sexta-feira, 15 de junho de 2007

O (mau) pagador de promessas

O presidente do Sporting encontrou uma fórmula infalível para não ter de pagar as suas promessas... "Nenhum dos talentos do Sporting sai comigo como presidente," declarou solene em tempos, lembram-se? Saiu Nani. Agora fala-se de Moutinho. À cautela lá vai dizendo que, "João Moutinho não é para sair do Sporting. Como o próprio Nani, mas saiu porque existiu um clube que superou a cláusula de rescisão," afirmou ele enquanto, certamente, colocava com ar inocente o olhar em alvo sobre o tecto e lhe cresciam asinhas nas costas...
Não sei se percebem a lógica... A promessa está feita. Lapidar, grave e majestática. Mas eles lá vão saindo. Desta forma a culpa dos jogadores sairem é sempre dos clubes que cobrem a tal cláusula de rescisão.
Eu percebo que o Sporting pouco possa fazer para segurar muitos dos talentos que forma. Mas, afinal não é para isso que a Academia está aberta?
A pergunta que se impõe é esta: não teria sido melhor colocar as coisas claramente desde o princípio? Os jogadores saem quando têm de sair e o Sporting tem de ter a mais valia da sua actividade enquanto clube formador. Não adianta nada fazer este número ridículo e falso do presidente virtuoso.
Venda-os, mas venda-os bem, o que quer dizer, nas actuais circunstâncias, com embrulho de luxo, na altura própria e pelo máximo valor possível. Repito: com embrulho de luxo, na altura própria e pelo máximo valor possível!

A OPA sobre o Benfica

Todos os clubes profissionais portugueses, por maioria de razão os três grandes, têm graves problemas financeiros para resolver. O advento das SAD foi o anunciar do fim de um ciclo em que os clubes viviam à sombra das benesses, nem sempre equitativas, que os poderes públicos lhes distribuíam, com o dinheiro dos nossos impostos.
Mas as SAD também trouxeram consigo a possibilidade de os clubes fugirem ao controlo dos seus sócios, para passarem a ser propriedade de magnatas que neles queiram investir. Com o que isso pode acarretar de alteração do sentido de pertença a uma agremiação deste tipo. É que, por enquanto, a principal motivação dos associados é a paixão; se um dia o clube se transformar num simples negócio, a consequência pode ser a perda desse sal que dá vida ao clube e sentido à nossa pertença a ele. Da emoção passar-se-á para a crua e fria razão e tudo perderá piada.
Vem isto a propósito da OPA, segundo os dirigentes do Benfica citados pelo Jornal de Negócios "não hostil", lançada por Joe Berardo sobre o Benfica. Por agora o clube parece que irá defender-se, pois detém, em conjunto com a sua SGPS, mais de 50% do capital da SAD. Até quando? Se calhar até ao momento em que queira finalmente bater o FCP numa contratação e precise de dinheiro para isso...
Esta é uma lição que nós, sportinguistas devemos aprender e da qual não nos devemos esquecer, sobretudo quando o presidente do Sporting anda a propalar a necessidade de venda do capital da SAD para fazer face às dificuldades financeiras herdadas (umas por razões boas – aquisição de património: estádio e Academia – outras por razões más – as más gestões e as dívidas acumuladas).
Esta estratégia pode ser defensável até aos 50,1%, que daí não advirá mal ao mundo sportinguista. Temos de nos opor firmemente a que se ultrapasse essa fasquia.