sexta-feira, 27 de julho de 2007

Hoje há visão estratégica à Portuguesa

É conhecida a cega sanha persecutória que, de repente, se apoderou do Estado em relação ao futebol. De um "Estado dentro do Estado" que o futebol era, passou-se (passa-se), subitamente e sem que nisso consigamos vislumbrar qualquer intenção estratégica, à fase do "disparar sobre tudo o que mexe!"
Ainda relativamente à transferência do Simão, deixem-me propôr-vos aqui um ponto de vista que contrasta vagamente com aquela que o Black Mamba expôs ontem nos seus Venenos.
Como se sabe, a base de incidência fiscal das remunerações dos futebolistas vai sofrer alterações. O seu valor passará a atingir os 100% (se esquecermos os inúmeros impostos indirectos...) das remunerações auferidas pelos atletas contra os actuais 60%. O objectivo é o de equilibrar o regime fiscal dos jogadores de futebol profissional com o dos restantes contribuintes.
O motivo parece virtuoso, mas, na verdade, estamos perante uma farsa.
O futebol profissional é uma actividade que vive sobre brasas. As dificuldades financeiras dos clubes são conhecidas. O "mercado", como é sabido, encolhe. Os estádios esvaziam-se, as receitas diminuem, há "produto" mas não há vendas e, sem vendas, é dificil manter a porta aberta. Para alguns, como é sabido, a solução é mesmo fechar a porta. O futebol profissional lá vai tendo de inventar mil e uma maneiras esfarrapadas para se ir desenrascando. A Liga revela ser um organismo incapaz de influenciar de forma séria e decisiva o devir destas coisas, mas isso é tema para outra conversa...
O que faz o Estado perante este cenário de debandada e dificuldades?
Aumenta essas dificuldades e promove a debandada! É isto e mais nada que vemos desde que o Estado entendeu meter aqui o bedelho.
Mas, pendura-se de forma absolutamente vergonhosa e indigente no futebol, quando lhe convém, projectando uma ideia de redenção e uma imagem de inocente anjo protector. Ambas falsas. Não é só a indústria futebolística que beneficia de regimes fiscais especiais, mas não vemos o Estado pendurado nas "tribunas" das outras indústrias. Estou certo que nem os seus dirigentes o permitiriam...
Quando vemos uma luminária qualquer pendurada numa tribuna de um qualquer estádio a assistir, emproado e majestático, a um jogo da Selecção, vemos um parasita que beneficia de uma situação que não ajudou a criar. Ou melhor: que ajudou a criar pela negativa e que na realidade está a minar. As selecções, a Federação & compadres são um logro a quem os clubes se vêem obrigados a pagar o dízimo.
O caso dos políticos que assistem a jogos de clubes, esse então deveria ser, na minha opinião, objecto de intervenção do Ministério Público...
A alteração do regime fiscal dos jogadores não resolve o défice das contas do Estado, rouba margem de manobra ao futebol nacional e vai contribuir, estupidamente, para aumentar as dificuldades de uma actividade doente, mas que revela um raro vigor e louvável resiliência no quadro geral da economia portuguesa. Neste seu labor igualitário o Estado está a dar tiros no pé, tiros que ricochetam por todo o lado. A transferência de Simão também tem, pois, de ser vista à luz desta lógica. Como a de Ricardo! De uma assentada perdemos dois jogadores de selecção para Espanha. E depois há quem ache que é o Saramago que não é patriota...
Se alguma coisa os virtuosos do Santo IRS conseguem com tudo isto é perder receita. O estado espanhol, o inglês, o alemão, etc, etc, agradecem. Mas, não retribuem...