começou, pois, este ano a dar-nos alegrias. A primeira foi a escolha do treinador, o qual, como se sabe, é especialista em armar equipas com sistema de jogo invisível; deste ponto de vista o homem não desmerece, neste início de época, a avaliar pelas exibições do CFC no torneio. A segunda foi a da contratação dum jogador que não pode com uma gata pelo rabo para armador de jogo da equipa. Bem sei que é bom rapaz, foi um jogador de categoria e é lampião; mas não é isso que conta, infelizmente para eles, e nós só lhe temos a agradecer a perda de bola a meio-campo que proporcionou o início da goleada.
Finalmente, a terceira foi o jogo connosco. Não só pelo resultado, como sobretudo pela afirmação de novos e menos novos jovens talentos.
Que o Sporting é a melhor escola de formação de jogadores do país, isso ninguém discute. Basta ver que entre os 23 seleccionados para o mundial estavam 9 de formação leonina (contra 3 de somatório de Porto com CFC). O problema tem sido o do aproveitamento que se faz desses talentos: desses 9 só 1 ainda está no Sporting, e por empréstimo. Se isto correspondesse a proveitos, tudo bem; é claro que não temos capacidade financeira para manter um jogador de classe internacional nos nossos quadros durante toda a carreira. Mas o que acontece é que o nosso clube acumulou 120 milhões de euros de prejuízos durante os últimos 10 anos; o que, do ponto de vista do que agora analisamos (dos outros também), significa má gestão: vendeu-se antes de tempo (casos de Simão, Boa Morte, Cristiano Ronaldo, Quaresma), vendeu-se mal (Figo e Caneira renderam apenas a indemnização a título de formação), não se conseguiu rentabilizar em termos desportivos por falta de competência (casos de Miguel e Nuno Valente).
Isto tudo para dizer da satisfação que é ver o começo da afirmação de jovens como Yanick Djaló e Rony, a par das confirmações de Nani e João Moutinho e do desejo de que, a partir de agora (e é essa uma das promessas dos dirigentes recém-eleitos) eles não sejam transaccionados ao desbarato ou próximo disso, como tem acontecido.
Tendo em atenção que Manuel Fernandes, jogador ainda em formação, poderá vir a ser vendido a um clube secundário da Premiership, o Portsmouth, por qualquer coisa como 15 milhões (quase tanto como o que o Manchester nos pagou pelo Ronaldo), não nos cabe ser modestos nas exigências futuras e só deveremos vender depois de os jogadores se terem afirmado e amadurecido ao serviço do Sporting.

quinta-feira, 27 de julho de 2006

SCP 3- ????? 0

Ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah! ah!

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Vão lavar as mãos!

Acontecia quando era pequeno, antes das refeições, a mãe ou a avó avisarem: -"Vai lavar as mãos antes de sentar!"
Acontecia também, por vezes, que as mãos ficavam mal lavadas com a pressa, ou com a indiferença perante a importância da tarefa. Neste caso, lá vinha a sentença: "-Vais ter de as lavar de novo! Bem lavadas, desta vez..."
Ora, aqui há alguns dias assistimos a uma espécie de operação "Mãos Limpas" no futebol italiano. Agora há um aparente recuo relativamente a algumas das penas aplicadas.
Das duas uma: ou as penas originais foram demasiadamente severas e o "estrago" foi agora melhor avaliado, ou os recursos tinham afinal alguma legitimidade e havia, sob o ponto de vista processual, justificação para que tivessem sido afinal interpostos.
Ainda é cedo para avaliar como tudo vai ficar no futebol italiano depois deste tsunami... E as dúvidas serão ainda maiores se quisermos tentar perceber se o que se passou em Itália poderá vir a ter repercussões noutras latitudes...
Mas, se as mãos não ficaram bem lavadas devemos ser nós próprios, os adeptos do futebol, a gritar: "-Vão lavar as mãos de novo...! Bem lavadas, desta vez!"

terça-feira, 25 de julho de 2006

Paredes

Confesso que gostei do que vi da actuação do Paredes no Mundial. Lembro-me de me ter interrogado qual seria a razão pela qual o Porto teria desfeito o acordo que tinha com o jogador.
Ora, o Paredes, qualquer que venha a ser a sua prestação no Sporting e o papel que venha a desempenhar na equipa, já conquistou. As suas declarações de ontem revelam uma pessoa inteligente, serena, que sabe o que quer. A justificação para a escolha do número, então, deve ter deixado a bancada sul em êxtase!! Mas, volto a dizê-lo, até eu fui tocado pelo que Paredes afirmou.
Vamos então ver como será com a bola! Desejo-lhe tudo de bom.

