quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Quem cala consente

Há para aí uma teoria segundo a qual o silêncio do Sporting, perante o estado de sítio permanente em que vive o futebol português, é prudente, justificado e aceitável. Já aqui manifestei há tempo a minha preocupação por este silêncio. Reitero totalmente o que disse.
Para que não haja leituras transversais sobre a posição do Sporting é absolutamente necessário que a palavra dos dirigentes vá muito para além do discurso, sempre bonito mas inócuo, do fair-play e do mal que vem apenas dos outros. Que aliás é facilmente desmontável pelos nossos adversários e se arrisca a fazer ricochete. Repare-se nas declarações recentes de FSF, por exemplo. Diz que deveria ter sido o Paços a pedir a repetição do jogo com o Sporting e cita dois exemplos de fair-play, ocorridos em Inglaterra, para justificar esta posição. Eu pergunto onde esteve então o fair-play do Sporting no caso do golo não assinalado depois daquela bola defendida dentro da baliza?! Não creio que seja por aí que devamos ir...
Entretanto, o vice-presidente Menezes Rodrigues vem acrescentar que o Sporting quer "mudança" e que são os outros clubes que não a desejam.
Mas, que mudança quer o Sporting? Que programa de mudança propõe? Que iniciativas tomou para o discutir?
É este, tão somente, o silêncio que critico.
Um silêncio feito de fait-divers, defesas de quimeras ou da proclamação de chavões sem qualquer sustentabilidade.
Já aqui disse várias vezes que o Sporting pode e deve ser o motor da mudança da face do futebol em Portugal. Não lhe faltam os pergaminhos, nem a motivação colectiva para poder com toda a legitimidade assumir e reivindicar esse papel. Estou até plenamente convencido que os adeptos do futebol, em geral, veriam esse papel empreendedor com bons olhos. Há um património de princípios e de correcção moral do Clube que o legitimariam totalmente.
Pelo contrário: se a iniciativa de acabar com o crime continuar nas mãos dos criminosos, o silêncio do Sporting corre o perigo de ser intepretado, no mínimo, como uma atitude de complacência, ou mesmo, no limite, como um pacto com o status quo.
Não é este seguramente o arquétipo de Sporting que todos temos nas nossas mentes.