sábado, 24 de fevereiro de 2007

A vocação do Sporting

Recordo-me, e recordar-se-ão certamente aqueles que me lêem, de ouvir os dirigentes da linha féshion que actualmente assegura a contabilidade do Sporting defenderem, inflamados, a venda do património não desportivo argumentando que o Sporting não tinha vocação de gestor de centros comerciais. O argumento terá tocado muitos Sportinguistas que entre um Sporting, clube de enorme glória e grandeza desportiva e um Sporting mundano, "franchisado" da Mundicenter, optou pela primeira hipótese.
Aliviado de encargos e vendo estancada a hemorragia financeira, o Sporting deveria preparar-se para mais uma farta dose de esmagadores e históricos sucessos desportivos. Na senda, aliás, daquilo que nos fora prometido pelo pai de todos os projectos, o dr. Roquette. Ele próprio instigador de actividades, mercedoras de avultados investimentos, para as quais, de forma inexplicável mas estranhamente convicta, veio depois dizer que o Sporting não tinha vocação...
Ora, depois de consumada a venda do património não desportivo (e enquanto aguardamos outros coelhos tirados da cartola franquista...) deveríamos estar já todos a ver uma estratégia clara montada para levar o Clube para essa tal nova era de sucesso. Mas, não estamos.
Quando observamos com atenção o universo Sportinguista não conseguimos vislumbrar uma única medida que nos permita antever o que vai ser esse novo período de glória! Cabe então perguntar: o que é afinal a vocação do Sporting? Se não é a gestão de centros comerciais, é o quê? Gestão de défices?
Onde está o resto?
Onde estão, pelo menos, medidas que visem dotar o SCP da necessária infraestrutura organizativa que lhe permita que agora, numa altura em que as condicionantes de ordem financeira parecem controladas, nos lancemos decididamente nos caminhos que a nossa vocação dita? Até agora, como podemos facilmente constatar, parece-me muito sinceramente que a nossa vocação continua a ser traída. Os administradores do Sporting não passam de administradores da massa falida.
Faço votos para que os dirigentes actuais tenham não perdido a noção do que é a vocação do Sporting e que tenham durante todo este tempo trabalhado as soluções de futuro, para além do défice. Faço votos para que as medidas --que já era tempo que todos conhecêssemos-- estejam estudadas e prontas a implementar. Faço votos para que o Sporting, clube desportivo, como rezam os Estatutos, supere o coma financeiro e retome o caminho de "fomento e prática desportiva, tanto na vertente recreativa como na de rendimento."
Sem outros objectivos que não sejam os do preenchimento dos livros diário e razão o Sporting move-se, qual barata tonta, sem saber muito bem para onde vai e o que quer fazer. Os resultados estão à vista.

O Portugal dos Pequenitos

Confesso que o Portugal dos Pequenitos sempre me irritou. Que me perdoe a Fundação Bissaia Barreto, sei que é fonte de abundantes receitas...
Mesmo quando era pequeno aquilo causava-me uma enorme irritação. Se alguma vez tive oportunidade de caber naquelas caricaturas do Portugal edificado não tive disso consciência. Quando passei a ter consciência (sim, não sou nenhum inconsciente!!) já não cabia naquilo. Restou-me a frustração.
Hoje deparei-me com uma citação de Nelson Mandela que me deixou a cismar. Creio que os dirigentes do Sporting a deviam ler e meditar sobre ela muito a sério. Talvez devessem mesmo fazer uma edição em letra dourada, distribuindo-a a todos os sócios, funcionários, dirigentes e jogadores. Se o tivessem feito durante as comemorações do centenário, em vez daqueles relogiozinhos que uns quantos privilegiados têm agora oportunidade de ostentar no pulso, talvez o panorama hoje fosse mais risonho...
Dizia Mandela na sua tomada de posse como Presidente da República da África do Sul (a tradução é mais ou menos livre): "É a nossa luz, não a nossa escuridão, que mais nos assusta. Perguntamos a nós próprios 'O que vou eu ser no futuro? Brilhante? Bonito? Talentoso? Fabuloso?' Na verdade a pergunta deveria ser: o que é que tu não podes ser? És uma criatura de Deus. O facto de te nivelares por baixo não serve o mundo."
Nivelar por baixo é sempre mau. Estamos permanentemente a fazê-lo neste país. É um crime que devia ser punido de forma exemplar. O presidente do Sporting, por exemplo, deveria ser enfiado numa daquelas casinhas pseudo-típicas que o arquitecto Cassiano Branco desenhou para o Portugal dos Pequenitos e ficar lá, com uma televisãozinha muito pequenina, a ver jogos do Clube a que preside. As dores nas articulações iriam decerto fazê-lo lembrar durante muito tempo que nivelar por baixo é uma maldade muito, muito feia!

De regresso..... antes de ler os vossos posts

Resolvi escrever este post sem ler nenhum dos meus queridos amigos cujas opiniões parecem divergir.

Como a polémica é sempre bem vinda, quando vem por bem, cá estamos a fortalecer a nossa dedicação ao Sporting.

Ouvi-os, no entanto, aos dois….

Eu sou pela manutenção do Paulo Bento por muitos e bons anos (quer dizer, muitos porque isso dos bens anos não é coisa que se possa crer com esta facilidade com que se tecla) porque:

Mudar de treinador não resolve o problema da equipa.
Mudar de treinador não permite manter o essencial e alterar o que precisa de ser alterado.

O Paulo Bento continua a falar bem e com consciência das necessidades do clube, tem protegido q.b. o “grupo de trabalho” (seja lá o que isso for).

O Paulo Bento não é do Sporting, mas rodeou-se do pastor e ambos estão a crescer e desenvolver um projecto que muito poucos estão dispostos a abraçar. Quem poderia vir treinar o Sporting? Um grande nome que ao fim de umas semanas perceberia que se tinha posto num projecto falido? Ou se ia embora rapidamente ou ficaria até ser corrido com uma choruda indemnização. A memória dos povos é curta, já se sabe. Mas será tão difícil lembrar os grandes nomes que nos iam resolver ao longo de anos e anos os campeonatos? Tantos e tão bons. Com currículos que venceram ou viriam a vencer em todo lado. Mas fomos campeões com o Inácio. O Inácio é, por acaso, um grande treinador? Não! Mas estava em consonância com as condições políticas e gestionárias que o clube atravessava na altura. Ou não será? De que serve querer mudar o único que tem cumprido o que lhe pedem? Ou não é verdade que lhe pediram para levar este grupo de miúdos o mais longe possível?

Não quero portanto discutir coisas circunstanciais. Ou muda a política ou de nada serve mudar o resto. E este é o ponto que eu gostaria de saber a opinião de todos antes que a Academia se transforme na antecâmara do maior crematório de talentos do mundo – a equipa principal da “nossa equipa do Sprorting”*

* - Há, no nosso blog, quem acredite que somos lidos por directores do Sporting. Se esse for o caso, não se pode calar a rapariga do estádio? E se por uma questão de cunhas (ver público de hoje) não for possível, não se pode explicar-lhe que a nossa equipa e Sporting é uma e a mesma coisa? Como diz o Master: obrigadinhos