domingo, 19 de março de 2006

Quem perdeu a AG de 17 (2)

Uma citação para começar:

A Assembleia Geral do Sporting dez anos depois do ano zero

O Sporting realiza hoje uma Assembleia Geral à Benfica.
Ou seja, ao contrário do que aconteceu nos últimos dez anos, a unanimidade habitual dará lugar à argumentação demagógica, talvez até a alguns insultos vindos da bancada. Seja como for, há uma certeza: o Sporting pode ter um défice de tesouraria difícil de estancar e um passivo do tamanho do novo estádio, mas o apetite pelo controlo do clube mantém-se voraz. Falta dinheiro e faltam soluções, mas sobram candidatos, listas adversárias e ‘notáveis’ dispostos a vestir a camisola do clube. Ora, esse facto não é dispiciendo. Há dez anos, quando Sousa Cintra deixou o Sporting, José Roquette era o único empresário com vontade de pegar no clube. De um lado estava Roquette e a promessa de uma gestão profissional. Do outro, alguns sócios que pensavam que CMVM era uma equipa holandesa da segunda divisão. O conhecimento profundo do mercado de capitais e da vida empresarial era, de facto, o grande trunfo de Roquette. No entanto, uma década mais tarde os resultados ficaram muito aquém do prometido. O futebol continua deficitário, as modalidades amadoras são que são e as receitas extra-futebol não enchem a barriga de ninguém. Ou seja, o Sporting continua dependente – como todos os outros clubes – da benevolência dos governos e da venda de património para saldar dívidas e sobreviver. Tudo o resto que se diga é apenas luta pelo poder. Na verdade, hoje à noite não há grandes diferenças de projecto em discussão. Apenas de protagonistas.
(André Macedo com António José Gouveia e Mónica Silvares, in Diário Económico, 17/3).
Este artigo precede a AG, mas profetiza o que iria acontecer.
De facto, a maioria dos sportinguistas não está nada interessada, depois de ter atingido o status de ver o clube dirigido por quem tem "conhecimento profundo do mercado de capitais e da vida empresarial" em voltar à fase Sousa Cintra (ou à sua versão actual nos lampiões, o inefável LFV).
Por isso, de cada vez que, na AG, um conjunto de associados procurou obstruir a fala a um orador, houve dezenas de indecisos que decidiram votar a favor da proposta do CD. Isto apesar de que "o futebol continua deficitário, as modalidades amadoras são que são e as receitas extra-futebol não enchem a barriga de ninguém".
Agradar ao povo sportinguista, procurar o seu voto, não foi essa a preocupação de FSF. Isso é o que fazem os populistas, e FSF é tudo menos isso. Ele dirigiu-se ao eleitorado sedento de estabilidade, aquele que sentia um arrepio na espinha de cada vez que que se ouviram "alguns insultos vindos da bancada", com receio de que o poder caia na rua.
E são estas as preocupações de que fazem eco os jornais. Viram o título do "Público" sobre a AG? Sabendo-se que o título deve ser a frase chave da notícia, é sintomático que eles tenham escolhido este, depois da proposta ter perdido: "Soares Franco ovacionado de pé na AG".
Isto acontece porque, de facto, o CD não perdeu. Ou melhor, perdeu apenas uma batalha secundária; "mas o apetite pelo controlo do clube mantém-se voraz" e, sejam quais venham a ser os "protagonistas", a dinastia vai fazer os possíveis para se manter em funções.
É certo que – como foi referido em posts anteriores e em comentários a esses mesmos posts – nos demos conta, com satisfação, de que existe uma plêiade de associados jovens, com um discurso inteligente, vigoroso, informado e consciente, de oposição à actual clique dirigente do nosso clube.
Mas é preciso haver um líder. Um líder que una a um indefectível sportinguismo, boa capacidade de gestão e credibilidade junto da banca.
E não há muito tempo disponível até que ele apareça.

AG V (previously unreleased scenes...)

