quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Moutinho: o que joga sempre bem


Começo a análise que me proponho fazer aos nossos jogadores por aquele que presentemente mais admiro: João Moutinho.
Ele possui a versatilidade de poder jogar em qualquer das quatro posições do meio-campo. Já o provou, até no decorrer do mesmo jogo! Esta versatilidade cria um problema ao treinador: é que Moutinho não só tem aquela capacidade, como é o melhor do plantel em todas essas posições. Mas, na minha opinião, a posição em que mais rende é a médio-centro, ali no vértice do losango. Quem viu com atenção os jogos pela selecção de sub-23 contra a Rússia dificilmente terá dúvidas sobre isto. Também a recuperação de forma de Liedson e o seu regresso aos golos, se deve muito ao facto de ele ter ocupado essa posição ultimamente.
É um jogador que, apesar da sua juventude, apresenta uma invulgar maturidade, não só a nível técnico como de estrutura mental. Vi-o, no jogo contra a Académica, passar a bola e, de imediato, procurar o espaço vazio (nas alas ou na área), para aí se desmarcando para, sendo opção de passe, continuar em jogo. Também o vi recuar no terreno ocupando espaços, para ajudar a equipa no processo defensivo, com uma entrega total ao conjunto; e chamar a atenção de Nani, apontando-lhe o lugar que devia ocupar, em situações de perda da posse de bola.
Jogando, pois, no vértice atacante do losango, ele nunca perde a noção do colectivo, luta, corre, ocupa espaços, faz trocas posicionais com os companheiros, recua para defender, conduz a bola, cruza, faz o passe de ruptura quando é preciso, sofre faltas, leva porrada, levanta-se, e aí está de novo a cumprir as suas funções até à exaustão. E já vão uma data de dezenas de jogos seguidos naquele corpo franzino, mas resistente. Não terá a capacidade de recreação com a bola de um Cristiano Ronaldo, nem sequer de um Nani, mas tem uma capacidade técnica e uma disciplina táctica muito acima da média. É um jogador que gosta da bola, mas estou certo de que a bola também gosta dele.
Se se tratasse do Nani ou doutro jovem qualquer, eu não estaria a elogiá-lo desta maneira, sabido como, nos jovens, o excesso de elogios pode subir à cabeça e deitar tudo a perder. No caso dele, no entanto, dada a maturidade que demonstra, estou convencido de que não se corre o risco de ele borrar a pintura.
Moutinho é o nosso Scholes; não tem ainda a experiência nem a capacidade de remate do médio do Manchester, mas tem, como este, uma compreensão global do jogo, sabendo, a cada momento o que tem a fazer em prol da equipa.
Para mim ele é o MVP do futebol português do ano que agora acabou.
Faço minhas as palavras do orador anterior.