quinta-feira, 31 de maio de 2007

Salto Mortal II

Falei de salto mortal no post anterior e o senhor presidente deu-nos o prazer de o executar mesmo à nossa frente, conforme previsto.
A conferência de imprensa de hoje foi um perfeito desastre. Há ocasiões, senhor presidente, em que é mesmo mais prudente estar quieto...
Primeira falácia: "o Sporting não pôs nenhum dos seus talentos à venda." A declaração, feita em tom compungido e quase beato, parece o abstract de um artigo sobre os anjos, a virtude e o reino dos céus da Wikipedia... Na realidade, trata-se de uma afirmação completamente oca, embora seja mistificadora. Claro que o Sporting não coloca jogadores à venda. Eu, de facto, nunca vi nenhum anúncio nos jornais dizendo: "Vende-se Nani! Como novo!" Não é assim que estas coisas se fazem, nem é assim que estes assuntos são tratados no futebol. Toda a gente sabe disso. Mas, lá que o jogador foi vendido antes de terminado o seu contrato e antes de assinar um novo, lá isso foi... Não poderia sair nunca de moto próprio. O Sporting, ou alguém por ele, se mexeu...
Segunda falácia: "a partir do final da próxima época Nani passaria a valer metade." Pois será, de facto, um problema... Mas, eu pergunto: que tipo de acordo existe entre o Sporting e Nani, que género de contratos são concebidos por estes crâneos, para que um seu activo veja o respectivo estatuto passar de forma tão inglória do oitenta para o oito? Como se pode justificar que um atleta entre para um clube, sedimente a sua posição nesse clube, se valorize no plano desportivo, aumente o seu valor de mercado e veja o seu valor patrimonial seguir o caminho exactamente inverso? Sinceramente, há aqui qualquer coisa que não bate certo...
Terceira falácia: "Assumi esse compromisso [de não colocar os talentos à venda] e mantenho..." Tendo em conta o caso vertente, as cambalhotas da actual administração chefiada por FSF e imaginando que o que liga os actuais atletas ao Clube são laços semelhantes aos que foram estabelecidos com o Nani, eu, pelo meu lado, estou completamente descansado e até vou dormir melhor hoje!
Tudo isto não passa de mais um episódio triste, que espelha, ele também, à sua maneira, a necessidade de se pôr cobro a esta gestão incompetente e inglória.

O salto mortal

A conversa do presidente da SAD do Sporting relativamente à formação e à saída dos talentos criados na Academia é de ir às lágrimas! Não sei se alguma vez repararam bem no estilo.
Será falta de jeito, será descaramento, será aquela tendência irreprimível desta casta que foi caldeada na política para tornar tudo obscuro, será o estilo esperado de um business man encartado. Seja o que for o resultado é sempre o mesmo: conversa soporífera para ir escondendo o óbvio até onde é possível, uma nota solta aqui e ali para baralhar, e, finalmente, o salto mortal (a imagem até vem a propósito...) que vem coroar todo este processo que conduz, exactamente, ao contrário daquilo que foi sendo dito durante uma data de tempo. Vão ver se não vai ser assim. Digo "vão ver" porque a esta hora ainda nos falta assistir ao salto mortal, i.e., à justificação que o senhor presidente nos virá dar sobre a saída do Nani. Mas estamos todos mortos por o ver...
Neste caso das transferências dos jovens oriundos da Academia, sabendo-se que elas estão já claramente decididas, vamos ouvindo sucessivamente juras de amor e declarações peremptórias (daquelas que o adepto gosta de ouvir, enquanto é ainda materialmente e tecnicamente impossível concretizar essas transferências) sobre a permanência desses talentos, depois vamos assisitindo à conversa sobre as renovações dos contratos (assina, não assina, está quase!, é para a semana...), depois vem o momento do paleio sobre as clásulas de rescisão (se os clubes interessados pagarem, não podemos fazer nada...) e, finalmente, lá vem o anúncio da evidência: o atleta à volta do qual foram sendo tecidos todos estes falsos cenários foi vendido ao clube x ou y.
Admito a inevitabilidade e a necessidade de contenção no caso deste tipo de negócios, mas não admito que me tratem como atrasado mental e, sobretudo, que os interesses financeiros e desportivos do Sporting sejam postos em causa.
No caso do Nani a questão parece clara: o Sporting não sai beneficiado, mais uma vez, de todo este processo. Há muito que o jogador jogava quando lhe apetecia e há muito que se percebia que a sua energia estava canalizada para outras latitudes. Por outro lado, um valor de transferência como este teria sido, seguramente, atingido com menos esforço e menos danos desportivos para o Clube se os métodos usados fossem mais transparentes e os interesses do Sporting fossem melhor e mais habilmente preservados. Se tivéssemos, enfim, outro estilo de gestão no Sporting.
Os Sportinguistas não podem estar orgulhosos deste negócio. Querem saber porquê? Comparem com a outra compra do Manchester... Como dizia um grande pensador da economia portuguesa "É só fazer as contas!"
É mais um jovem talento formado na Academia que, na minha opinião, nos causa mais um significativo prejuízo e parte antes do tempo, de forma frustrante e ineficaz. Mais um. Desejo-lhe tudo do melhor.