sábado, 6 de janeiro de 2007

Figo

Figo é um grande jogador e um ser humano cheio de qualidades. Ponto, parágrafo!
Talvez seja o jogador português que atingiu a maior notoriedade de sempre. Quando digo isto tenho plena consciência do peso destas palavras. Falar nestes termos de um personagem do mundo do futebol, em 2007, numa perspectiva histórica e numa perspectiva internacional, tem uma carga muito óbvia. A notoriedade de que Figo goza hoje resulta de uma carreira sem paralelo e de um prestígio e de uma aura que nenhum outro jogador português jamais foi capaz de alcançar. Figo é um símbolo sólido do desporto português.
Esta polémica que agora anda por aí sobre o mais que certo malogro de um possível fim de carreira de Figo no Sporting só pode dar vontade de rir. Ela revela, por um lado, aquele sentimento de dor de cotovelo que muitos portugueses continuam a cultivar com enlevo. Mas, vem provar, por outro lado, que alguns Sportinguistas têm do Clube uma visão, no mínimo, peculiar e memória curta. Ninguém parece lembrar-se dos insultos, daquela conferência de imprensa...
E já ninguém se lembra da forma como Figo foi, institucionalmente, tratado pelo Sporting. O senhor Cintra merecia um prémio Stromp só por isso...
O que poderá significar hoje, de facto, o Sporting para Figo?
Ao nível a que Figo está, o seu "sportinguismo" só se poderia evidenciar de uma forma: envolvendo-se ao mais alto nível na gestão do Clube e dando-lhe o élan que de todo lhe falta hoje. Para isso bastaria usar todo o enorme património (desportivo, institucional e, se calhar, até mesmo financeiro) que o seu valor gerou. Um património que nenhum outro jogador português conseguiu jamais juntar.
Fazer este alarido todo porque o Figo não vem acabar a sua carreira desportiva no Sporting, dando uns pontapés na bola para passar o tempo, é ridículo e injusto. Esquece o passado sombrio e os ressaltos que a sua passagem pelo Sporting teve, não faz jus ao significado que Figo tem para o Clube, ignora o potencial enorme que para este representa o seu nome, a sua presença e o seu enorme prestígio e, finalmente, apequena um seu possível contributo para ajudar a resolver os seus problemas, as suas enormes carências e deficiências.

O caso Carlos Martins



Carlos Martins (CM) é um futebolista que não consegue jogar um jogo inteiro com o mesmo ritmo. Está provado estatisticamente que, se ele entrou de início, a sua participação no jogo (medida em número de passes, de remates, de centros) se reduz a olhos vistos na segunda parte. É por isso que não joga nunca um jogo inteiro.
Será que isto acontece por incapacidade física estrutural? Não me parece. Antes o atribuiria a um processo mental, que o indisponibiliza para dar esforço a partir de determinado limiar. É conhecido o seu historial de lesões, muitas delas que dá para desconfiar se são reais ou psicossomáticas.
Incapaz, pois, de jogar um jogo inteiro, é natural que os treinadores o pretendam utilizar nas segundas partes, em que, entrando mais fresco, poderá fazer a diferença. Ora ultimamente o que tem acontecido é que CM entra a jogar o seu jogo pessoal e não o da equipa. Tal foi bem patente no jogo contra o Spartak. Quando entrou armou-se em salvador da pátria, tentando fazer tudo sozinho: recebia a bola, rodava e tinha 2 ou 3 adversários sobre ele; logo a perdia e se atirava para o chão reclamando falta de forma veemente, enquanto a jogada prosseguia e ele não estava lá para ajudar a defender. Ele é useiro e vezeiro neste tipo de atitude; às vezes falha um remate ou um passe e fica a dar murros na relva ou a olhar para o céu como quem diz ‘como é que eu falhei isto’ (o que o autojustifica de vir atrás a disputar a bola). Que contraste com por exemplo Liedson (já para não falar em Moutinho) que, quando perde a bola, logo luta na tentativa de a recuperar, perseguindo o adversário até à nossa área se for preciso! Aliás a participação defensiva de CM deixa muito a desejar, em todas as circunstâncias. O golo de Sweisensteiger em Alvalade ficou-se a dever a uma indecisa oposição ao remate por parte de… CM. Se quem estivesse naquela tarefa de cobertura fosse Moutinho não tinha sido golo.
CM não gosta de fazer trabalho defensivo. Naquela cabecinha deve estar implantada a convicção de que, se o fizer, isso lhe retira forças para distribuir jogo, atacar, rematar (aspectos em que ele, de facto, é bom… se jogar em equipa e não a seu bel-prazer). Em resumo: CM é bom se joga para o colectivo, mas, de um modo geral, é muito indisciplinado. Não só tacticamente; também pelos constantes protestos e fitas em que é pródigo e no que até arrasta um pouco a equipa.
Um treinador a sério não pode admitir que na sua equipa haja atitudes deste teor. Porque isso lhe vai tirar capacidade de ralhar com os outros, quando não são disciplinados tacticamente. Os jogadores de futebol só percebem a lógica dos castigos. Não obedeceste, ficas sem jogar, ou pelo menos não entras de início na próxima.
Há quem diga que se jogasse mais vezes podia solidificar as suas inegáveis qualidades? Talvez. Mas acho que CM não se pode queixar de falta de oportunidades, apesar de toda a sua indisciplina. Não é o treinador que lhe está a dar cabo da carreira; é a cabeça dele. Já não é o treinador que lhe pode conferir auto-estima ou confiança nas suas capacidades físicas (convencido de que é bom a jogar à bola está ele, de certeza). Do que ele precisa é de acompanhamento psiquiátrico. Digo isto muito a sério. Espero que o consigam convencer disto, porque, como se sabe, é uma prática a que ninguém pode ser obrigado. E quando digo que espero que isto aconteça é porque estou convencido de que Carlos Martins possui um enorme talento.