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Moisés

Moisés, é sabido, foi o profeta a quem alegadamente foram entregues as Tábuas da Lei. Foi a ele também que terá cabido o papel de conduzir o povo escolhido através do Mar Vermelho. Com a ajuda divina, apartou as águas e lá foi ele com a malta toda atrás! O feito até mereceu um épico hollywoodesco dirigido por Cecil B. DeMille.
Este Moisés que nos calhou na rifa é algo mais prosaico. A merecer registo audio-visual seria nos "Apanhados"...
Mal aterrou no Sporting, foi-nos apresentado como um bom negócio. Vinha a custo zero, livre de encargos ou quaisquer outros ónus. Acabamos agora de saber que não estava afinal livre de encargos, nem veio a custo zero...
A gestão de rigor, competente, profissional, parece estar com salmonelas. E com o calor, já se sabe, isto é perigoso!
Não há explicação possível para esta banhada. Ou melhor: explicação houve, mas não colhe. Escolham outra e que seja verosímil, simples e clara. Tudo, portanto, ao contrário do que nos foi hoje transmitido pelo Vogal da Sporting SAD...

domingo, 23 de julho de 2006

A "verdade" desportiva

Há expressões sagradas, espécie de "arma final" de que toda a gente se serve quando quer justificar uma determinada posição e todos os outros argumentos falharam. Acontece que à força de serem banalisadas, estas expressões acabam por se transformar naquilo que se convencionou chamar clichés... A expressão verdade desportiva é uma dessas que se usa quando já mais nada funciona. Ora, a propósito desta expressão, li há dias uma notícia que me deixou inquieto...
Em Espanha prepara-se legislação que permitirá a qualquer clube comprar a posição de outro no campeonato. Imaginem então que eu tenho umas massas, quero criar um clube novo e entrar em competição. Nada mais fácil quando se tem dinheiro. Imaginem agora que ainda me sobrou muita massa. Neste novo quadro legislativo, em vez de começar pelo escalão mais baixo da competição, por exemplo, com essa massa toda eu poderia então abordar um clube do escalão superior e "comprar" a posição deste. O clube vendedor passaria assim a competir no escalão mais baixo e o novo clube "subiria" directamente de escalão.
Esta legislação, se levada até às últimas consequências, permite imaginar outros cenários possíveis que não deixam de causar alguma angústia...
Em última análise, presumo, se eu tiver mesmo muito dinheiro o meu clube nunca correrá o risco de descer de divisão! Se ficar em lugares de descida asseguro a manutenção com mais uns cheques. E se tiver mais dinheiro que todos os outros o título estará sempre garantido. Não é preciso jogar à bola, nem sequer dourar nenhum apito! Basta ter um bom gestor de conta...
Em tempos de pelintrice e em hora de aperto acontecia por vezes um clube ganhar na secretaria (outra dessas expressões que há muito entrou em época de saldo...). No futuro, os clubes em aperto ganham na "câmara de compensação".
Por cá ouviram-se logo algumas vozes pressurosas a dizer que este seria um bom caminho para a salvação do futebol português porque permitiria tirar alguns clubes --que estão tesos, mas bem classificados-- da sua penosa situação financeira. Outros lembraram que a estrutura do futebol em Portugal é diferente e esta solução não seria facilmente implementável.
Esta legislação, se aprovada e levada, como referi, até às últimas consequências, significaria a legalização da trafulhice desportiva que ensombra muitas competições em diversos países.
Não admira que víssemos logo tanta gente manifestar-se a favor deste disparate... A expressão "verdade desportiva" está, hoje mais do que nunca, perto de se transformar num simples "cliché".

sexta-feira, 14 de julho de 2006

O exemplo de Itália II


Juventus, Lazio e Fiorentina foram mesmo condenadas à descida, perda de títulos conquistados e pontos. O AC Milan não desceu mas foi castigado com perda de pontos e não pode ir à Liga dos Campeões. Nas condições particulares do futebol italiano neste preciso momento, tudo isto mais parece um terramoto!
Mas, é assim: o improvável acontece e... aconteceu!
Ficamos a aguardar cenas dos próximos capítulos e ficamos, sobretudo, a aguardar os ecos desta operação "mãos limpas" do futebol italiano...