Ainda sobre a AG (e agora é mesmo para finalizar, porque este assunto já não tem mais interesse!) gostaria de deixar aqui apenas mais duas ideias.
Em primeiro lugar, a minha curiosidade em conhecer as percentagens reais da votação de 6a feira é imensa. Ou seja, o que teria acontecido se esta votação tivesse sido na base de "um sócio, um voto." Talvez esse dado nos forneça um perspectiva mais realista do que é o pensamento dos Sportinguistas hoje. E talvez o conhecimento dessa percentagem nos forneça pistas também sobre a origem do descontentamento dos sócios em relação ao que se passa no Sporting e abra uma perspectiva sobre o que vai ser o Sporting se determinados percursos não forem alterados...
Em segundo lugar, gostava de chamar a atenção para o facto de ter havido 556 votos contra, uma percentagem de cerca de 3% de abstenção. Mais uma vez, não sabemos qual é o carácter real desta percentagem, mas, se bem que não se afigure, de facto, legítimo incorporar este valor nos "nãos", ele representa ainda assim uma percentagem de gente que, em definitivo, não se reviu nos argumentos esgrimidos, ou que achou que o ponto que estava em discussão deveria ser tratado no contexto de eleições, ou que achou que o carácter provisório desta direcção não lhe dava legitimidade para abordar esta questão.
Em todo o caso, mais uma "nuance" a ter em conta para todos aqueles que tentam interpretar os resultados de 6a feira...

Quem perdeu a AG de 17 (1)

Bem, o que estava em discussão, constituindo aliás o ponto único da Ordem de Trabalhos, era a alienação do património não desportivo. Sob este ponto de vista quem saiu derrotado, embora à tangente, foi o Conselho Directivo (CD) do Sporting.
Mas, será que na AG de 17 se discutiu realmente a alienação do património não desportivo? Não, o campo em que, de facto, se terçaram armas, do princípio ao fim, foi o eleitoral e todas as intervenções se situaram na oposição ou não ao actual (interino) CD. Só houve uma excepção, já direi qual.
Ora deste ponto de vista quem ganhou foi o CD, pois obteve a maioria dos votos (mais de 64%) e quem perdeu foi a(s) oposição(ões). É chato para aqueles que só conseguem ver as coisas apaixonadamente, mas é assim.
Portanto, vendo as coisas com benevolência para o nosso campo e os dos outros que também se opõem a este CD, empatámos.
Logo, o CD também empatou; empatou connosco. Mas eles partem para o desempate com uma vantagem: neste momento têm 64% dos votantes do Sporting do seu lado.
O único perdedor foi Dias da Cunha. Curiosamente foi também o único que foi para ali discutir a alienação do património não desportivo e os sócios lá fizeram o frete de o ouvir na primeira intervenção, porque sabiam que ele estava contra o CD, mas nem tiveram paciência para ouvir a segunda. Ninguém estava interessado em discutir a alienação do património não desportivo; muito menos se quem se pronunciava sobre isso era um dos que tanto tinha contribuído, com anos de acumulação de prejuízos, para a calamitosa situação que provocou o levantar deste problema.
Mas o verdadeiro perdedor terá sido o nosso querido clube, o Sporting Clube de Portugal.
Isto se entretanto não se apresentar uma candidatura credível e competente para o dirigir.

Sumário dos próximos posts

À medida que for sendo possível tenciono escrever aqui proximamente sobre, entre outros, os seguintes temas:
- Porque é que estou desiludido com (algumas d)as velhas referências do clube...
- Porque é que, consequentemente, tenho esperança que as gerações mais novas consigam dar a volta a isto.
- Porque é que o Sporting precisa de um novo modelo organizativo.
- Porque é que não podemos, de forma alguma, esquecer os responsáveis pela situação actual do clube e que medidas vai ser necessário tomar para que esses responsáveis respondam perante os sócios.
- Porque é que acho que continuamos a não precisar de "alternativas", pelo menos aquelas que se perfilam no horizonte, e que outras soluções, que não passam por essas "alternativas" clássicas existem.
- Porque é que acho que existem alternativas aos bancos para solucionar os problemas do Sporting.
Considero estes temas (e outros, sobre os quais ainda não tenho todos os elementos alinhados, mas que seguramente incluirei nesta lista) essenciais para iniciar uma discussão séria sobre o futuro do Sporting.


Provoquemos a discussão!



POR UM SPORTING DOS SÓCIOS!

AG IV - The Final Episode

Qual é, em suma, a conclusão principal que se pode tirar desta AG?
Pois bem, deixem-me responder-lhes com uma adivinha...
Qual é coisa, qual é ela que constitui a solução para todos os problemas do Sporting Clube de Portugal?
Os sócios!
Simples, hein? Mas, quem se lembra disto quando deve?
Esforço... para incorporar os sócios na vida do Clube!
Dedicação... aos sócios!
Devoção... dos líderes aos sócios para...
Glória do Sporting!
Se estas verdades simples não forem seguidas daqui a não sei quanto tempo (mais mês, menos mês, mais ano, menos ano), estaremos todos outra vez a fazer um levantamento de rancho e a votar contra quem quer que seja que venha aí.
Sempre pronto a discutir as melhores soluções para a Glória do Sporting despeço-me, por agora...
ML