(Foto Reuters/Christian Charisius)

Pedro Barbosa

O site do SPC acaba de anunciar que Pedro Barbosa vai assumir o cargo de director do futebol profissional do Sporting. Ora aqui está uma notícia que não pode deixar de me agradar. Ouvi o comentarista Pedro Barbosa na Sport TV durante o Mundial e gostei, mas prefiro, sinceramente, vê-lo assumir estas funções no Clube.

quinta-feira, 13 de julho de 2006

terça-feira, 11 de julho de 2006

FIFA, Mundial, Zidane & etc.

Os leitores mais atentos do KL (será que há outros?) terão notado que, praticamente, não falei do Mundial. Não havia, de facto, grande coisa para dizer. Portugal bateu-se em pé de igualdade com as principais potências do futebol mundial. O mesmo tipo de jogo, as mesmas exactas simulações, a mesma magreza de resultados, as mesmas manobras de bastidores, o mesmo mau perder e as mesmas desculpas de mau perdedor que outrora nos distinguiram, transformaram-se agora em armas a que recorreram as principais selecções e seus representantes. Com honrosas excepções, a verdade é esta: os grandes do futebol mundial não jogaram um boi e refugiaram-se na tática da manobra dilatória para mascarar as suas incapacidades!!
Já no que respeita o comportamento do público fomos miseravelmente batidos: exibimos e agitámos bandeirinhas, vestimos camisolas, despimos as roupas nas fontes públicas, reunimo-nos nas praças e rotundas, como os outros, mas falhámos estrondosamente num aspecto: não conseguimos acertar ou, sequer, dar um tiro num adepto de outra selecção que festejasse pacificamente uma vitória nas nossas ruas! Foi pena.
Mas, é no campo da indisciplina que me parece estarmos a perder virtudes mais rapidamente. Já fomos mesmo ultrapassados! E para isso contribui decisivamente o Zidane que com aquele toque de classe --certamente, pensado para coroar condignamente a sua brilhante carreira na selecção francesa-- nos dá um tiro fatal na nossa corrida para a conquista do galardão do unfair-play...
No geral, pois, a nossa participação no Mudial não se distinguiu substancialmente da das outras selecções.
A partir daqui, porém, começam-se a manifestar algumas pequenas e arreliadoras diferenças.
A FIFA apressou-se a aplicar a Zidane um castigo exemplar e sui generis atribuindo-lhe o prémio Adidas Bola de Ouro!!
Tudo isto me trouxe à lembrança a reacção que provocou aquele gesto quase infantil do João V. Pinto no Mundial 2002 da Coreia/Japão... Vejam as diferenças. Mão pesada para uns. Bolas de Ouro para outros... Fogueira para uns, sonoros cantos laudatórios para outros.
Zidane, não há dúvida, é um jogador fora de série. Então no jogo de cabeça não há como ele! No caso do João V. Pinto, também não há dúvida: aquilo era mesmo a reacção de um verdadeiro bandido! Estava-lhe no genes...
(Já agora, um pequeno aparte para recordar a forma canhestra como o Sporting tratou, na altura, este caso e assistiu a todas aquelas FIF(i)As...!)
A FIFA anuncia o Mundial de 2010 na África do Sul como "A Symbol of Hope"... Começa bem o Mundial 2010!

O exemplo de Itália

A esta hora ainda não se conhece o desfecho do processo que ameaça a despromoção de várias equipas de topo do futebol italiano e condenação de dirigentes, agentes e outras gentes. Os contornos deste caso, conhecidos até agora, deixam contudo antever que, inevitavelmente, algo se vai passar. É assim em Itália.
Quanto a Portugal, limitamo-nos a continuar a aguardar que o caso "Apito Dourado" seja proclamado como tendo oficialmente caído no esquecimento, i.e., que seja tudo arquivado, os responsáveis pelas investigações sejam castigados, até reformados compulsivamente, os arguidos, todos, sucessivamente ilibados e mesmo até louvados e condecorados no próximo Dia da Raça, que mais deputados se juntem, enfim, a alguns deles para mais uma grande almoçarada ou uma jantarada!!
Não sei, sequer, se (com medo, talvez, que alguém meta a boca no trombone...) haja tomates para condenar um exemplar da arraia miúda.
Para um observador externo, ingénuo, mas atento, com eu, uma de três conclusões é possível extrair de tudo isto: ou tudo o que se diz para aí é, afinal, mentira; ou, em Portugal, só há coragem para enfrentar carteiristas de 5ª categoria, previamente esterilizados; ou então a teia é tão complexa que ninguém se safa...
Mas, confesso, gostava de um dia ver um dos grandes ser mesmo condenado à descida de divisão e os seus responsáveis metidos no Tourel!!
Continuo (continuamos todos!), ansiosa e atentamente, a aguardar cenas dos próximos capítulos. Entretanto, contentemo-nos com o que se vai passar em Itália...

sexta-feira, 7 de julho de 2006

A relíquia

Já não me lembro qual foi o último jogo do Sporting nesse campeonato, nem interessa para o caso. O estádio estava cheio. A abarrotar. Estava calor e vivia-se no ar uma euforia contagiante. Era a “liberdade”. Estávamos em 74 e o estádio como um ovo. Uns meses antes tinha assistido ao vivo à famosa cena da ida de Marcello Caetano a Alvalade. Ouvira os aplausos sem perceber o que se passava. Naquele dia, a somar à leveza de espírito própria desses tempos que se seguiram ao 25 de Abril e ao enterro da ditadura, havia a alegria de um Sporting campeão. O que na altura não se podia supor, no entanto, era o deserto de vitórias que se lhe seguiriam. E de alguma maneira, a relação entre este facto e a queda do regime. No entanto, em Alvalade, algures na Primavera de 74, a multidão rejubilava e eu tinha 14 anos. Dos heróis da bola desse tempo lembro-me sobretudo do Vítor Damas, unanimemente admirado e amado pelas hostes. Lembro-me do Laranjeira, do Tomé, do Dinis. Mas o jogador que mais marcou esses tempos de glória era argentino e chamava-se Hector Yazalde. Segundo a minha análise da época, verde (por inerência) e imatura, o Chirola era o tipo de jogador que não me entusiasmava. Parecia que nem sabia jogar à bola. Mal se mexia, não marcava nem se desmarcava, não tinha grandes jogadas individuais, não sujava os calções. Enfim, a única coisa que o gajo fazia bem era marcar golos. E marcava muitos. Certo domingo assisti, com estes que a terra há-de comer, a um jogo que me ficou para sempre na memória. Oito a zero ao Montijo, se a dita não me falha. Era mesmo bater em defuntos (salvo seja, que hoje nem sei em que Divisão é que eles jogam) e o Chirola marcou seis. Seis golos seis. Na altura não se dava o devido valor ao golo. Hoje sei que por muitas fintas que se façam, por muitos rodopios e toques na bola que se consigam, nada pode ultrapassar a habilidade daqueles que possuem a intuição inata do golo. Quase sem ninguém dar por eles. E, inegavelmente, Yazalde era um desses. Naquele ano mágico de 1974, o Chirola marcou 46. Golos. Foi Bota de Ouro e recordista. Nasceu num dos bairros de lata dos subúrbios de Buenos Aires e veio marcar golos para Lisboa. Soube há uns anos que esse mesmo Chirola passou a titular da verdadeira equipa alviceleste. E tive saudades. Desses tempos e desses golos. Dos amigos com quem invadi pacificamente o relvado do velho Alvalade e com quem partilhei o resto de um dos bocadinhos que sobraram da camisola que ele vestiu no jogo dessa tarde e que guardei como troféu. Ao longo de muitos anos, fui estabelecendo com aquele pedaço de tecido sujo, verde e branco, uma relação de um afecto quase religioso. Da relíquia propriamente dita, e para minha nostalgia profunda, já foi perdido o rasto. Mas bem lá no fundo, ainda vou guardando essa memória. De um pedacinho de tecido rasgado, meio verde, meio branco, que pertenceu em tempos ao Hector Yazalde, que também conhecíamos como Chirola e que marcava golos que até enjoava. Como diria o poeta, raios partam a vida e quem lá ande...

quinta-feira, 6 de julho de 2006

CARTA A UMA FILHA “BANDEIRANTE”

Querida filha,
Quase fiquei orgulhoso com o teu romantismo… Lembrei-me dos tempos de menino em que no único campo relvado que então existia, antes da construção do Estádio Nacional, deixava cair lagrimitas ao escutar o hino nacional antes dos jogos internacionais.
Hoje não trago bandeiras no carro, nem as ponho à janela.
Os “chicos espertos” que depois do 25 de Abril se aproveitaram da nossa paixão pelo futebol para subirem a poleiros recheados de tachos, enriquecerem fraudulentamente ou esconderem a sua incapacidade para governar o País, mataram-me essa manifestação pueril do muito amor que tinha e tenho por este Portugal eternamente adiado.
Havia, já nessa altura, a ideia de que o futebol ajudava a perpetuar a ditadura do Estado Novo. Agora sei como era singelo, cândido e quase inofensivo esse aproveitamento.
Chega a ser obsceno o que se passa com a comunicação social, nomeadamente com os canais da televisão, que levam minutos infindáveis no início dos seus noticiários e fazem reportagens a relatar pormenores idiotas da “gloriosa missão na Alemanha”.
No entanto, passou quase despercebido que Maria João Pires tenha tido um enfarte, tenha sido operada e tenha sido distinguida com o Prémio Internacional Juan de Borbón, em Espanha…
Por todo o lado encontro esse afã de nos mergulharem num mar de enganos que nos torne ainda mais parvos e dóceis consumidores das patranhas que os senhores de Portugal nos queiram impingir.
Desde um livrinho à venda nos supermercados com o sugestivo título “Amo-te Portugal – a voz, o sentimento e as esperanças dos nossos heróis rumo ao Mundial 2006” à importância que os nossos deputados deram, oficialmente e sem pudor, ao “jogo da bola”, mudando o horário do seu pseudo trabalho para poderem ver o Portugal-México…
Escrevo-te depois do espectáculo triste que foi o Portugal-Holanda.
Os jogos deste Mundial continuam a mostrar, a quem não é cego e pode estabelecer comparações, que se joga hoje muito pior do que se jogava há 50 anos e que a única justificação para os escandalosos proventos pagos aos jogadores é a negociata que os ordenados e transferências permitem. E o mesmo se pode dizer do que se paga a treinadores/seleccionadores, que pouca ou nenhuma influência têm no que se passa em campo.
Tenho imensa pena de não poder mostrar-te como jogavam as equipas da minha meninice e juventude.
O “meu” Sporting, o Torino de Itália, o Honved da Hungria, o São Lorenzo de Almagro da Argentina, a equipa de Inglaterra, que deu 10 a 0 a Portugal !
Podes crer que não é só saudosismo. É mais revolta, pelo sentimento de impotência para mudar esta podridão em que caímos e receio de que os meu netos venham a julgar herois rapazes que dão pontapés numa bola em troco de fortunas e a pensar que o Deus, que terá construído a máquina maravilhosa que é o corpo humano e milhares de milhões de estrelas, possa interceder a favor desta ou daquela equipa de futebol.

PS – Este post scriptum é do Domingo depois do jogo com a Inglaterra. Reaccionário como de costume…
Continua-se a jogar mal. Scolari pode ser bom para motivar os jogadores e criar bom ambiente no balneário, mas ainda não me convenceu como treinador. Aliás o mesmo me sucede com Mourinho.
Nos rodapés das televisões e nas opiniões ouvidas repete-se que é preciso renovar o contrato com o Sr. Filipe Scolari. Quem mandará as mensagens e porquê? Que influência teve o treinador no resultado deste jogo? Ao longo das duas horas de passes e passinhos a mastigar o jogo, quantos remates fizemos à baliza inglesa? Nem na marcação das grandes penalidades fomos eficazes. Valeu a estrelinha de Ricardo, praticamente o único responsável pela passagem às meias-finais. Ou talvez nem ele. Porque ao ver a página 8 do Público e ao ouvir no telejornal a convicção religiosa do Sr. Gilberto Madaíl quase sou levado a acreditar que foi na realidade Nossa Senhora de Fátima quem salvou Portugal.
Seria uma obra de misericórdia a RTP transmitir a gravação do Portugal-Coreia do Mundial de 1966. Talvez assim vocês se convencessem de que tenho razão no meu azedume…

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Sporting, rigor e mais ou menos...

Não há nada como uma crise para nos alertar... Acabei de vir da Secretaria do Sporting.

Recebi há alguns dias a "Renovação de Lugares de Época - Época 2006/2007". Os preços indicados são: Liga € 330,00; Liga+Champions € 405,00. Prazo de pagamento até 31 de Agosto.

Mantive com o balconista o seguinte diálogo:

P- Qual vai ser o valor dos preços dos bilhetes para este lugar (mostrei-lhe o meu) na Liga e para a 1ª Fase da Champions?
R- Não lhe posso dizer, não sabemos, mas deve ser mais ou menos como o da última época!
P- Mais ou menos (já que estamos numa de + ou -) de dois jogos de "borla"?
R- Sim, deve ser!
P- Então se o prazo de pagamento é até dia 31 de Agosto, se eu pagar, mais ou menos, por esses dias, não tenho o benefício do jogo de apresentação e o inicio do campeonato, que até pode começar com o jogo em casa?
R- Sim, perde esse benefício ou então paga o(s) jogo(s) à parte!
P- (e conclusão final) Então é um benefício "mais ou menos"...?!
R- ?????????

Já agora, continuamos a pagar a 13ª quota para quê? Será por causa do Subsídio de Natal, ou vamos ter qualquer dia um brinde? Se renovarem o lugar, não se esqueçam de levar o recibo. É que pode haver "problemas" informáticos... Ou será que tudo não passa afinal de um problema de (má) gestão?

Abraço e boas férias

O esplendor do Sporting

O King Lizards está a crescer. Estamos a tentar introduzir algumas modificações que permitam cumprir o papel que nos propomos exercer de uma forma mais útil e actuante. A necessidade de manifestar a nossa presença de forma cada vez mais eficiente leva-me, desde há bastante tempo, a observar de um modo atento e continuado uma parte siginifcativa dos numerosos blogs do Sporting que por aí se vão publicando.
Quando olho para o seu número, para o empenho posto na sua produção, para a diversidade de opiniões, para dedicação e carinho posto na sua produção, para o brilho de alguns e para o fulgor, no geral, de toda esta actividade penso: falamos muitas vezes no Sporting, na sua grandeza e na sua tradição, mas raramente percebemos, de facto, o que tudo isto significa na prática.
Pois a grandeza do Sporting é isto: é esta dedicação, esta diversidade de opinões, esta vontade de participar, este talento posto, generosamente, ao serviço de uma causa apenas porque é gratificante estarmos juntos. É uma outra face da realidade do Sporting que acompanha a dimensão desportiva.
A grandeza de uma instituição mede-se, justamente, pela capacidade que tem de albergar e conseguir gerir toda esta diversidade de pontos de vista e de participações, todas estas vontades e personalidades. Todas diferentes, mas unidas num só corpo, exaltante, que parece ser, afinal, um dos sentimentos que o ser humano almeja e em grande parte o conduz. Vozes diferentes, unidas em torno de um conjunto de princípios únicos que estão na sua matriz e que constituem a cola que sempre segurou e segura todo este tecido. Se a esta cola se juntar um gota que seja de um qualquer diluente, todo este fulgor se transforma numa massa informe e este tecido maravilhoso desfaz-se.
O segredo de um grande Sporting, de um Sporting eternamente vivo, está pois na cola.
Aqui há uns meses o Clube mostrou que está profundamente dividido. Mostrou-o como nunca tinha acontecido antes na sua história. Os antecedentes e a análise da origem e das consequências desta divisão estão ainda por apurar. Mas o Sporting vai triunfar sobre tudo isto e os Sportinguistas hão-de encontrar a forma de se entenderem.
O que cola o Sporting?

terça-feira, 4 de julho de 2006

Novo membro

Devo confessar que (não estou a descriminar, não estou!!!) sinto uma particular satisfação por dar as boas vindas ao novo membro do KL, Leoscorp.
Muitos textos é o que lhe desejo...
Estamos a crescer!

sábado, 1 de julho de 2006

Ricardo

O Ricardo não tinha de provar que era a melhor solução para a Selecção. Foi sempre a clara, inequívoca e reiterada escolha de Scolari e isso deveria bastar.
Mas, para todos aqueles, patetas, que se mostraram sempre tão pressurosos em o enterrar (mesmo alguns Sportinguistas...) o jogo de hoje foi, certamente, um estaladão tão grande que a cara deles ainda deve estar a arder... (Ele já tinha dado um outro, sem luvas, mas não parece ter chegado!)
Fico particularmente satisfeito e registo-o aqui para que conste.


PS- Já agora, nem quero imaginar o trombil com que o Vitinha deve estar depois da exibição de hoje do Labreca...